domingo, 16 de novembro de 2008

S03E03

"Uma pequena praça circular, com a grama bem verde, estava posta na avenida. Um caminho cruzava os lados dela, formando uma cruz equilatera. Não havia árvores, mas alguns arbustos decoravam o local.
Alguns bancos de madeira, sem encosto, foram colocados na grama e algumas crianças jogavam bola, em uma alegria tremenda naquela noite quente. Ao olhar para frente podia-se ver a praia. A areia escurecida e as ondas do mar quebrando, fazendo um barulho calmo e sereno.
Marcos sentava exatamente no banco que dava de frente para o mar. Com o olhar fixo no mar, fumava seu cigarro na companhia, meio distante de Renato, Anahí, Roberta e Fabi. Se concentrava no mar pois estava puto e não queria ouvir ou falar com Roberta, que falava frenéticamente sobre os mil e um homens de sua vida, e ele não estava incluso na lista.
- Que foi, hein? - perguntou Anahí se aproximando mais do cunhado.
Marcos sorriu e apenas abraçou-a com um braço, passando-o por detrás dos ombros da menina. Eles haviam feito as pazes algumas semanas antes, afinal, ela era sua cunhada e ele sabia os motivos que ela tinha para não dizer algumas coisas.
- Não é nada, Mi. - Mi era o apelido que ele tinha dado para a menina, pois ele sempre a chamou de "MInha vida", e o apelido acabou pegando. - Só estou meio bodiado hoje, poderíamos fazer algo, né? Ficar aqui ouvindo ela falar me enche a paciência.
- Você ainda gosta dela? - perguntou inocentemente.
Marcos apenas a fitou os olhos. A resposta era óbvia. Não gostava mais de Roberta, sentia um certo repúdio da parte dela, que da mesma maneira rápida que o adorou, o rejeitou. Mas era Marcos e ele não sentia rancor de ninguém, mas não aguentava mais ficar alí, era apenas isso.
Decidiu se levantar e foi andando para a praia. Anahí o acompanhou, correndo atrás dele, gritando para ele a esperar. Roberta fez um comentário desnecessário para Renato, que nem ligou e nem sentiu ciúmes dos dois saírem juntos.
- O que você tem, menino?
- Nada... De verdade! - completou o menino ao ver os olhares irritados da cunhada. - Estou me sentindo sozinho, mesmo que esteja feliz assim e não queira compromisso com ninguém. Estou sentindo falta de alguém me adorar, andar de mão dada comigo, dormir comigo e me fazer cafuné, sabe?
Anahí sorriu e balançou a cabeça. Estavam parados na beira do mar, com a água batendo na canela dos dois, então a menina abraçou carinhosamente o cunhado, bem forte e com sinceridade. Soltou-o alguns segundos depois e então segurou a mão dele, com a outra o fez cafuné e disse:
- Eu te adoro, senhor Marcos. Agradeço muito por ter te conhecido e por você fazer parte da minha vida. Muita coisa do que tenho agora é culpa sua! O Renato, minha estadia no Brasil, minha felicidade todas as manhãs! Só não durmirei com você porque ficaria muito chato, né?
Os dois riram e Marcos ficou muito feliz com a cena que se passou alí na beira-mar. Jamais esperaria algo assim de Anahí, e ficou contente que, apesar da briga infantil dos dois, eles superaram e estavam alí, aproveitando o momento. Marcos sorriu para a cunhada e a abraçou:
- Muito obrigado, cunhas. Por tudo, por você sempre me fazer feliz. Sempre.
Os dois ficaram alí mais alguns minutos, conversaram sobre diversas coisas bizarras, como o mar, as estrelas, as pegadas gigantes na areia fofa, alegaram ser de um Deus do mar. Depois resolveram voltar, Marcos já melhor comprou uma garrafa de vodka e duas de refrigerante. Misturaram tudo e ficaram alí, os cinco, bebendo e conversando a noite inteira.
E ora ou outra, Marcos olhava para Anahí e dizia silábicamente: muito obrigado!"

terça-feira, 11 de novembro de 2008

S03E02

"Marcos não confiava em ninguém, só nele mesmo. Renato era seu irmão, seu melhor amigo, mas ainda precisava amadurecer um pouco, por isso não confiava nele em cem por cento. Anahí, sua cunhada, a quem ele considerava uma grande amiga, não passava de mais uma mentirosa. Marcos estava puto.
Era bem cedo, numa terça-feira, que ele levantou-se da cama e foi para a rua. O sol nem havia nascido, os pássaros começavam a cantar e as ruas ainda estavam desertas, pouco a pouco sendo preenchidas pelos carros e seus faróis cegantes. O frio era absurdamente maltratante, em um inverno fora de época, em pleno outono.
Com seu cachecol e sua jaqueta, Marcos andava pela rua com pressa, sem saber ao certo onde ia e com quem falaria. Acendeu um cigarro e continuou a caminhada, pensando em muitas coisas, mas principalmente em sua cunhada.
A história dos dois era praticamente um filme dramático de adolescentes. Quando Marcos conheceu sua atual cunhada, ele teve uma pequena "quedinha" por ela, achou-a muito bonita, simpática e tentou um romance, porém a menina era o tipo de garota durona, daquelas que não amavam amar e tinham pavor da palavra romance. Marcos prometeu à ele e à si mesmo que mudaria esse jeito dela, que a faria mudar os pensamentos e que a faria se apaixonar. A idéia, até então, era ela se apaixonar por ele, mas o jogo virou e as cartas foram para na mão de Renato.
Certo dia, Marcos apresentou o irmão à amiga e eles acabaram se apaixonando e se tornaram um casal. Mas naquele momento, Marcos já estava com todos os seus pensamentos em Stela, e não se importou e até ficou feliz com a união dos dois, se tornou um grande amigo de Anahí, que um dia disse que confiaria até a vida no cunhado. Mas era mentira.
Enquanto ele confiava tudo à ela e contava tudo, ela omitia as coisas mais simples para ele, e isso o chateava. Ele não aceitava uma amizade assim, se é que ele poderia chamar aquilo de amizade.
Continuou andando até chegar em uma casa, tocou a campanhia e uma menina abriu a porta, sorridente e o abraçou. Ele retribuiu com um forte abraço, ainda na calçada, e a chuva começou a cair em sincronia com o nascer do sol."

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

S03E01

"O céu estava preto azulado, sem nenhuma estrela no céu. As nuvens nublavam acima, sem deixar vestígios de alguma estrela. Uma pequena praça deserta se encontrava no meio da rua, com alguns postes iluminando certos pontos, folhas secas pairavam sobre o chão de concreto e algumas árvores faziam juz ao nome praça.
Um pequeno muro, com dois pés de altura, foi levantado em círculo, cercando uma grande árvore, no centro da praça. O chão de terra estava coberto pelas folhas e Marcos estava alí, sentado, vestindo sua camisa preta, com as mangas dobradas até o cotovelo, sua calça jeans justa e seu tênis. Nas costas, sua mochila e na mão, seu cigarro.
O vento assobiava entre os galhos das árvores, movimentando as folhas de um lado para o outro. Marcos não sentia frio, estava muito concentrado, olhando fixamente para a casa que estava na sua frente, verde de portões chumbo, fumando seu cigarro gradativamente, sem temer a escuridão das ruas a sua volta.
Fazia dois meses que não tinha contado com nenhuma de suas duas meninas. Stela arranjara um emprego novo e mudou o período da faculdade, frenqüentando-a apenas pelas manhãs, dificultando os encontros com Marcos pelos corredores do prédio, o que, de fato, o deixava mais tranqüilo, pois ele não queria mais saber de Stela, era uma página virada, em branco.
Sobre Roberta, Marcos preferia nem tocar no nome dela. Não sentia mais toda aquela paixão que sentira no começo, perdeu o tesão, dizia ele. Viu que ela não era o tipo de menina que ele procurava, pois ele queria algo sério, alguém para estar com ele, e ela só queria curtir. Desde a festa, que Marcos a deixou em casa, nunca mais falou com ela, não ligou, não marcou encontros, nem nada do gênero.
Após pensar um pouco na vida, Marcos levantou-se e jogou o cigarro no chão. Olhou para o céu, em meio aos fios elétricos e sentiu um pingo d'água cair em seu rosto. Secou-o e acendeu outro cigarro, e sentou novamente.
Estava feliz do jeito que estava alí, sozinho. Ele gostava de ter o tempo dele, o tempo para pensar, refletir o que a vida o trouxe de bom e ruim até aquele momento. Pensava no como foi tolo ao se entregar em duas relações amorosas que mal chegaram a acontecer e isso o irritava muito, pois não gostava de ser assim.
O celular tremeu no seu bolso e interrompeu seus pensamentos, era Renato ligando.
- Faz meia hora que tô aqui, cara. Vem logo.
Desligou o celular e tragou seu cigarro. Uma chuva fina começou a cair, então sentou-se na mureta e alí ficou."

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Is this...?

O tiro foi dado e um rápido coelho começa a correr. Em sua cola cães de corrida famintos correm em velocidades exorbitantes atrás de uma recompensa, correm como nunca correram antes. Ao mesmo tempo você pode sentir o batuque de uma bateria inteira de escola de samba ao seu lado, sentindo cada batida nos pontos vitais de seu corpo.
As suas pernas amolecem feito gelatina, sua mão sua e você mal consegue achar uma explicação do suor, pois a temperatura ambiente é de 10ºC e o vento está cortante. A hipnóse foi feita e seus olhos estão vidrados, olhando fixamente para o mesmo ponto. Você fecha os olhos e sempre vê a mesma coisa.
O ar é rarefeito e você pode ter certeza que você está no pico da mais alta montanha ou ainda metros, quilometros de distância abaixo do nível do mar, o que parece ser muio estranho, pois em ambos os locais, você sentiria frio, mas o que você sente é o seu sangue esquentando cada célula que compõe a sua derme e epiderme.
Enfim o cérebro transmite a imagem para seus olhos e você vê o que está em sua frente e todos os sintomas descritos acima desabrocham em seu corpo inteiro.
Termino o post perguntando, à voz de Bob Marley:

"is this love, is this love, is this love
IS THIS LOVE THAT I'M FEELING?"


Obrigado.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Faz parte do meu show...

"Há um mundo ao redor que a gente nem percebe."
Não sabemos quem é a pessoa ao lado da gente, sentada no ônibus. Não sabemos o nome, qual a profissão e muito menos se ela é ou não uma assassina. O que nos faz pensar que sabemos muito, se mal conhecemos quem está ao nosso lado? Vivemos e morremos egoístas, pensando e vivendo o nosso mundo, sem pensar o suficiente no próximo, olhando apenas para o nosso mundo e quem está nele, deixando de lado o que está ao redor.
*
"Sou muito sincero e às vezes até me arrependo disso. Se estou batendo um papo com um jornalista, eu estou sendo eu o tempo todo. Não tenho uma armadura..."
Há sempre os dois lados da moeda para tudo. Sempre digo que toda qualidade agrega um defeito, e vice-versa. Se temos como qualidade a bondade, temos o defeito de sermos ingênuos demais de tão bons que somos. Sou muito sincero no que digo, penso e faço e sei que nem sempre é o melhor a se fazer. Não uso armaduras, nem máscaras, mas estou aprendendo a deixar algumas coisas omitidas, desfarçando entre uma pincelada e outra da minha história...
*
"Eu tenho vários lados. O lado escuro é um lado muito forte, porque sou muito boêmio, vivo muito de noite. Gosto muito da noite, acho que ela é um espaço, um território livre para tudo."
Sou receptivo para vários ambientes, mas o ambiente noturno me facina. Se pudesse trocar a noite pelo dia, faria isso sem pensar. Ando levando uma vida boêmia, não daquelas de beber, mas de sair, desfrutar as ruas mais desertas. A noite é o momento em que as pessoas se libertam, tiram a máscara que usam nos trabalhos e acabam sendo elas mesmas, por inteiro.
*
"Sempre tive horror de política, mas tem coisas que você não precisa saber, qualquer burro vê."
Preciso comentar? Quem me conhece sabe que a política para mim é uma página em branco, para sempre. Voto nulo mesmo, pois não acho correto dar voto para um ladrão que no caso é todo político ou pessoa envolvida com esse tipo de quadrilha.
*
"Tenho a fantasia de ficar para sempre com uma pessoa só, ter filhos, constituir família."
Tenho o sonho de poder chegar em casa, após um cansativo dia de trabalho e ser recebido por minha filha, que sairá correndo do seu quarto com sua boneca nas mãos, gritando "Papai" ao ouvir a chave girar na fechadura. Entrar na sala e ver que minha esposa está no sofá, descansando depois de um também cansativo dia de trabalho, seja em casa ou no escritório, não tenho a escolha machista de ter uma mulher dona de casa. E construir essa família, dar a base necessária para meus filhos, poder dar diversão e segurança para eles.

"Nunca passou pela minha cabeça ter uma imagem. Nunca procurei isso..."
Não procuro ser alguém para os outros. Eu sou Thiago Klein para Thiago Klein, e não Thiago Klein para a sociedade. O que sou, como sou e como ajo são as maneiras que, penso eu, são as melhores para mim. Julgo-me uma pessoa transparente, mas que não fala muito sobre eu mesma.
*
"Ao contrário de todo mundo, que fica se ressentindo 'porque ela me deixou, não sabe o que perdeu', eu não tenho medo de dizer: Eu é que fui covarde e babaca."
Não sinto-me envergonhado de errar. Sou um eterno errôneo na arte de amar, mas a cada romance, um novo aprendizado. Me torno mais maduro e experiente e acabo por pensar que, quando vejo o merecimento, que o amor não deu certo pelos meus erros. Alguns eu até tento o conserto, outros eu deixo onde estão, afinal, eu não posso criar ou ser criado nos moldes alheios. As pessoas têm que gostar de mim pelo que sou.
*
"Sinto pouco o desejo de vingança. Sou muito critão nesse aspecto, no sentido da compaixão, da piedade, tenho pena das pessoas. Quando alguém me sacaneia, penso: 'coitada daquela pessoa'. Não estou dando uma de grandioso, mas não sinto vontade de me vingar..."
O desejo pela vingança remete ao ódio e à infantilidade. Existem motivos para as pessoas quererem meu mal, mas eu não uso esses motivos para querer uma vingança. Até quero descobrir os motivos, mas para tentar revertê-los, quando eu achar necessário.
*
"Sou muito animado, para sentir tédio!!! Sou animado à beça, qualquer coisa me anima. Se você me convida para ir na Barra da Tijuca, eu te digo logo: 'Vaaaamos!!!'Qualquer besteira me anima."
Se você quer sair em um final de semana e não tem companhia, pode contar comigo! Estou sempre por aí, querendo sair, sociabilizar e conhecer gente nova. Sou tímido, mesmo não parecendo, mas animado demais. Uma simples reunião de três pessoas em algum lugar é o suficiente para eu correr pro chuveiro e me arrumar.
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"Para mim, o amor é o contrário da morte. Por isso não tenho medo de morrer. Eu estou amando."
Estou sempre amando, o que me faz pensar apenas na vida que tenho e que poderei ter ao lado das pessoas que amo. Amo viver, amo amar e amo aqueles que me querem bem. Não penso em morrer e penso que amar é viver. Para mim, o amor é o contrário da morte também.
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"No geral eu gosto de dar entrevistas. Gosto de falar, sou falastrão."
O tamanho do post já diz a semelhança com a frase acima.
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"Eu tenho um lado que leva as coisas muito a sério. Eu pareço ser uma pessoa que não leva nada a sério!"
Sempre levando as melhores (e piores) maneiras com um bom humor, acabo transmitindo a idéia de um moleque, que não leva nada a sério. Diferente do que alguns pensam, eu sou alguém com bom humor e cabeça. Sei o que acontece com o mundo, entendo os problemas dos outros e sei como enfrentar os meus próprios. Talvez seja um escudo protetor, esse meu excesso de bom humor, mas garanto que se você precisar de alguém para conversar, chorar e ouvir conselhos, eu estarei aqui, sem fazer piadinhas e confortar, até onde for plausível e necessário.
*
E viva Agenor de Miranda Araújo Neto, o Cazuza. Um poeta que conseguiu enfrentar, à sua maneira, grandes empecilhos em sua vida, e até hoje encanta os ouvidos e o coração da sua, da nossa e das próximas gerações.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Palavras... palavras

Dê um sentindo pra sua vida, ou então virará escravo dela.
Você pode amar uma ou dez pessoas, desde que ame sempre e mais intensamente o reflexo que vê todo dia no espelho.
Ainda quero conhecer alguém que tenha entendido o ser-humano por completo e vou querer as respostas para todas as minhas perguntas.
O grande erro do homem é ensinar às crianças que o ódio existe.
A mentira bem contada é a verdade mal mentida.
Fingir é a melhor fuga para a realidade.

domingo, 2 de novembro de 2008

De volta à realidade (pelo menos até o fim do post)

Pois é, mais um fim de temporada das grandes peripécias de Marcos, com aquela grande emoção de sempre, quem ainda não leu, leia, começa no post chamado PARTE I e não sei para quem estou dizendo isso, levando-se em conta que só existem talvez de três a quatro pessoas que visitem este humilde diário e lê, frequentemente, as minhas idéias malucas.
Explicarei um pouco sobre o título do post desta belíssima madrugada. Voltando à realidade significa deixar o "seriado" um pouco de lado, voltar a escrever em NÃO-Itálico e falar sobre coisas, diga-se de passagem, reais. Não que a história do Marcos seja algo absurda, pois tento me apegar ao máximo à chamada realidade de razões e emoções.
Enfim, o "pelo menos até o fim do post" entre parentêses entra num âmbito onde eu começarei a falar sobre o assunto que quero hoje, neste, já dito antes, humilde diário e começarei a viajar.

Se existisse algo no mundo inalimentício (acho que acabei de inventar essa palavra) que nos fizesse sobreviver, ou seja, algo que não faz parte das nossas necessidades fisiológicas para sobrevivência, tais como comer, beber, respirar, transar e amar, eu optaria pela opção de poder sonhar.
Sonhar é algo que vai além de meras explicações, pois não existe definição completa e plausível que encaixe nos pensamentos alheios em sua semelhança. Complicou a cabecinha pensar nisso? Eu vou mais longe então.
Sou um típico sonhador por natureza, adoro viver as duas vidas que tenho: a real e a dos sonhos, sempre tentando fazer com que a vida que tenho hoje se assemelhe ao máximo com a vida dos meus sonhos. De uma coisa tenho certeza, todos, sem uma única exceção, sonhamos na busca pela perfeição, mas como disse anteriormente, cada um tem sua própria perspectiva a respeito disso.
Sonhar é algo digno, transpõe a idéia de sentimento e passa longe de ser um simples verbo transitivo indireto (se não me falha a memória das regras gramáticais). Sonhar, para mim, é viver, ainda mais em um mundo como o que vivemos, onde todos sabem o que acontece, onde a fome (assunto já discutido no meu blog), a miséria, a pobreza, a violência e a desigualdade (idem ao último parentêse) andam lado a lado, como uma grande gangue. Ninguém em sua sanidade mental controlada viveria nesse mundo enxergando o mesmo.
Por isso eu prefiro me sentar, seja onde for, acender o meu cigarro (ou não, quem sabe, espero), olhar as estrelas e sonhar... Sonhar em como seria belo se a vida fosse vivida. E não desperdiçada.


Obrigado!

sábado, 1 de novembro de 2008

Season Finale

"Após uma eternidade, sexta-feira estava aí. Marcos planejou passo a passo como faria para tentar falar com Roberta, sem amedrontá-la, sem deixar ela fazê-lo de cachorrinho dela também. Renato acabou desistindo de ir, pois tinha que jantar com pessoas do trabalho, mas deixou Anahí ir, contando com os olhos bem observadores de Marcos nela.
Separou sua roupa, tomou um belo de um banho, se ajeitou e foi para casa de Fabi, onde estariam as duas o esperando para irem para a festa. Marcos estava nervoso, fumava um cigarro atrás do outro para tentar conter os nervos que estavam praticamente pulando pela sua pele.
A festa estava acontecendo na casa de Katarina, uma amiga das meninas, conhecida de Marcos. Uma casa com um salão grande, onde fora instalado equipamentos de luzes, uma mesa de som do DJ e na cozinha estavam baldes e mais baldes de cerveja. O menino passou rapidamente pelo salão e foi pegar uma cerveja para ele e as meninas, e então voltou para o quintal.
A noite estava fria, gélida e obscura, mas tudo parece ter mudado depois que viu sua princesa lá fora. Vestida com uma calça preta e um vestidinho xadrez, com os cabelos loiros soltos, Roberta estava alí conversando com as duas, sorridente, tomando uma cerveja. Seus olhos verdes radiavam o local e era difícil algum homem que passasse por elas e não notasse a beleza rara da menina. Marcos respirou fundo e caminho até elas.
A cena repetiu-se muitos momentos na festa, e Marcos lembrava-se dela como um fanático por futebol relembra os títulos ganhos pelo seu time que foram assistidos. Roberta parou de conversar com as meninas e olhou para Marcos, abriu um sorriso que só ela podia dar, com os dentes bem expostos, numa felicidade sincera e soltou os braços no garoto. Dizia que estava com saudade e que estava feliz por ele estar bem, sem soltá-lo um instante sequer. Marcos tremia por dentro, não sabia como estava a cena por fora, mas em seu interior os órgãos se rebatiam em uma festa tremenda. Ela estava feliz por ele estar alí.
- Preciso falar com você. - disse a menina olhando, com seus olhos verde esmeralda, nos olhos de Marcos. - Você vai se arrepender se não ouvir.
O coração de Marcos parou, e então acelerou rapidamente, como um carro que saí cantando pneu em uma corrida candlestina. Abraçou-a e ela falou no seu ouvido:
- Você é foda, Má! - começou ela sussurrando no ouvido dele. - Você tem sido um cara muito importante para mim, suas mensagens no meu celular, orkut, os depoimentos, tudo me faz chorar sempre que vejo, você é um amigo que...
- Eu não quero ouvir isso, Rô. - interrompeu Marcos. Ele não queria ser amigo dela, não queria que ela o visse como amigo. Ele tentou de diversas maneiras mostrá-la que ele estava alí, para ela, sempre, mas não só como um amigo. - Você sabe que não é só isso, para mim...
Roberta o soltou e o olhou profundamente, como quem gostaria de dizer algo apenas com o olhar:
- Você sabe que você é para casar, Má! Eu sei que você é para casar...
Marcos bombardeou seu coração de alegria e sorriu, depois de muito tempo sem sorrir, numa felicidade extrema:
- Quer saber algo engraçado, mas que é a verdade? - disse ele a abraçando. - Você também é para casar...
Roberta o abraçou bem forte, calorosamente, e então, em uma complicação de ambos, foram se beijar no rosto, mas parte do canto do lábio de Roberta pegou nos lábios de Marcos. O silêncio veio à tona e eles não se olharam mais, cada um foi para seu canto. Mas antes de ir, o menino tentou pegar na mão de Roberta, que apenas disse:
- Não, Má. Você é só daqui dez anos...
*
Após beber muito, Fabi começou a passar mal, impossibilitando Marcos de ir atrás de Roberta, para poder cuidar da amiga, junto de sua cunhada. Ele estava puto da vida, pois Roberta não estava dando muita atenção para amiga e estava falando com um cara que tinha conhecido na festa, o que piorava a raiva de Marcos.
Em um certo momento da noite, Marcos foi buscar água na cozinha para Fabi tomar e não achava um copo limpo. Saiu para a parte de trás da casa, na procura de um copo plástico. Aquela área era simples, com um pequeno tanque onde estavam as cervejas para gelar, engradados de refrigerante e cerveja no chão e, mais para o lado, um pequeno corredor escuro. Marcos cochichou consigo algo sobre não estar achando nenhum copo e ficou em silêncio quando viu o que jamais gostaria de ter visto.
Roberta estava de costas para a parede do corredor escuro, dando uns amassos no garoto que estava conversando com ela, e nem notou a presença de Marcos alí.
O mundo girou ao contrário, a terra desprendeu a gravidade e Marcos flutuava, alí, perante todas as pessoas. Engoliu um seco, fechou os olhos e foi para o quintal da frente. Sua mão tremia enquanto ele pegava um cigarro e tentava acender, seu coração estava dolorido, machucado e estraçalhado. Sentou no chão, longe de todos, e começou a fumar compulsivamente. Era um otário, um babaca e não conseguia pensar em mais nada do que isso. Com tanta experiência nesses casos, não acreditava que caíra mais uma vez. Ninguém é perfeito mesmo, pensava ele.
Apoioi sua cabeça nos joelhos e alí ficou, pasmo com a vida. Ele merecia aquilo, por ter sido um inútil, por ter sofrido um acidente e ter dado brexa para Stela estragar sua vida, mas depois pensou que, talvez, a conversa que Roberta queria ter com ele no dia do acidente era apenas um ombro amigo que ela precisasse, e ela considerava Marcos apenas e somente isso. Uma lágrima escorreu pelos seus olhos.
- Que foi menino? - uma voz saía de trás dele. Era Anahí, sua cunhada, percebendo a tristeza do menino. Marcos olhou para ela com os olhos cheios d'água e então ela tinha percebido o que era. - Não fique assim... Ela é assim, ela quer curtir, te garanto que uma hora ela cansa e vai querer ter alguém assim como você.
Marcos abraçou sua cunhada. Adorava ela, e ela o fez mais feliz durante o resto da noite. Os dois fizeram companhia um ao outro a noite inteira, pois os dois estavam sem seu "par" na festa, o que deixou o menino mais feliz e ele acabou por nem pensar direito na sua princesa.
Na hora de ir embora, Marcos deixou Fabi e Anahí na casa da primeira, pois a cunhada iria dormir lá e deu carona para Roberta até sua casa.
No caminho ficaram conversando sobre outras coisas, sobre ter família, filhos, quantidade de fihos, nome de filhos, entre outras coisas, mas Marcos nem chegou a comentar sobre o fato que ele sabia que tinha acontecido.
Entrou no condomínio de Roberta e estacionou o carro na frente da casa dela.
- Obrigada, Má. - Roberta o agradeceu com um beijo super longo na buchecha e abriu a porta do carro. Ao fechar a porta, o garoto desceu o vidro e falou:
- Durma bem, Rô. A gente se vê daqui dez anos.
Sem fechar o vidro, nem nada, partiu com o carro e foi embora. No carro tocava You and Me do Lifehouse, e Marcos seguiu para sua casa, novamente sozinho. Estava cansado disso, mas ele não deixaria mais uma escapar dele. Ele estava verdadeiramente apaixonado."