sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Pensamentos que flutuam por aí

"Família é bom e estar em família é ótimo. Mas vários dias seguidos enchem o meu saco. Eu gosto de tempo, das minhas coisas, cuidar de mim e estar sozinho."

"Eu nunca fui muito de ligar para o que os outros pensam de mim. Na maioria das vezes, eu não meço as próximas palavras por causa de alguém. Eu falo e deixo que meu caráter, posteriormente, mostre que talvez eu não seja tão insolente quanto pensam."

"A elite critica o Lula. O pobre, idolatra. A classe média se divide: os humildes até falam bem, os aspirantes à classe alta gostam mesmo é de meter o pau. No final, eu não entendo nada e voto nulo."

"Não adianta dizer que não sou preconceituoso. Eu não tenho raiva de pobre, não tenho medo de negro, não tenho nojo de gays. Mas, ainda assim, eu não encontro a paz de viver em sociedade."

"Fazer filosofia não significa estar quatro anos dentro de uma sala de aula. Conversar com objetivos e chegar em algum lugar com ela é encontrar as razões ocultas por trás das emoções. Conversar sobre nada, idem."

"Me perguntam o que eu faço no trabalho. Eu respondo: escrever. As pessoas acham isso tão estranho, enquanto eu acho tão empolgante."

"Você pode até falar mal do seu pai e da sua mãe. Pode ter intrigas e até mesmo pensar que os odeiam. Mas no fundo, todo mundo sabe que eles são a maior fonte de amor que um ser humano pode herdar."

"Eu não sei ao certo o que acreditar sobre Deus. Acredito muito mais numa força noética, no pensamento positivo e no poder do ser humano, do que em uma força divina. Mas mesmo assim eu não deixo de rezar algumas noites, antes de dormir."

"Já tive vários amigos na minha vida. Muitos vieram e se foram, bem poucos ficaram. Eu não ligo de ser assim, reciclável. Para mim, a amizade pode ser verdadeira por segundos e o sinônimo de grandes amigos não pode ser atribuído ao tempo de amizade, mas sim à intensidade e respeito entre os indivíduos."

"Eu sou assim. Eu penso demais e não tomo muitas atitudes. Eu levo a vida como um jogo de xadrez: raciocino muito antes da próxima jogada. Só que as vezes, como um péssimo jogador, me stresso rapidamente e faço movimentos errados."

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Um resumo de 2009

É bem clichê dizer que o ano de 2009 passou rápido, voando, mas é uma realidade. Uma realidade bem clichê, porém continua sendo uma realidade.
E pensando vagamente todos os acontecimentos do ano, resolvi fazer um post flash back, com alguns votos no final dele. É claro que se eu for detalhar tudo, teria que dividir o post em 3 ou 4 partes, por isso tentarei ser breve.
Os parágrafos abaixo são um livro aberto, se você for citado (deixando claro que não citarei todos os nomes) e não estiver feliz com isso, infelizmente eu não tenho culpa de ter você como parte importante da minha vida para ser citado.

"2009. Dois mil e nove, um ano que com certeza mudou a minha vida, um ano que me fez mudar internamente, rever alguns conceitos e preconceitos, meu jeito de agir, meu jeito de pensar e ser.
Ao começar o ano pelo meu terceiro e penúltimo (ufa) ano da faculdade. Conheci uma garota que dizia ser lésbica e, não sei bem porque, comecei a gostar dela. Pensava que estava louco, mas não bastou muito tempo para iniciarmos um romance que talvez fosse dar certo. Foi bom? Foi, mas por pouco tempo.
Após ser traído por ela com uma menina, ironia do destino, terminamos o que teria tudo para dar certo. Tudo? Hoje eu sei que não. Além de eu ter percebido que ela não era realmente tudo aquilo que pensava, ela nunca fora de confiança, nunca prestou e até ficou com o, até então, meu melhor amigo.
Melhor amigo esse que já tinha me "talaricado" outra vez no ano anterior. Pera aí, uma vez a gente até passa. Mas duas? É, meio difícil. Mas sem problemas, o motivo maior de ter parado de considerar o meu, até então, melhor amigo foi o fato de perceber que ele estava mais preocupado em sair para fumar uns baseadinhos comigo do que estar comigo para se divertir em si.
Esse tipo de coisa dói, éramos praticamente irmãos, mas graças a isso, no final de 2009 eu posso afirmar que tive a oportunidade de conhecer grandes amigos especiais. E esses eu cito o nome com o maior prazer: obrigado Tadeu, Mariane, Shuu, Kaléo, Patrick, Paula e Fagaraz.
Esse ano foi um ano de mudanças. Mudanças de sala, mudanças de amigos, mudanças no caráter e até mudanças de casa. Deixei meus pais e minha irmã para ter uma vida mais, hum.... prazerosa. Não no sentido libertino da palavra, mas sim por estar mais perto do trabalho e da faculdade. Em 2009, eu amadureci.
E também teve mudanças na vida profissional que não se limitam apenas ao final deste ano. Após uma longa batalha na área de mídia, deixei aqueles velhos guerreiros numerais para trabalhar com o que realmente tenho paixão: textos. Entrei para a área de conteúdo da F.biz, onde conheci uma tal de Eloisa Vasconcellos, uma redatora que tem um potencial enorme e é uma pessoa muito boa. E foi graças à ela que hoje estou aqui. A área sucumbiu e virou Mídias Sociais, com novo chefe, nova filosofia e novas maneiras de se trabalhar.
Completei 1 ano de agência, um ano! Se fosse em 2008, eu jamais pensaria que isso seria capaz, mas foi, estou há mais de 1 ano e em 2010 a promessa é de que eu fique focado em redação publicitária. O primeiro objetivo da minha carreira profissional está cumprido.
Finalmente, após 3 anos de faculdade, eu fiz um grupo que realmente era um grupo. Unido muito mais pela qualidade do que pela intimidade dos integrantes, reunimos as competências singulares de cada um e mostramos para todos do que somos capazes. Mas muitas brigas, muita encheção de saco e muita putaria alheia me fez querer mudar de grupo. E foi o que fiz: no fim de 2009, me despedi da Caro Watson para buscar novos horizontes na Academia.
Deixei de amar o vestido, que para os que não sabem se chama Thaisa Frutuoso. Mas, aos 30 minutos do segundo tempo, eu me apaixonei por outrem. Ela foi fofa, ela foi linda, ela foi perfeita e simpática. Estava cego e ela compromissada, depois ficamos os dois confusos. Trocamos mensagens, ligações carinhosas durante a noite, palavras de afeto. Ouvi da boca dela que ela estava apaixonadinha por mim e eu fui do chão ao céu em segundos. Acordei na manhã de um domingo com uma mensagem dela, dizendo que não queria mais chorar por se sentir culpada, que era para EU parar com as mensagens e com os afetos, para EU desistir dela.
Missão cumprida.
E outra coisa muito engraçada e que fico feliz de ter acontecido este ano, logo aos 30 minutos também, foi a volta de uma pessoa que eu não falava fazia tempo. Nossa história é complicada e resumindo bem é: nos conhecemos, confudimos os sentimentos e pensamos em ficar juntos, mas namorávamos, os dois. Deixamos isso de lado e nos esquecemos. E dois anos depois, por acaso do destino, nos lembramos e voltamos a nos falar. Isso me deixa feliz, porque além da Tamiris ser uma menina que faz parte dos 3% das mulheres, ela me entende e sabe como eu me sinto, até mesmo na relação de ser redator publicitário. Obrigado pela chance de eu tê-la de volta, Gêniozinha.
Em 2009 eu li muito, eu vi muitos filmes, passei muitas noites em claro, fumei muito, bebi muito, chorei pouco, ri muito e conversei muito.
Dois mil e nove chega ao fim com um novo Klein, uma nova maneira de pensar e ver o mundo. Eu cresci, eu acho. Mas nem cheguei aos pés do que realmente deveria ser para beirar a perfeição.
Minha luta continua para 2010, 2011, 2012 e.... bom, aí para, pois dizem os mais loucos que esse é o ano que o mundo acaba.
E para quem leu tudo ou está lendo só essa parte, ou passou por aqui sem querer, eu só tenho que desejar toda a felicidade do mundo para todos. O clichê do começo do post volta agora para o final: que o Natal seja ótimo e que o Ano Novo seja repleto de realizações.
Poderia usar e abusar do que sei fazer melhor: usar de belas palavras para desejar tudo isso para 2010. Mas eu creio que a simplicidade nos meus votos são mais receptíveis e tangíveis.
Muito obrigado, 2009. Agora vai, que de você eu já estou cheio.

Beijos,

Klein"

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Gira gira

A Terra dá a volta em torno do seu eixo em vinte e três horas, cinquenta e seis minutos e quatro segundos, enquanto leva trezentos e sessenta e cinco dias, cinco horas, quarenta e oito minutos e quarenta e seis segundos para contornar todo o Sistema Solar.
Essa quantidade de números, horas, minutos e informações me fez pensar e a única conclusão que tive é tão clichê quanto o momento que estou vivendo:

O mundo dá voltas e, uma hora ou outra, você vai voltar para o ponto em que iniciou.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Já faz tempo que eu quero, mas nunca tive chance de dizer...

Você foi sempre tão amiga, tão sincera, tão carinhosa. Me afagava em seus braços ternos e podia sentir todo o amor que enlaçava o meu pescoço em cada abraço seu. Você me deu amor, me deu tudo o que tenho e sou hoje.
Você me ensinou o que era sentir, o que era olhar e, também, o que era sofrer. E sentava na minha cama pra me ver chorar, acalmando os meus ânimos com as carícias, torcendo os meus cachos com sua mão leve e macia.
Você me mostrou o que é ser forte e me ensinou a erguer a cabeça. Te agradeço eternamente por isso, ainda mais que tenha usado muito disso contra você mesma, seja pelo episódio daquele primeiro cigarro, seja pela paciência perdida e a culpa toda colocada sobre suas costas, por mais que ela não fosse nem um pouco sua.
Já quis te bater, já quis te deixar, já quis te ignorar, mas nunca quis te ver morta. E sempre dou aquela risada gostosa ao lembrar dos passeios de carro pelas ruas tranquilas, dos problemas enfrentados com seu senso de humor e até mesmo daquela briga no quarto que se iniciou por algum motivo que não nos lembramos mais.
Seu ombro sempre esteve lá para enxugar as minhas lágrimas e encontrei a confiança até para dizer coisas que nunca disse a Deus. E nem vamos entrar nesse assunto, de Deus, pois eu sei que é seu maior fracasso perante a minha pessoa. Pois saiba agora que você está enganada.
E por fim eu te deixei, mas nunca deixei mesmo de me lembrar de ti. Te deixei e ainda ligo, ainda choro e desespero. Claro que não é sempre, mas sempre que paro, geralmente nos momentos mais tristes - o que me faz sentir egoísta - eu sinto uma saudade enorme de tudo que passamos.
Já disse milhares de coisas para você, entre elas que te odiava e que não falaria mais com você. Mas nunca disse que te amava. Então, pensando em tudo isso em uma caminhada de menos de dez minutos, eu te falo:
Mãe, eu amo você.

!

Estoura, entoa e enjoa. Magia, magina, mentira. É sabor de amor e fervor. Faz na alma, diz que fala pra calma.
É começo e tropeço. É estado fadado. É desejo sem medo. É silêncio calado.
Dores, cores e flores. Presentes, carentes, decentes. Sorriso no rosto, no beijo e no abraço. No farol vermelho, vencido pelo cansaço.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

São cores...

Não faça com que as cores da vida caiam na rotina do preto e branco.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

São dois, os três dos quintos.

Parede de vidro. Um pouco de pó.
Blindado de prata, de ouro e de bronze.
Dura feito pedra quente no calor.
É ver, é crer e ter. É tudo, menos sabor.

Escada, almofada e um rodo molhado.
Ladrilho e cimento. Um balde com água.
A chuva caindo, lavando e regando.
As flores sorrindo, molhadas, cantando.

A bola de neve, o favo de mel.
Abelha, raíz e uma folha do céu.
Da toca, raposa confude com urso.
O chão todo limpo. Um teto imundo.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

É personagem

Essa imagem no espelho não é minha. Reflexo de ilusão.
Deito o rosto na pia e dou um banho na alma, acordo os olhos solenes.
Me olho novamente. Não me reconheço novamente.
Dou uma volta pela casa, sento no sofá e faço um café.
Rolo no tapete, passo a roupa e lavo a louça.
Volto ao banheiro e ainda não me reconheço.
Tomo um banho completo, faço uns telefonemas e escrevo algumas passagens.
Fumo um cigarro, depois outro e começo a pensar o que me acarretou isso.
Dobro o colchão, desligo a tv e queimo duas páginas inteiras.
Jogo meu livro preferido janela abaixo, subo ao décimo andar na corda bamba.
Faço a barba, raspo o cabelo, passo um perfume e me olho no espelho.
Sem caráter, sem histórias, sem rumo.
É personagem e tão somente será, enquanto viver para explicar e reconhecer as metas da vida alheia.

Sobre aquela festa de ontem

Foram 1 ano e quase 1 mês de agência F.biz. Foram 10 sexta-feiras regadas a muito refri e bolinhas de queijo e outras três regadas com pizza, baguete e Campari.
Foi uma churrascada em um sítio com direito a troca de presentes no fim do ano passado e ontem foi dia de festa. Mais de 100 pessoas, umas chegando cedo, outras chegando tarde e os mais introvertidos ainda nem apareceram. Para a grande maioria, uma festa de fim de ano, mas para outros ainda era a festa de despedida ou de boas vindas. Cada qual com sua proposta.
Alguns casais marcaram presenças, outros casais tentaram ser formados, mas o mais importante foi a união. Administrativos, planejadores e criativos. Gerentes, assistentes e estagiários. A panela dissolveu e todo mundo se falou bastante.
Os mais descolados beberam caipirinha, os mais simplistas, cerveja. E teve gente até que foi de risotinho e coca cola. Ouvi rumores de quatro jovens peregrinos que andaram quilometros para se chegar a tão falada festa de fim de ano, mas é claro que repousaram de taverna em taverna, bebericando aqui e ali, para aguentar a caminhada.
Teve gente que bebeu demais, teve gente que dançou demais e teve gente que fez de tudo um pouco, inclusive uma demonstração de como não ter vergonha dos colegas de trabalho e dançar num palco improvisado.
E para quem achou que a festa acabaria 2 horas da manhã, alí na Gomes de Carvalho, perdeu (na verdade, muito provavelmente esqueceu) o pós festa. Tudo bem, eu também.
Teve muita coisa e faltou pouca. Só não teve briga, o que vai mostrando, cada dia que passa, que trabalhar aqui até que é saudável.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Anarquia geral

A sociedade ensina à você o que vestir, como andar, como se portar diante dela, o que falar, o que é certo, o que é errado e, acima de tudo, o que é viver.
A vida, por outro lado, nos ensina que tudo que a sociedade faz é mentir.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

É, não é, não sei.

É dia e noite. É calor e frio. É feio e bonito. É alto e baixo.
É assustador e inofensivo. É angustiante e calmo. É vida e morte.
É feliz e triste. É anseio e decepção. É claro e escuro. É transparente e nebuloso.
É quente e gelado. É chuva e sol. É ele e eu. É carinho e raiva.
É um e dois. É medo e calma. É nervo e calma. É brilho e opacidade.
É seco e molhado. É preto e branco. É cinza e colorido. É velho e novo.
É moderno e retrô. É novidade e rotineiro. É homem e mulher. É e não é.
É hoje e amanhã. E ontem e depois. É beleza e feiura. É perfume e fedor.
É pai e mãe. É avô e avó. É primeiro e último. É saber e desconhecer.
É água e fogo. É dor e alívio. É casamento e divórcio. É sorriso e lágrima.
É descalço e com meia. É persistência e desistência. É oi e adeus.
Pode ser o que for, mas nunca vai deixar de ser só amor.

sábado, 5 de dezembro de 2009

É isso.

Você acordou no meio daquela noite de dezembro assustada e segurou meu braço com força. Sentou na cama com uma rapidez surpreendente e chorou, me acordando num ímpeto. Lentamente, me sentei e enconstei as costas na cabeçeira da cama, te acolhendo em meus braços dormentes.
Você chorou e me explicou o pesadelo que foi o fato de estar pensando em me perder. O mundo fez-se escuro e a luz das estrelas se apagaram. Você se perdeu ao me perder, e chorou a morte do amor.
Eu disse "calma, estou aqui" e você começou a secar os olhos inchados. Beijei sua testa com carinho e, com os dedos em seu queixo, subi seu rosto à altura do meu, e sorri como nunca havia antes sorrido. E meus olhos brilharam a luz perdida em teus pesadelos ao ver você retribuindo aquele gesto.
Minutos depois, você já respirava tranquilamente e te coloquei para dormir novamente. Acariciei seus cabelos, os retirando do seu rosto para realçar ainda mais aquela beleza angelical que transparecia durante o seu sono.
Me levantei com cuidado, para não te acordar, e abri a janela do quarto, olhando o céu estrelado. Alí, acendi um cigarro e pensei. Desci as escadas e trouxe para o andar superior uma grande escada de alumínio. Peguei um papel e uma caneta e deixei do lado da sua cama.
"Meu amor, não tenha medo. Fui buscar a tua estrela."
E assim, subi as escadas.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Pensamento do dia

Relacionamento é uma coisa misteriosa. Quando é novidade, nos agrada. Quando perdemos o sono, é paixão.
O amor só chega quando aprendemos a respeitar os limites, aceitar os defeitos e, é claro, sentir lá dentro o sentimento mais nobre que existe.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Meu mundinho

Fecho os olhos, o mundo gira.
Estou em um grande relevo de grama rala e bem verde, sem nenhuma falha em seu caminho. O monte todo sobe em uma única direção que me leva para uma árvore no centro. Tronco grosso e robusto, marrom cor de terra e galhos compridos que crescem louvando os céus.
Suas folhas são verdes como a grama, só que mais escuras. As frutas, pequenas esferas vermelhas, suspendem no ar, presas por pequenos galhos da mesma cor que o tronco. Tenho a leve sensação de que suas folhas tocam as nuvens mais altas do céu, enquanto me perco na vertigem causada ao olhar para cima.
A sombra forma uma circunferência exata lá no alto, onde a brisa bate lentamente no rosto daqueles que, como eu, usam o lugar como refúgio universal. Subo até a árvore, com os pés descalços e me sento na raiz que foge do fundo da terra, usando o tronco como encosto.
Acendo um cigarro e assisto, lá embaixo, duas crianças brincando. Um menino e uma menina, rolando na grama, se abraçando e sorrindo. Livres dos moldes pré estabelecidos, com a graça de milhares de deuses, com uma fina aura brilhante envolvendo os seus corpos. A cada sorriso, uma lembrança da infância já não mais existente.
O menino, sorridente, veste uma bermuda jeans e uma camiseta branca lisa, que já está um pouco suja de tanto rolar barranco abaixo. A garotinha, dona de um semblante puro de beleza, está com um traje camponês vermelho, detalhado com flores amarelas fracas. É tão lindo e inocente, aqueles dois, que mal percebo a lágrima cair de ambos os olhos.
Meu olhar percorre do chão ao céu, onde as nuvens brancas sinalizam o dia radiante que está por vir. O sol não está forte e faz o rio que passa ao meu lado esquerdo reluzir seus raios diante dos meus olhos. Vez ou outra, penso ter visto uma carpa roxa passar de lá para cá.
O silêncio acompanha o meu olhar e mal noto a chegada de um senhor vestido de uma longa bata branca. Sorridente e com feição amigável, o ancião senta ao meu lado e me pergunta se estou feliz. Obviamente, ele sabe que não espera nenhuma resposta articulada de minhas cordas vocais. Apenas olho para ele com as pálpebras molhadas e aceno um sim com a cabeça.
Borboletas coloridas passam enquanto observo aquele senhor olhar para frente, assim como fiz minutos atrás. O silêncio volta, mesmo eu ouvindo diversos sons que me trazem paz e felcidade, e eu encosto minha cabeça no robusto tronco, procurando uma posição que me agrade. Fácil de se conseguir.
Preocupações com o trabalho, o dever de estudar, nada disso me passa pela mente. Não sinto falta de nada, nem de ninguém. Gostaria que pai estivesse alí comigo, aproveitando meu último cigarro, meus últimos suspiros.
Lembro-me da vez em que ele me socou os lábios e abriu um corte interno. Sangrou bastante, chorei demais. Eu o perdoei, pois eu o amava. Nem me lembro bem o porque aquilo me passou pela cabeça, mas também me veio os bons momentos, onde os dois, alterados pelo álcool, davam risadas sobre as situações de uma festa não muito agradável. Para eles, porque para mim e para ele foi demais.
E minha mãe também poderia estar comigo. Dona de um carinho sem igual, que ama como ninguém. Que acordava de madrugada para cuidar de mim, quando adoecia. E eu tanto reprimi esse amor, e eu tanto me corria de remorso. Mas, ainda assim, eu estava bem.
Chorei mais algumas lágrimas sem sentido, não era por ele, nem por ela. Era por nada e por tudo. O vento aumentou e as folhas balançaram, me dando a chance de provar daquele fruto que era inalcansável. O prazer não é proibido, me falou aquele velho senhor do qual tinha me esquecido a presença. Acendi um novo cigarro.
As crianças lá embaixo sumiram ao adentrarem pela orla da floresta na minha direita. Começo a pensar e refletir. Não chego a lugar nenhum. Choro mais algumas e últimas lágrimas, até que a fonte seca.
O senhor de branco vira para mim e, com uma voz tão suave, me diz "você amou e viveu como ninguém jamais conseguiu". Assisti ao pôr do sol como se aquilo fosse uma tela pintada por um renomeado artista.
E, depois disso, desejei nunca mais abrir os olhos. E que o mundo continue girando, pois eu ainda quero e espero chegar lá.

Para se pensar

Quem diria que um garoto como aquele estaria sentado no sofá com as lágrimas rolando ao chão. Tão forte, determinado, chorava como uma criança sozinha no escuro com uma carta na mão, pensando em todos os momentos da vida, bons e ruins, em que aprendera que apenas os mais fortes sobreviveriam. Era a lei.
Lembrou de todos os seus amores, mulheres, meninas, feias e bonitas, todas elas a quem ele amou durante um tempo, talvez dois, sem nenhum pudor. Enxugando o seu rosto todo molhado, pegou o telefone e tentou se lembrar, uma por uma, os telefones.
"Desculpa, eu te matei" dizia entre soluços desesperados, pois se lembrava de ter prometido a segurança de um amor maior. "Desculpa, eu me matei e te levei junto, eu não queria. Eu não queria ter te amado."
Do outro lado da cidade, uma jovem grávida esperava seu filho com a carta em mãos. As mangas longas cobriam um passado de trapaças contra a vida, de desprezos e solidão. O caminho era longo e solitário, tortuoso e em labirinto.
Não se importava com sua vida, preferia ter morrido durante as suas noites traiçoeiras e imundas. Mas agora era diferente e ela tinha uma vida nova para cuidar. Então chorou o alívio da tensão.
A carta causou nos dois jovens sensações diferentes. O garoto, que amara tanto, sentia-se deprimido. A grávida, aliviada, revitalizada. Os dois se descuidaram, se despiram frente à vida e deixaram a bala entrar.
O garoto, que amara tanto, lia soro positivo em sua carta. Enquanto a jovem, ex-viciada, teve uma nova chance ao ver o negativo na sua.
Dia primeiro de dezembro é o Dia Mundial de Prevenção contra a Aids. Um mundo novo, um mundo melhor. Uma consciência de que a vida pode ser cada vez melhor, desfrutando dos prazeres com a cabeça no lugar.
Portanto, se proteja, use camisinha e viva a vida como ela deve ser vivida.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Pensamento do dia

Preguiçoso é aquele que vê o amor passar ao lado e nem sequer se move para o mesmo lhe notar.

Meu filme

Fui amaldiçoado sem saber.
Me escalaram para o mesmo enredo de diversos títulos diferentes. O elenco muda, meu personagem não. E é sempre a mesma história, e é sempre a mesma trama e o drama é sempre criado na minha cabeça.
Assisto à cena sem saber para onde ir, repetindo as mesmas falas, esquecendo das minhas promessas, sentindo o nó na garganta, a angústia no peito e a cabeça em fastfoward.
Dessa vez não foi diferente e estreei a minha mais nova novela. A mocinha continua linda, o protagonista nunca sou eu, ainda que pense que dessa vez o diretor tenha tido a caridade de me dar o papel que tanto mereço. Mais uma vez, mais uma ilusão.
E procuro o controle remoto ao desespero da trilha sonora mais escutada em toda a minha vida: os batimentos cardíacos, acelerados em minha têmpora. As vezes até o encontro a tempo de parar, mas a pilha acaba e na verdade eu sempre confundo o quadrado com os dois traços verticais do pause.
Tudo que eu queria era aprender a dar review em toda essa história e recomeçar a filmagem a partir no minuto em que eu começo a errar.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

You're late...

Segundos, minutos, horas, dias, semanas.
E se aquela bela garota tivesse atravessado a rua um minuto antes do que ela o fez. O carro que cortara o outro da frente, pela esquerda, não a teria acertado. E ela, muito provavelmente, não estaria indo para o hospital.
Se aquele senhor deitado na cama da UTI tivesse negado aquele cigarro que o ofereceram, alguns meses atrás, talvez viveria mais alguns anos do que seu pulmão o está reservando.
E aquele jovem garoto poderia ter esperado o próximo ônibus, e acabar o seu café da manhã com menos pressa.
Segundos, minutos, horas, dias, semanas.
O beijo e a mão que seguraram a namorada por "só mais dez segundinhos" a fizeram ter pressa. E esta é sim a inimiga da perfeição.
Se aquele beijo não tivesse sido prolongado, as lágrimas que agora escorrem no rosto do rapaz não seriam de motivos tão trágicos.
E o amor que começava alí tão cedo poderia chegar ao fim antes da última página.
Segundos, minutos, horas, dias, semanas.
A gente sempre acaba na mesmice do arrependimento. Ah... se ele matasse. E se eu não tivesse enviado minutos depois? E se eu tivesse ido alguns segundos antes. Deveria eu ter pensado melhor? Não...
O passado existe para lembrar, não para ficar vivendo.
O presente é realidade. O futuro não existe.
Não adianta viver e lembrar do passado, pensando o que você faria para ajustar algo que aconteceu naquele futuro. Tudo que nós vivemos sempre será o presente.
Segundos, minutos, horas?
O que te faz pensar que você é culpado?
Você nunca está adiantado, você nunca chega atrasado.
Você só está onde você deveria estar.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Pense

Ser preconceituoso é enxergar no outro o seu próprio avesso.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

You tell me...

Será que é possível não se reconhecer ao se olhar no espelho, logo cedo?
Deixar a imagem refletida desaparecer na memória dos olhos, imergir nos mais profundos sonhos ocultos da mente humana, desaparecendo ao som de cada pássaro que passar.
Será que é possível aprender a amar? E ensinar, adestrar e fazer se acostumar?
Mostrar todos os vícios e virtudes que você possui e, mesmo assim, fazê-la sentir o ar comprimir, o tempo parar e as noites passarem devagar com a minha presença em sua cabeça.
Será que é possível acreditar no coração?
Enxergar a mentira que nós inventamos, o amor que desafloramos e todo o carinho que sentimos por puro acaso do órgão mais desastroso que temos.
É ou não é possível voar?
É preciso flutuar sobre cabeças que andam para se possuir asas, ou apenas podemos nos sentir leves o suficiente para nossos pés desgrudarem do chão com a facilidade que uma criança sorri ao ver seu pai lhe fazendo uma careta? O amor.
Será que é possível derramar lágrimas ao som do acorde?
Sentir na pele, no peito e na mente a melodia da dor, da angústia e felicidade. Sorrir quando a piada ainda não chegou ao fim, pelo simples fato de se lembrar de algum fato dá ocorrido.
Será que é possível sentir as pernas tremerem em poucas semanas?
Ouvir os batimentos cardíacos no ouvido, o suor escorrendo por dentro da pele, os poros se abrindo com o vento matutino.
É ou não é possível se entreter nas mais belas paisagens?
Seja ela criada ou pintada. Seja ela de pedra ou in natura.
Será que é possível mudar o futuro?
Não alterar o passado, tentar viver o presente e, ainda assim, transformar os dias que virão.
Não sei que o pensar, não sei mais se quero a eternidade.
Não se for para não tê-la durante todo esse espaço de tempo que eu a considero.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A história do vestido e o começo da bexiga

Há um tempo não encontro o que tanto eu já busquei. Já tentei, já procurei e até hoje não encontrei.
Varo noites, formo uma fila e coloco a porta giratória pra rodar. Vai um, dois e no terceiro eu já me canso, perde a graça e a sintonia. Faz do simples a perturbação. Do amor, o escárnio.
Na primeira, a ansiedade e excitação. A vontade, o medo e o nervosismo se misturam numa receita fantástica. Na segunda, o gosto se repete e começa a enjoar. A terceira causa o vômito. Não sou assim.
E já faz algum tempo que deixei o meu vestido mais perfeito no fundo do meu baú. O prendi em grandes pedras e atirei no fundo do mar. As fotos dele já não são mais nem lembranças, afundadas junto com as memórias que deixei naquela arca.
Eu armo uma cena, faço o palco expandir e a luz clarear. E, com muito orgulho, aceno um simples adeus para aquele pedaço de roupa que me fez tantos sonos perder, tantas noites pensar e tantos suspiros soltar.
Acendo um cigarro no mesmo cais em que assisto à liberdade do coração. Vejo todo o sofrimento em vão se afundando com o vestido que mais me fez amar um dia. E em um pequeno espaço de tempo em que vou observar o sol, vejo uma bexiga.
De cor branca, rosa, verde clara e outros tons que iam se misturando na luz do sol. A ponta em que se entra o ar estava aberta e ela estava se esvaziando com a lentidão de uma pena, caindo e caindo, quase flutuando até chegar aos meus pés.
Peguei-a com cuidado e examinei atentamente, guardando no bolso da camisa e partindo para casa.
Hoje é a bexiga o meu mais novo amor. Ela me faz perder o ar, meus cabelos se arrepiam com o seu contato. Mas ainda não é hora de explicar a minha história inteira com a bexiga, faz pouco tempo, faz poucos dias, são poucos momentos. Mas eu encontrei nela uma chance que havia se perdido em minha realidade, uma ponta de prazer em apenas sentir por dentro e não na pele.
Eu só tenho que manter a calma, pois eu não posso encher muito a bexiga... se não ela pode estourar. E eu não gostaria de ter que jogá-la no fundo do oceano, após um futuro sofrimento.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O que é ser redator?

"Ôôôô, Jeremias! Você pode enviar esse job com um briefing detalhado para o cara que faz textos aqui na agência?"

É engraçado a relação do redator com o resto da agência e do redator consigo mesmo.
Para a agência, ele é o cara que escreve textos. Para ele, o cara que enxuga e explica enormes conceitos.
Eis que sempre surge aquele que quer menosprezar o cargo e solta uma das frases memoráveis sobre como qualquer pessoa pode ser redatora, que não há dificuldade nenhuma em criar alguns textos e que basta ser criativo para ser redator. Ou seja, qualquer publicitário tem que ser criativo, qualquer publicitário pode ser redator.
E de tanto ouvir piadinhas, até pensei: "Realmente... minha profissão não tem futuro. Redatores são apenas pessoas que escrevem bem, mas na publicidade nem sempre se precisa de uma escrita correta e, além disso, existem revisores... e agora? Se eu escrevo bem, porque não viro jornalista?"
Bom, aqui vai minha resposta para todos aqueles que acham a redação apenas uma coisinha fácil de se fazer:

1º argumento
Um bom planejador gosta de criar estratégias, têm uma visão ampla do mercado e saber traçar metas para o cliente (porque não vai jogar o jogo do Mc Donald's em flash, então? ¬¬). Um bom atendimento é gostosa, digo, simpática e atraente, sabendo sempre ouvir o cliente e concordar com ele somente quando é necessário. Um bom diretor de arte tem uma visão a parte para a estética do anúncio, entende muito bem de iluminação e cores e ainda assim se diz publicitário e não curador do Museu do Ipiranga. Um bom mídia..... bom, deixa pra lá.
O que eu quis dizer? Que todas as pessoas que trabalham nas áreas supracitadas são apaixonadas pelo que fazem, bem como nós, redatores. Nós somos apaixonados pela escrita e, segundo muitos sábios, não existe nada melhor do que se trabalhar com o que ama. E eu tenho certeza absoluta que existem pouquíssimos redatores que não se encontram no cargo, querendo migrar de área. Diferente de muitos outros por aí...

2º argumento
Quer se divertir qualquer dia da semana e a qualquer hora? Chame sempre um redator para o programinha casual. Adoramos piadinhas, seja do Ary Toledo ou do Rafinha Bastos, e sempre levamos à mesa citações de grandes poetas, como Pelé.
Além de apreciarmos uma cerveja tão bem como ninguém, temos um papo mais inteligente e variado, pois é o nosso trabalho: ser versátil. Sabemos assuntos sobre economia, sobre literatura, política, futebol e até arte moderna. Só não pergunte sobre pós-modernismo, pois ainda estamos tentando descobrir realmente o que é.
E se você estiver muito afim de ouvir horas e horas sobre o NOSSO trabalho, fale de qualquer anúncio publicitário... principalmente os all type's.

3º argumento
Se você acha que escrever é fácil, quero ver você ser bom o suficiente para não deixar a sua essência em seus textos. E é aqui, no terceiro argumento, que o assunto fica sério e eu deixo as piadas de lado.
Todos nós podemos escrever e o texto ficar bem bacana, mas você conseguiria mudar o seu estilo na hora de criar textos para o público farmacêutico e não teen? Ou ainda, tentar enxugar milhares de informações numa única newsletter. Sorte tenho eu, de escrever para o universo digital, tenho a assistência do Flash.
Agora imagine um anúncio em uma página simples de revista. Como falar que o meu produto é fácil de usar, tem mais velocidade do que a concorrência, é mais barato, é mais moderno, é mais bonito e é mais seguro em apenas um pequeno bloco de texto... e ainda deixá-lo bonito.
A diferença do redator é que ele SABE que é publicitário. Ele sabe deixar a sua essência para o seu blog particular, ele sabe deixar o seu lado emocional para as peças que nunca sairão na mídia.


E é por isso que eu me orgulho de ser o cara que faz textos. Afinal, não são todos que conseguem transmitir todos os seus pensamentos, amores, ódios, angústias, alegrias, satisfações e insatisfações (em suma: tudo) através das palavras.
E inveja tem vocês, que gostariam de saber se dar tão bem com elas...

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Cansei

Eu ando cansado pela rua, cabisbaixo. Cansado de andar em lugar para chegar.
Tô cansado de ficar sentado, esperando aquilo que eu nem sinto falta ainda. De ver tudo passando diante dos meus olhos e eu continuar alí, esperando.
Tô cansado de ser enganado, dia após dia. De viver num baile de máscaras onde ganha a máscara mais diferente, disfarçada e façante.
Tô cansado de dizer, tô cansado de escutar mentiras e dizer a verdade. Tô cansado de toda mesmice, cansado dos programas semanais da TV. Tô cansado.
Tô cansado de mim, deles e, principalmente, de você.
Tô cansado de estudar, de trabalhar e acordar cedo. De ter responsabilidades todos os dias, de não poder ter toda a censura livre que merecia.
Tô cansado de errar. De olhar com os olhos errados, de ser enganado com facilidade e vestir uma camisa escrito "otário".

Viagem

Da janela do trêm, eu vejo a paisagem mudar rapidamente.
Ao lado direito, vejo árvores solitárias fazendo sombra para algumas pequenas ovelhas de lã bem branca que chegava a refletir o sol escaldante em algumas que ignoravam aquela dádiva de sombra.
O campo vasto alimenta alguns dos bois e duas vacas manchadas de marrom e branco. Ruminam, olhando para o chão, com a tranquilidade de quem não espera nada nem ninguém. Algumas, mais ousadas, experimentam olhar o horizonte, fitando nos olhos os passageiros mais curiosos que não estão dormindo ou lendo algum livro.
Uma cerca de madeira foi pintada de vermelho, criando um destaque no meio daquela paisagem natural. Fora fixada para dividir e impedir de que os animais que alí estavam fossem até o pequeno lago.
Na beira do mesmo, podia ver um rapaz sem camisa, sentado com os dedos mergulhados. Com semblante tranquilo, olhava o céu por debaixo da aba do seu chapéu.
Da janela do trêm, eu vejo aquela paisagem mudar rapidamente.
Do vasto campo quase vazio, plantaram grandes pés de café, milho e até algodão, eu pude ver mais distante.
Aquelas bolinhas vermelhas misturavam-se com o amarelo ouro e verde claro do milho, fazendo daquela vista uma obra de arte natural. Mulheres com grandes cestas eram notadas entre um pé e outro, colhendo os frutos maduros com serenidade. Podia jurar que elas cantavam alguma cantiga aprendida há muitos anos atrás, talvez pelas suas avós.
Apesar de todo aquele sol, não havia uma que parecia estar mau humorada ou cansada.
Da janela do trêm, vejo o campo urbanizar.
E a natureza ficou pra trás, dando espaço para as casas, rios fedorentos, carros e prédios comerciais.

Tudo isso em pouco mais de uma hora.

domingo, 15 de novembro de 2009

Curto Desabafo

A vida passa, a gente se lembra e pensa no futuro. E nesse vai e vem de pensamentos, o nó é feito com precisão.
Eu me peguei esses dias na frente do espelho, tentando reconhecer essa cara que já não me parece ser mais minha. Eu não sei se é amor, paixão ou desespero. Eu não sei se é a verdade ou a mentira criada para preencher um espaço no meu peito que há muito está vazio.
Não sei se meu jeito está errado ou se tá certo, se é qualidade ou defeito, vício ou virtude. Eu já encontrei o amor da minha vida três vezes, e de três maneiras diferentes.
Eu só sei que tá difícil reviver isso pela enésima vez.
Mas eu já sei como, no final, isso vai acabar. É a última chamada para aqueles que querem deixar tudo para trás e tomar a pílula azul.

sábado, 14 de novembro de 2009

Conexão

Você é como música.
Melodia e harmonia singela. Se completa com a letra e se encontra em diversos corações.
Você é como pintura.
Com pinceladas suaves, retratando a pura beleza. Obra-prima da felicidade.
Você é como literatura.
Leitura tranquila e amena. Contando histórias de amor para até aqueles que não querem ouvir.
Você é arquitetura.
Estática e dura. Suas paredes frias escondem um espaço grande por dentro, onde ninguém pode chegar.
Você é poesia.
É trova e soneto. É rima rica, é estrofe ajustada. Metaforiza os mais diversos sentimentos.
Você é arte.
E, como toda arte, só faz o bem para aqueles que te enxergam.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Escureceu

Escureceu e o mundo parou. As luzes cessaram, os carros passavam e as pessoas congelaram, abismadas. Alguns diziam ser o fim do mundo, outros, mais céticos, faziam piadinhas de um gosto nada comum e outros berravam aos quatro cantos o temor instalado no peito. A verdade era que ninguém estava nada confortável com aquela situação.
E passada uma hora, todos se amedrontaram com a escuridão. Os mais desesperados até pensaram em se matar quando ficaram sabendo que aquilo poderia durar mais de um dia inteiro. Outros, mais descolados, souberam aproveitar a vida sob luz de velas por todos os cantos, tentando criar a falsa verdade, uma ilusão.
Os mais ligados, utilizaram seus aparelhos eletrônicos com bateria e rezaram para que a mesma notícia que fez os desesperados entrarem em depressão não fosse verdade. Os mais intelectuais leram seus livros com a ajuda de lanternas e os boêmios continuaram onde estavam antes da escuridão: na mesa do bar.
Os bebês dormiam, as crianças choravam e os adolescentes usaram o fato como pretexto para fazer tudo aquilo que queriam com a amiga e/ou amigo, mas nunca tiveram coragem. Os mais desencanados dormiram, os mais encanados ligaram para Deus e o mundo perguntando se estavam bem, pois tinha medo de que aquilo poderia ser um atentado terrorista.
Os mais religiosos rezaram todo o terço para que aquilo nada mais fosse do que uma queda de energia, enquanto os mais preguiçosos rezavam dois terços para que a luz não voltasse até as 18 horas do dia seguinte, simplesmente para não precisarem trabalhar.
Os mais dependentes choraram, as mais donas de casa também. Só que o primeiro chorava porque não se tinha nada para ouvir, com quem falar ou o que fazer, enquanto a segunda chorava por não ter tido tempo de assistir o último bloco do capítulo da novela.
Enquanto os mais pensadores e sonhadores, fizeram o que sempre fazem: chegaram em casa, tiraram os tênis, as meias, debruçaram sobre a janela e começaram a pensar na saída para um mundo melhor...

Dois minutos a luz voltou, e tudo voltou ao que era antes.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Pecadores

Há muito venho procurando os motivos, as causas de todas essas consequências banais. O efeito borboleta, efeito dominó, o circuito da bola de neve que rola do alto da montanha, crescendo a cada centímeto que passa, levando consigo tudo aquilo que sempre esteve preso a ela.
Eu procuro em cada canto, vasculho dentro de livros, nos e-mails antigos e até na minha mente devassada por imagens ocultas e sombrias. Mas não encontro nada! Me parece, e tudo indica, de que tudo fora varrido para debaixo do tapete, esse qual eu não possuo dentro de casa.
Já pensei em gritar, em berrar, em xingar e já os fiz de monte, mas é claro que de nada adiantou. O ser humano peca mais é na hora de resolver, ele deixa o mar puxar, ele fecha os olhos e sente o vento passar pra levar tudo embora. Mas o vento assim vai como volta, berrando, xingando e gritando.
Até que tentei me aproximar, chegar pertinho pra tentar descobrir, desamarrar o nó que fiz um tempo atrás. Mas nem me lembrava de que o nó fora bem dado e assim ficou até então. E o ser humano peca aí também, dando o nó para nunca mais esquecer, se esquecendo de que um dia terá que o fazer. O ser humano peca por ser inconsequente e falastrão. Maldito seja aquele que descobriu a fala e o ódio, a cabeça quente e o entusiasmo.
Procurei novos lugares, quis me mudar, fugir para nada longe, apenas para o outro lado do rio. Quis atravessar a ponte, pensando em talvez nem dar tchau. Arrumar as malas em um dia em que estivesse sozinho, deixar um bilhete singelo agradecendo tudo e todos, porém levando no coração a maldita vontade de que um turbilhão os atingisse na próxima primavera. O ser humano peca é na vontade de vingança, é na sede pelo rancor, na fome pelo desespero alheio e no anseio pelo egocentrismo absoluto.
Sentei na mais bela biblioteca, abri livros dos mais conceituados autores e anotei frases de impacto que poderiam me trazer respostas para as perguntas que me atordoavam. Implorei por uma resposta, clamei por uma atenção, mas o autor do livro sequer notou a presença do meu problema. O ser humano peca é na hora de ser gentil e distribuir favores.
Para ele, o favor é como moeda. Você só entrega um na troca de outro. É o puro capitalismo da banalidade. Gentilezas e bondades nunca vem de graça, pois se é medíocre demais pensar em uma bobagem como essa.
É então que eu me canso de procurar e me sento no sofá do nono andar. Acendo aquele já esperado cigarro noturno e reflito. O ser humano peca e sempre vai pecar. Mas é para isso que o próprio ser humano inventou o perdão: para que a economia de gentilezas, bondades e afetos continue girando e, assim, no final, tudo acaba em risadas na mesa de um bar, recheada de cervejas.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O mar

Pois é... finalmente nos reencontramos, né? Fazia tempo que eu falava pra Deus e o mundo que eu tava mesmo é precisando te ver e sentir toda'quela mistura de sentimentos bons que só você pode me causar.
O engraçado é que ninguém entende a minha relação de amor e respeito por você. Eles acham estranho eu não querer te tocar, eu não sentir você na minha pele e ficar apenas te observando e pensando o quanto é bom estar alí, frente a frente com você.
Acho que nem preciso falar que sentir você assoprando no meu rosto é algo que nada nesse mundo me faria melhor. E você sabe, pois eu fico de frente pra você, com meus dois olhos bem fechados e um sorriso bem besta na boca que vai se abrindo lentamente, até eu mostrar meus dentes, demonstrando toda felicidade do mundo. Tudo isso só em um assopro.
Me agrada o jeito que você acorda de manhã toda serena e me divirto com seu jeito peculiar de ir se irritando durante a tarde. Você nunca fala, mas tenho certeza que o sol te irrita muito e é isso que te faz ficar possessa.
Esse fim de semana eu vi o mar. Levei para ele todo meu rancor, toda minha raiva, todo meu desespero e, acima de tudo, todo o meu amor e compaixão. Cada onda quebrada com força levava a sua água até meus pés e neles eu consolidava todo meu sentimento.
A água fria passava por entre meus dedos e voltava para dentro de seus profundos domínios, levando de mim toda angústia de quem um dia chorou lágrimas para preenchê-lo. E do alto eu pude acender meu cigarro e observar cada movimento leve que a água fazia com o favor do vento.
Pensei, refleti, sorri e sentei com os pés suspensos no ar. Na sétima onda eu desejei aquilo que já tinha: extrema felicidade em viver.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Nem sempre tem que ser

Uma pintura.
Um pincel molhado toca a tela seca e desliza a tinta branco abaixo. Nessa pincelada única, e nas demais, o artista quis passar uma mensagem óbvia, porém complexa. Todos que passaram pela sua galeria naquela tarde, depois do quadro pronto, entendiam o que viam e o que Pierre, o artista, queria falar com ela.
Um outro instrumento de semelhança, em um movimento sagaz, desenhava a última abstração que lhe ocorria em mente, a imagem do que não lhe era verdade para os olhos, mas sim para o coração. Naquela tarde, muitos pararam para admirar o quadro de Marli, exposto num evento. Algumas pessoas não entendiam nada, mas sabia que ela queria passar alguma mensagem.
Do terceiro, mais alto e denegrado. Pôs-se a luz da primaveira e da arte fez-se a matéria da sua paixão. Misturou em tons pastéis o que lhe aguçava o paladar traiçoeiro e então colocou-se a pintar. O quadro na parede do quarto de Dênis não tinha nenhum significado e todo mundo o sabia. Mas ainda assim era uma obra-prima.
Nem tudo escrito e feito nessa vida tem que ter um significado para todos.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

27/10/2009 - 02:31

Acabo de ver um filme que talvez tenha sido a obra que chegou mais próximo de entender o que é o amor. É engraçado e chega a parecer surreal como nos privamos da eterna felicidade, de encontrarmo-nos com o amor próprio - o caminho para uma vida perfeita - simplesmente para seguir moldes pré-estabelecidos em uma sociedade.
O meu propósito aqui não é, jamais, criar um discurso moralista e que chega a ser um clichê chato do jovem contra a sociedade. A única coisa que gostaria de dizer é que, talvez, em uma sociedade mais liberal, o homem poderia encontrar o verdadeiro amor.
Veja bem. Existem dois tipos de casais muito destintos. Ambos se amam de paixão, porém só o primeiro consegue manter por dois anos e mais em um sentimento de paixão extrema e diária. O segundo, entretanto, está tão apaixonado quanto o primeiro, mas não é tão tardia a morte dessa paixão que faz do amor algo tão vivo.
No filme, um trecho me chamou muito a atenção: "É engraçado... nós fomos e não fomos feitos um para o outro. É uma contradição. Para entender, é preciso um poeta [...] Porque eu não entendo." Essa frase me despertou tão profundos pensamentos...
Não sei se todos pensam como eu (óbvio que não), mas Almas Gêmeas não estão predestinadas a se casar. Para mim, são pessoas - do mesmo sexo ou não - que combinam muito, mesmo não tendo nada em comum. Elas se completam de alguma forma, como a harmonia perfeita de uma música, o sentimento transcrito com sinceridade na poesia ou até mesmo a velha história da cara metade. Se essas pessoas tiverem a chance de se encontrar, se amarão para sempre e terão uma ligação que viverá além das capacidades humanas.
E não acho mesmo que todo mundo tem o privilégio de encontrar sua alma gêmea. A grande parte dos casais apaixonados e sorridentes que encontramos mundo afora é simplesmente o resultado da busca pela resposta para o amor que o homem começou faz muito tempo atrás: a ilusão.
Nós, ao longo do tempo, cansamos de entender esse sentimento tão benéfico e estridente e aderimos à técnica ilusória de criar e acreditar. Felizmente, ou não, somos capazes de criar o amor. Mas garanto que a cada dez casais - apaixonados ou não - apenas um realmente se ama. Ou não.
Cada um vê e entende o amor à sua maneira e talvez seja essa quase singularidade que nos faz tão únicos e destintos na hora de amar. Acabo de ver um filme e escrever. Agora me dei conta: ninguém, nunca, jamais irá compreender esse derradeiro e maravilhoso sentimento.

Com amor,
Thiago Klein

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Coisas que quero...

Quero férias de verdade, quero tempo. Quero ouvir o galo cantar, quero assistir ao sol nascer, quero ver o céu clarear em tons alaranjados, fazendo do azul uma simples tela de pintar.
Quero poder falar sem pensar, rir sem ter medo de ser julgado e conversar durante horas a fio, sem ser interrompido. Quero poder comer tudo o que está na mesa, beber da cerveja mais gelada e brindar com os amigos a existência da vida. Quero poder acordar bem cedinho pra por os pés na areia e ouvir um bom dia cheio de ressaca da noite anterior e ainda tomar um café da manhã, olhando o mar em silêncio.
Quero poder fazer barulho a hora que for, e falar a hora que me desejar. Quero aprender a engolir sapos sem me machucar e também quero aprender a deixar a raiva passar mais depressa.
Quero sentir o vento na cara, ao abrir a porta da varanda. E poder olhar a rua lá embaixo enquanto acendo um cigarro, ouvindo a melodia do violão que o rapaz se pôs a tocar logo depois que subiram o casal e o dono da casa.
Preciso ver o mar.
Quero rir a toa, quero viajar e ainda ter de voltar para o trabalho na semana seguinte. Quero viver bem, quero ter saúde e não sentir mais dor. Quero ter dinheiro e felicidade. Quero ter momentos. Quero carinho, quero beijos e abraços. Quero ouvir um eu te amo só de quem eu realmente espero e quero sentir arrepios com seus dedos em meus cabelos.
São coisas que quero, são coisas que tenho. Mas eu quero sempre mais.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Sim

A resposta é sim, sempre foi e sempre vai ser.
Eu me perco em labirintos experimentais que crio durante sonhos e entre realidades e fantasias vivenciadas dentro ou fora do meu livro de cabeceira. Eu viajo do ponto extremo do céu ao centro da Terra sem perder a órbita, sem sentir-me enjoado, permanecendo como sempre com os pés no chão.
As vezes bato asas e as vezes me descubro em posição fetal, mas dá pra entender que a resposta é sim quando se para três ou quatro vezes durante a viagem, simplesmente para olhar a parede azul, acender um cigarro e tentar imaginar qual é o próximo capítulo.
E qual é o próximo? Um minuto, meu cigarro talvez possa responder.
Pego o cigarro furtado e cinzeiro antigo, acendo e puxo um longo trago. Seguro, segurança, segredo. Solto a fumaça e olho o pôster na parede com os dizeres "Ska is madness", o sim das iniciais.
Você ama? Sim. Você odeia? Sim.
E a pausa é longa, o caminho é curto e o tempo é passageiro.
Você está nervoso? Sim. Você está calmo? Sim.
O coração acelera, a pulsação diminui e os olhos se fecham.
Você está feliz? Sim. Você está triste? Sim.
E os sonhos começam, as dúvidas permanecem e certas pessoas ficam.
Você aproveita a sua vida?
Obviamente que sim...

domingo, 18 de outubro de 2009

Dezoito

Eram dezoito das vinte e quatro horas que choveram. Uma chuva rala, uma garoa tímida, um gotejar pesado e um rio de lágrimas angelicais, caindo como cachoeira de cada nuvem. E assim, dezoito horas choveu sem parar.
O sol, cansado e meio descontraído, apareceu algumas vezes para lembrar a chuva da sua existência, mas foi se cansando meio cedo, e nem eram seis horas da tarde e ele já tinha ido pra cama. E assim perdurou o restante das dezoito horas de chuva.
Os mais sortudos acendem um cigarro e assistem a tempestade através das telas envidraçadas da janela. Aqueles que não tem lá muita sorte sentem na pele todo aquele espetáculo. Alguns morrem de medo de que acabe a luz na hora da novela, enquanto outros rezam para que o riacho perto da sua casa não encha e eles percam tudo. Medo e apreensão durante dezoito horas.
E a chuva passou e o sol não acordou. Ficou por trás da lua que brilhou por entre as nuvens cinzentas. E como um unicórnio, iluminou a cidade de prata. E depois de dezoito horas, ela parou.
E o rapaz presenciou tudo da primeira fila. E ao acabar, levantou sem aplaudir. Assim que o sol se levantou e acordou o mundo, no rosto do garoto esboçava um singelo sorriso. Da janela do seu quarto ele via uma flor no jardim, e ele pensou estar dormindo quando ela se virou e sorriu.
E assim, passaram-se vinte e quatro horas, das quais dezoito foram debaixo d'água.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Decisões

Decidido, Juan sentou.
Olhou para os transeuntes, respirou fundo e um medo lhe tomou o corpo. Por que sentia aquilo, onde estava toda a coragem que lhe invadira cada centímetro cúbico do seu corpo quando passou pela sua cabeça que ele iria conseguir? Ele não soube.
Pouco a pouco, o local estava enchendo, muita gente andava de um lado para o outro, conversando alto, conversando baixo. Alguns até cochichavam e outros observam Juan em silêncio. O rapaz, incrédulo, só percebia olhares de desaprovação e preconceito. Seria a sua barba mal feita ou seu cabelo bagunçado?
Decidido, Juan se levantou.
Andara três ou quatro passos e uma luz o cegou os olhos, não enxergava mais nada, nem ninguém. "Finalmente, estou cego. Não precisarei mais ver os olhares desinteressados", pensou ele. Um psiu, psiu foi ouvido ao seu lado e ele notou que o contra regra estava indicando um microfone. Trêmulo, Juan pegou o microfone e o tirou do pedestal.
Decidido, Juan falou.
Desejou boa noite aos convidados e o silêncio prevaleceu. Pensou ele, como poderiam todos aqueles engravatados e pomposas ficarem em total silêncio com um rapaz de barba e cabelos mal feitos, mal vestido e fedendo a cigarro com um simples e singelo boa noite. Em voz baixa, enfraquecida pelo pavor, Juan continuou a sua prosa.
Após se apresentar, dizendo seu nome e desejando as boas vindas, voltou para perto do banco. E decidido, ele se sentou novamente.
Mesmo com breu absoluto na platéia, Juan ficou apreensivo. Era nítido, por mais oculta que estava pelo escuro, o branco dos olhos daqueles que desaprovam e retardam a geniosidade humana.
Decidido, Juan suou e tremeu.
O nervosismo invadiu sua mente pelos olhos. Alguns, mais apressados, começaram a chiar e vaiar. Outros, mais discretos, negavam e reprovavam aquela situação com a cabeça. Mas, ainda existia alguns que simplesmente entendiam e esperavam.
Pensou se era o mais certo, desistir depois de ter chegado até alí. De subir aquelas escadas de madeira, de olhar como era a visão dali de cima, visão essa que queria ter tido desde criança, quando assistia os seus ídolos interpretando poesias e destilando arte através dos seus instrumentos e vozes.
Pensou se era aquela a sua única chance, o seu único tiro que teria que acertar o alvo. Era. Era realmente a sua chance, a sua escolha, sua paixão.
Decidido, Juan tocou.
E ninguém, nunca mais, chegou a duvidar de sua capacidade.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Uma mensagem de alguém que acordou bem.

Mais um dia para se descobrir a vida.
Não sei o porque, mas hoje eu acordei com vontade de sorrir.
Desejei bom dia ao motorista, ao cobrador e ao porteiro do prédio comercial.
Até sorri e cumprimentei aqueles que não ia muito com a cara.
Resultado: agrados e satisfações de todos os lados.
É mais um dia para você descobrir a vida.
Ela é assim mesmo, todo dia é uma oportunidade, uma chance para desvendar, mas pode ter certeza que você morrerá sem descobrir tudo sobre a vida.
Ela é assim mesmo, misteriosa.
Mas não desista, continue vivendo e acordando todo dia com o objetivo de descobrir cada segundo que você vive nela.

Bom dia para todos!

sábado, 3 de outubro de 2009

Aprendizados

Após anos sem voltar, ele aparece sem aviso prévio batendo na porta da frente.

Deitado em sua cama, ainda acordado, aquele jovem garoto sonhava com o mundo. Cigarro após cigarro, ia preenchendo seu criado mudo com garrafas de cerveja e sua cabeça com idéias e questionamentos. Eu não pertenço àqui, dizia ele para si mesmo.
Decidido, levantou-se e colocou uma roupa de sair. Arrumou uma pequena mochila e, sem deixar nenhum aviso, ele partiu. Sua respiração ofegante podia ser ouvida através da parede do vizinho e enquanto o elevador não chegasse o garoto não ia se sentir tão a vontade.
Era noite e ele se desbravou ao mundo, enfrentando de frente o medo e o perigo, rezando para o seu Deus que nada lhe acontecesse. Pegou o primeiro ônibus e, sem rumo, ele se foi.
Em seu caminho ele encontrou a felicidade. Momentos de pura alegria que até lhe fez sentir peso na consciência de ter esquecido a máquina fotográfica para registrar aqueles momentos, mas depois de um longo tempo ele percebeu que a melhor fotografia que ele poderia ter batido era aquele sentimento de puro êxtase que sentia toda vez que se lembrava. Quem não tem memória, tira fotos, pensava ele.
Mas também encontrou muitas barreiras em sua aventura. Sustos e frio, fome e medo, receio e vontade de voltar para a casa, desistir daquela bobagem toda. Queria voltar para o calor daquilo que ele só foi se tocar que tinha quando sentiu o frio dos maiores perigos de sua vida. Os fracos fogem e desistem, os honrados lutam e ultrapassam os muros que a vida coloca na sua frente, pensava ele.
Se instalou numa pequena cidade do interior e lá encontrou o amor. Achava que tinha comprado o pacote completo, pois com o amor veio o carinho, a recíproca, os olhos ternos e os cafunés noturnos, quando deitados na rede para olhar e contar as estrelas. Não quero mais nada, eu tenho tudo aqui. Tenho a vida e a vida me tem, pensava ele.
Passaram-se anos, ele arranjou um emprego e marcaram o casório. Er a tudo tão lindo, um verdadeiro conto de fadas na sua realidade próxima, mas não teve um final lá bem feliz. Voltando um dia mais cedo do seu casório, ele a viu com outro. Ódio e rancor. Raiva e vontades do impossível para ele: queria matar. Se revoltou e quebrou vidros, pisou nos cacos e gritou sua dor aos lados inteiros do vento. Subiu na mais alta montanha da cidade e lá fumou seu cigarro. O ódio não é um sentimento, é uma maldição. Eu não quero isso para mim, pensava ele.

E após anos sem dar notícias, ele voltou. E assim como foi embora, não deixou aviso prévio. Só que dessa vez ele trazia consigo o amor pela sua vida e lembranças no coração.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O Grande Baile

A vida é uma grande baile de máscaras. As pessoas dançam conforme a música e algumas até exageram nas performances, mas as máscaras continuam a tampar suas verdadeiras faces.
Algumas são bonitas e simpáticas, outras são tão bem feitas que parecem um rosto de verdade. Poucas aqui, muitas alí, tem aquelas que ninguém perde muito tempo analisando e a graça da vida, do baile de máscaras, é você perceber quem é que usa aquela máscara do lado de fora do salão de festas.
O problema maior é que os festeiros gostam do baile mais do que a própria vida e vivem se escondendo atrás das máscaras. Uns por ter medo de revelar a verdade, outros por ter vergonha de mostrar quem realmente são. As máscaras dão um poder enorme para as pessoas, e elas tendem a cair nessa tentação de usá-las sempre.
As piores pessoas são aquelas que usam a máscara até quando estão somente entre amigos. Geralmente essas são as que são bem feitas, não tem um único risco ou detalhe que prove que é de mentira. E a pergunta que mais me faço é: quem está errado nessa situação? O mascarado ou os amigos? Afinal, amigos devem conhecer uns aos outros.
Para mim, a vida é um eterno baile de máscaras. Alguns, nesse baile, deixam a máscara cair quando exageram no álcool. Tem ainda aqueles que se fantasiam dos pés a cabeça, mas ao se olharem no espelho não saem de casa.
Conheço alguns mascarados que choram também, e são lágrimas que vem do olho debaixo da máscara. Esses são os que, depois de muito tempo, percebem que estão presos ao vício de usar uma. Mas também conheço alguns que tem olhos cegos e não se permitem saber que usam a tal face ocultante. Um dia já souberam, mas esqueceram...
E há ainda aqueles que sentem um enorme prazer em não mostrar quem realmente são. Percebem, depois de algum tempo, que a máscara pode trazer benefícios que antes não eram tão fáceis de chegar, que os mascarados que eles amam acabam correspondendo o sentimento, não por eles, mas pelas máscaras. Triste ilusão.
O medíocre usa a máscara para seu próprio bem. É, sem dúvida, um dos mais espertos do baile de máscara, pois sabe muito bem que tem uma máscara ocultando seu rosto e ele não deixa se levar pelo tentar que os benefícios te trazem.
Esses são medíocres pelo simples fato de usarem a máscara para a maldade e para o bem próprio, mas também sabem a hora de tirar a máscara para conviver entre alguns. Mal sabem eles que, uma hora ou outra, o rosto se funde com a máscara e nem ele mesmo saberá qual é a face verdadeira.
Por fim, há aquele que usa a máscara simplesmente para entrar no baile. É preciso ter para viver e ele mais usufre a dele para observar os outros integrantes da festa do que para o seu bem próprio.
É.... a vida é um eterno baile de máscaras. E podem ir avisando o DJ que ela não tem dia pra acabar.

sábado, 19 de setembro de 2009

Procura-se

Procura-se uma pessoa que perdi não sei aonde. Eu só sei que sem ela eu não consigo mais raciocinar e parece que tudo em que eu penso é uma parede branca, um fundo vazio, a mais pura cegueira.
Procuro essa pessoa, pois ela é meus olhos. Só com ela eu consigo enxergar além da vida, além da imagem. Só com ela eu me supero e sobressaio. Uma vez, com ela, consegui enxergar o amor em duas caixas de papel. Mas hoje eu não estou com ela e parece que meus dedos digitam esse texto sozinhos. Sem ela eu perco a cabeça, eu sou um ninguém sem sentido na vida.
Perdi uma pessoa que era meus ouvidos. Escutava tudo e todos, era mais centrado e divertido. Conseguia até fazer piadas, aproveitando a brecha dos meus amigos, sentado na mesa de um bar ou até mesmo em frente ao computador, no trabalho.
Eu oferço a quantia que for necessária, o mais valioso valor simbólico, mas eu só quero que tragam-na de volta para mim. Estou sofrendo, estou me sentindo um lixo, estou incapaz. Ando nervoso pra caramba, fumando um cigarro atrás do outro. Cheguei até abrir dois livros e olhar embaixo da minha cama, para ver se conseguia encontrá-la por lá.
Essa pessoa era o meu olfato. Com ela, as coisas ficavam mais cheirosas. Conseguia fazer do lixão, uma floreira gigante. E desculpe-me as próximas palavras, mas até o meu cocô cheirava bem. As rosas, então, perfumavam a minha vida por completo, e eu era bem mais feliz assim.
Mas hoje estou só, estou para baixo. Nem concentração eu consigo ter, muito menos um pensamento bom. Sem ela, eu perco a cabeça, não tenho sentidos.
Procuro o meu paladar, que também era essa dita cuja. Eu tinha gosto por tudo, até mesmo pela vida. Vida essa que agora não tem mais gosto de nada, nem doce e nem amargo. Estou desgostoso, desamparado.
O meu tato se foi junto com a pessoa. Eu não sinto nada. Quando estava com ela, eu sentia cada coisa que eu tocava com a maior sensibilidade que você possa imaginar. Mas ela se foi e me deixou aqui, incapaz de encontrar uma simples palavra no escuro.
Procura-se uma pessoa que me faça voltar a pensar e a ser alguém. Pago mundos e fundos pra ter ela de volta, pra ter a minha vida de volta e para voltar a ter idéias mais felizes.
Procura-se uma pessoa atendida pelo nome de inspiração.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

O meu poço não é meu

O poeta uma vez disse que mentiras sinceras lhe interessavam. Eu fui na onda dele e até cheguei a pensar que eu vivia uma mentira sincera dentro de mim, expondo o mais mentiroso sentimento do século. Talvez até agora possa ser uma mentira sincera.
Esse mesmo poeta disse, certa vez, que as vezes ele odiava certo alguém por quase um segundo, mas depois amava mais. Me sinto preso, como ele, ao seu rosto, seu gosto, tudo isso que vem de você e não me deixa em paz.
Queria saber quais são as coisas pra te prender e te ligar a noite pra te contar um sonho ruim, depois de acordar chorando. E assim como o poeta, eu vivo inventando o nosso amor, pra me distrair, esquecer a triste realidade: isso tudo faz parte do meu show. Ai, amor, meu amor... eu só quero paixão, fogo e segredo.
Ele, o poeta, se diz ser um exagerado. Eu também sou, por mais que ainda não consiga te provar, mas pode ter certeza que eu estou jogado aos seus pés. Mas vai saber se eu te nego, bem no último instante. No fundo, eu nem ligo. Ou não.
Falaram que ele estava louco, o poeta. Eu também estou, por te querer assim, por pedir apenas um sorriso, um abraço, um carinho... e me dar por feliz com isso. Mas a frase mais coerente com que sinto tamanha aproximação comigo é que quem ama nessa vida, às vezes ama sem querer, e que a dor esconde uma pontinha de prazer. Sofro pra te amar, mas sinto um prazer em sentir isso, minha flor, meu bebê.
Mas o tempo não para e a vida continua. Tenho que parar de me privar das coisas pelo simples fato de você existir.


O poeta disse: "Hoje eu vi alguém bebendo a água do poço que tanto quero. E só então notei que morrerei de sede se não olhar para o outro lado do rio". Mas esse poeta ninguém conhece, pois mesmo a vida dele sendo um livro aberto, o seu sentimento marjoritário continua fechado a sete chaves em seu diário secreto.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Fechado para Mudança

Fechei a porta pra mudança e abri a janela pra bater o sol.

"Vamos, de preferência ande rápido e tira todas as teias de aranha, eu não quero mais ver toda essa sujeira por aqui. To olhando a sala inteira e ainda vejo um restinho de poeira juntado no canto da parede, alí pertinho do sofá.
Arraste os móveis, tire-os da minha frente e limpe bem onde eles estavam em cima. E se a gente mudasse um pouco da disposição deles? Mudança nunca é demais, mas.... será que só mudar de lugar e não os elementos, vai mudar alguma coisa? Hum.... não sei, não to muito afim de pensar, mas vai limpando também alí debaixo do sofá.
Abre bem essa janela que o cheiro de poeira irrita o meu nariz. Essa alergia é meio foda, você sabe como eu sou com minhas "ites" da vida. Não é fácil, mas eu pensei no que tinha dito. Se mudarmos só de lugar, sentiremos a diferença e ficaremos felizes, mas estaremos acostumados com os móveis aqui ou alí, são os mesmos, já estão meio antigos, né? E se a gente mudasse eles, sei lá. Vamos vender, jogar fora, dar pra alguém que esteja procurando. Todo móvel tem a sua casa, né? É a velha história de que toda laranja tem a sua metade... só que com móveis.
Tava reparando aqui também em outra coisa, enquanto você tava tirando tudo daí... essa parede tá tão crua, né? Acho que tá faltando uma corzinha aí... que tal um vermelho? Não, bem clarinho, óbvio. Não to afim de uma coisa muito forte por enquanto... pra mudar, tem que ser bem devagarzinho e um vermelho muito forte pode chocar tanto eu quanto você, ou até nós dois... imagina? Que horror... não ia dar certo.
E essa janela podia ser maior né, gostaria de ver mais as coisas, e gostaria que as pessoas olhassem pra ela também. Vai saber se alguém não se interessa, o que você acha? Minha mãe disse uma vez, se não me engano, que as janelas são os objetos que mais se identificam com o morador. Tipo, se você olhar pra janela de tal casa, você vai saber como é quem mora dentro dela. Genial, acho que poderíamos aumentar essas janelas, ou deixá-las mais bonitas, mais vivas e atraentes.
Ei, você tá me ouvindo? Eu sei que falo e penso muito e as vezes você não me acompanha, mas eu não queria que você ficasse aí quieto o tempo inteiro, né? Fala comigo, dê a sua opinião, eu não quero mais que você fique aí achando que só eu sou o dono da verdade e tudo que eu quero e penso tem que ser como vai ser feito. Colabora, Cérebro, o que você acha?"

Mas o sol está escondido sob o céu nublado.

"Eu não acho nada, Coração..."

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Flashback

É estranha aquela sensação de que você está ficando mais velho. Na verdade, você não está mais velho a partir do dia em que você completa x anos de vida. Nós só envelhecemos se permitirmos isso. E o que são vinte anos? Nada mais do que um ano após seus dezenove.
São só duas décadas, iniciadas na queda do Muro de Berlim e terminadas na época da Gripe Suína. Em vinte anos, eu vi muita coisa, mas não vi metade do que as de quarenta viram. Não vi metade também do que algumas de dez andam vendo por aí.
Eu já fui bem mais de curtir e celebrar essa data que dizem ser comemorativa, mas hoje não mais. O que vier é lucro, sabe? Talvez completar vinte anos seja algo como uma época meio que deprê, não sei... talvez alguém que já tenha feito vinte anos possa me explicar.
Só sei que foram belos vinte anos.
Eu pude conhecer e ser bem apegado à minha família. Pude escolher estudar no período da tarde e conhecer pessoas maravilhosas, que me fizeram sofrer quando eu completei os meus, já não sei, onze anos? Talvez menos...
Pude fazer um amigo mineiro que voltou para Minas, pude ter minha febre Harry Potter que me fez conhecer um lugar mágico que hoje eu chamo de grandes amigos, mas já foi conhecido por mim e por muitos como acampamento. Pude chorar verdadeiramente, e desesperadamente, diga-se de passagem, quando os deixei naquela tarde de janeiro, em frente ao posto da polícia militar, pertinho alí do Parque do Ibirapuera. Me lembro como se fosse ontem, mas já fazem oito anos...
Não tive a liberdade de escolher o período da manhã e isso me entristeceu, mas hoje eu agradeço e dou risada de lembrar de muitos momentos que passei com aquelas pessoas. Pessoas essas que talvez não tenham sido verdadeiras amigas - afinal, não tenho contato direto com nenhuma - mas fizeram do meu ensino médio, o colegial, uma coisa inesquecível.
Sem contar que foi graças ao período matutino que eu conheci o primeiro amor verdadeiro. A primeira namorada a gente não esquece, jamais. Foi bom e foi ruim, foi desesperador terminar e bateu alguns momentos de remorso quando voltamos, mas o um ano e sete meses (e dois dias) que ficamos juntos valeu muito a pena.
Eu também entrei na faculdade, conheci pessoas novas, entrei no mundo das drogas e tive medo de ficar preso à ele, mas não fiquei - e hoje eu sei que posso viver sem a sua fumaça. Me diverti do jeito que julgava certo, eu ri das coisas mais bobas, nunca chorei na frente de ninguém. Fui atrás do meu emprego dos sonhos.
E não faz nem um ano que eu encontrei um que, querendo ou não, mudou bastante a minha vida, me fazendo ser o que sou hoje. Uma agência aí que nunca ouvi falar antes, mas que me tornou e está me tornando num ótimo profissional. Foi graças à ela que conheci muita gente que são meus amigos.
E aqui eu quero abrir um parênteses: eu sempre fui muito amigo e querido por todos, mas nunca semeei muito essas amizades. Se durasse alguns meses, seria ótimo. Se durassem semanas, era o suficiente.
E desss amigos que conheci, pude fortalecer fortes laços até na faculdade. Me tornei responsável, me tornei referência. Pude trocar palavras com aquela que eu achei que poderia ser o amor da minha vida. E quer saber? Até hoje eu não sei se ela é ou não... mas eu não quero saber, na verdade eu tenho receio de descobrir.
Pois é, vinte anos... e tem gente por aí que diz que somos jovens. Mas somos jovens que vivem como adultos, ou somos adultos que ainda querem ser jovens? Somos pensadores, somos o hoje que pode mudar o amanhã.
Não sei se são todos, mas eu sei que sou alguém que pensa demais. E de tanto pensar na pergunta acima, pude notar que tenho uma lista de respostas para aquela pergunta alí em cima. Mas a mais coerente é transcrita em uma única palavra: vinte.
E isso é só a ponta do cataclisma...

domingo, 30 de agosto de 2009

Queria saber voar...

Queria saber voar, chegar lá no alto e olhar aqui pra baixo. Tocar nas estrelas, sentí-las geladas, mesmo sabendo que são quentes. Perderia o medo de altura, que só tenho pelo receio de poder cair... mas eu flutuaria, assim como os meus pensamentos.
Se eu voasse, eu te levaria lá pro alto, uma vista mais bonita do que a que poderíamos ver juntos da Torre Eiffel. Percorreríamos a Muralha da China no tempo que nos fosse preciso e visitaríamos todos os cantos do mundo, de mãos dadas no céus. Te levaria para as Sete Maravilhas do Mundo e depois as do Mundo Moderno.
Buscaria o algodão que forma as nuvens, os cristais que brilham nas estrelas e armazenaria a luz da Lua em um pequeno pote pra você se sentir segura, caso tenha medo, um dia, do escuro.
Queria saber voar. Assim poderia escapar de todos os meus problemas e trazer as soluções para todos os nossos. Visitaria todo o mundo e todas as pessoas que eu poderia sentir saudades. Fugiria do perigo, pularia do avião se ele estivesse caindo, me salvaria de todas as possíveis maneiras de ter um fim trágico.
Mas então paro e penso. Qual seria a graça de ter tudo que eu bem quisesse sem ter de lutar por aquilo? Qual a graça de não sentir saudades, qual seria o objetivo da minha vida sem ter pelo o que lutar? Seria tão mágico quanto eu penso, poder ter tudo ao meu alcance? Nós, seres humanos, vivemos com um único objetivo: ter objetivos.
É... queria saber voar, não nego. Mas acho que estou bem mais feliz com meus pés no chão...

sábado, 29 de agosto de 2009

Minha pedra

Ando meio desligado e sem vontade. Ando pelo mundo, atravessando as ruas sem olhar e me preocupar se está vindo o carro. Eu ando assim faz tempo, com as duas pernas cansadas, com os pés ardendo e o olhar para baixo.
Ando notando que perdi a graça, que deixei o foco e escondi debaixo da cama o velho caderno de anotações. Ando fumando mais, bebendo mais e me perdendo mais. Ando perdido e sem visão, cego do cérebro. Ando deixando algumas memórias pela metade.
Nas ruas ou em casa, eu ando. Para baixo, para cima, para frente... mas ultimamente eu ando é parado. Ando pensando em mudar, cortar o cabelo de uma maneira diferente, esquecer o passado que ainda é presente e que me tormenta em ser o futuro.
Ando desligando a luz ao entrar no túnel, só pra poder ver você iluminando o final dele. Ouço músicas de amor, só pra andar pensando em você. Ando pensando muito.
Caminho sempre em frente, olhando as vezes para trás... mas parece que por onde eu ando, sempre vou me encontrar com você, minha pedra...

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Você é uma droga

Você chegou faz uns 3 ou 4 anos, não consigo me lembrar, mas tudo bem. A culpa não é minha, você me faz girar, perder a cabeça. Não sei se estou melhor com você ou se fico bem pior quando você não está presente.
Você é uma droga!
Não sei se realmente eu gosto de você, não sei se você é a melhor coisa pra mim. Você já me fez passar muito mal, mas na maioria das vezes que nos encontramos, o prazer foi certo. Não posso negar que eu te amo. Você me faz muito bem!
Nas vezes que estamos juntos, eu não me importo se você vem pra passar alguns segundos, durar poucos minutos e eu aproveitar a minha felicidade o resto da noite apenas com você na minha cabeça, ou se você vem, faz uma hora ou duas sem se envolver comigo, depois começamos as nos tocar e por fim, como na maioria, você vai embora. O que eu gosto mesmo é de quando você vem e faz uma horinha comigo, depois me envolve no seu perfume e depois dorme aqui, pra eu aproveitar o restinho que te sobra durante a manhã.
Você é uma droga!
Você é, querendo ou não, um amor a curto prazo. Só mais uma que sempre vem e já se vai. Você é o gosto do mel que se esgotou, e cá entre nós: que mel, hein? Você é uma coisa passageira. Tenho que fingir até pra minha mãe que você não existe. Meus amigos não sabem o que pensam de você. Uns adoram sua companhia (e deixo aqui meu parenteses: esses só fingem ser meus amigos), outros preferem que eu não ande com você. Tem uns ainda que acham que você não me faz bem, mas que não se importa se eu estiver sobre efeito da felicidade que você me traz.
Você é, sem dúvida, uma droga! É uma longa aventura de amor e ódio. Uma longa filosofia num café francês. Sem dúvidas, você é uma droga.
Você me dá sono, me dá fome de viver, de sorrir. Sem você, eu sobrevivo. Mas com você, eu sobressaio. Eu vivo a vida, eu sinto meu sangue correr, sinto o calor do meu coração palpitar cada célula do meu corpor num festejo de felicidade talvez nunca sentido antes. Você sempre me surpreende, me impressiona. Nunca foi pior, os nossos encontros. Sempre é cada vez melhor.
Mas cá entre nós, numa boa: eu sei que você não me faz bem e que eu viveria bem melhor sem você. E se viessem me perguntar se eu quero ter mesmo uma filha, eu respondo: "Sim, eu quero ter." Mas com você eu não quero estar.
É... você é uma droga!

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Sem Ficção Por Hoje

As vezes me pergunto se Deus é realmente fiel e justo à Suas decisões. Com tantas catástrofes e desesperos rodeando o mundo, nos cercando num meio de desilusões e tristezas que acho que a maior vontade Dele é nos ver em lágrimas. A tal psicologia que diz "bater em seus filhos para que eles aprendam o certo". Pra mim isso é errado e talvez possa me arrepender de estar julgando decisões divinas, mas se Ele for tão bondoso como dizem, ele vai entender o meu sentimento de desprezo e decepção e irá me perdoar.
Ele era um homem como qualquer outro. Forte e alto, bem saudável e esportista. Com mais de dois metros de altura e cem kilos bem distribuídos, ele era sempre um ponto de referência no meio da multidão. "Está vendo aquele cara alí, aquele altão com um sorriso estampado, uma cara de simpático".
Um homem de característica bem viril, porem dócil como uma flor. A aparência de quem dominava sempre a situação, não deixando-a submeter à liderança. Ele tinha todo o controle e, acima de tudo, ele era feliz.
Casado com sua princesinha, toda a imagem máscula que tinha nas ruas, no trabalho e em qualquer outro ambiente externo era praticamente anulado da porta de casa pra dentro. A tratava com carinho, sorria toda manhã ao acordar do lado dela. Estavam sempre juntos em todos os lugares. Eram um casal que acima de tudo se respeitavam e se completavam.
Mas Deus prega peças e nossa vida muda. Hoje o homem que parecia tão forte chora no ombro da sogra. A muralha sucumbiu. Não sabe o que se passa na cabeça das outras pessoas, mas pouco se importa. Ele chora a perda de algo que ele chegou a acreditar que seria pra sempre, que jamais perderia.
Hoje ele chora o amor que foi-se embora, mas mal sabe ele que o amor sempre vai ficar alí. O amor, diferente do que muitos pensam, é um sentimento involuntário. Não se precisa de um coração ou de um cérebro para se amar. Basta ele sentir e lembrar de que a pessoa amada correspondia tudo que ele sentia.
Mas as lágrimas secavam seus pensamentos, o desespero cegava seu cérebro e sua ira contra Deus bloqueava sua sanidade. Ele perdera a mulher da sua vida, ela virou uma estrela. Descanse em paz, Michelle Servais.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Olhos vermelhos

Aqueles olhos vermelhos querem dizer algo
Querem gritar, bater na mesa, saltar pra fora da órbita
A ira que os cerca envolve os ares em lacrimejos
Enraizam no cérebro a repetição dos pensamentos.

Aqueles olhos vermelhos descansam
Olham fixamente pro ponto nulo do céu
Imagina-se preso, sufocado num véu
E então é coberto pela manta da pálpebra

Aqueles olhos vermelhos acordam
Cegos pelo céu, emudecidos pela lua
Mortos vivos de uma noite mal percebida

Aqueles olhos vermelhos choram
E chorando assim voltam a se fechar.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Flutuando Pensamentos

Tá bom, eu confesso que sou meio estranho. Dramático por natureza, exagerado por simples opção. Me entrego à romances que mal existem, fantasio histórias baseadas em filmes e idealizo o par perfeito, mas tudo isso só pelo instinto do ser humano que formei dentro de mim.
Hoje, sentado ao pé da janela da sala escura, fumo um cigarro e choro. Não sei se é por mim, não sei se é por você, por todos ou por nós dois. Olho pro céu cinzento lá fora, em seus tons púrpuras junto à massa cinzenta da poluição. Pra mim aquilo é arte, obra divina. Pra muitos, apenas mais um céu da cidade grande.
As luzes acesas dos meus vizinhos iluminam a sala superficialmente e ao fundo eu ouço a trilha sonora da minha madrugada. A melodia perfeita, o momento ideal e a lágrima sofrida de alguém que nunca deixou de ser alguém, ou ninguém. Apago o cigarro e deito no carpete, ainda olhando pela janela.
São tantos os pensamentos que me rodeiam, são tantos os nomes que me lembram, são tantos os momentos que me voltam que eu nem sei por onde começar. Me jogo, me pinto, vou pro meio da rua e grito. Esse sou eu e tudo que fiz não foi pra impressionar. Eu faço porque sou e não apenas porque quero ser.
O soluço que ouço já não vem mais de mim e então percebo que não sou o único coração naquela sala. Há, no mundo, muita gente e semelhanças. O que pode ser fatal pra você, é simplesmente cordial pra mim. Aceitemos as diferenças.
Agora o silêncio paira sobre o ambiente, flutuando todos os pensamentos que estavam em órbita no meu cérebro. O choro cessa no mesmo instante em que o último acorde é feito. Definitivamente: lavei a alma.
Um gesto tão simplório pode causar pantomimas constantes. Redundância, porém cabível. Buscamos a forma perfeita, dizer tudo que sentimos e pensamos com o corpo, com os olhos. E são nesses gestos simplórios que recitamos os melhores poemas.
A última lágrima cai e eu já nem me lembro o porque. O soluço que era de desespero imperceptível se transforma num suspiro de alívio da tensão. Olho pela última vez pela janela e vejo a lua. Fecho as cortinas.
Está na hora de pensar mais no que tenho por perto e deixar os pensamentos flutuantes de lado.

domingo, 2 de agosto de 2009

Sonhadores

Oito e meia e o relógio toca, despertando-me dos sonhos de uma realidade inexistente. É triste viver a realidade de ser um sonhador, pois o mundo vive, a Terra gira, o universo conspira e as personagens vestem seus figurinos na esperança de não serem realmente descobertas. E os sonhadores? Bom, eles vivem nas coxias do espetáculo sonhando em um dia, quem sabe, estabelecer uma personagem forte o suficiente pra sair detrás dos bastidores.
A platéia está sempre lotada, a contra regragem é realizada com peculiaridade intensa e as luzes já estão prontas pro show começar. Os astros e estrelas são aplaudidos em cada cena e os sonhadores vivem na tristeza do submundo, escondidos atrás de cada cenário, de cada cadeira, de cada fala ensaiada.
Uma peça infantil, um conto de fadas. A esperança de encontrar a fantasia perfeita que se encaixe em simetria com os objetos do local, esquecendo que o mundo ideal não existe.
É, está na hora de sair da Terra do Nunca e deixar de viver no País das Maravilhas....

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Conversas são apenas conversas

Conversas são apenas conversas.
Arte comunicativa, exata e subjetiva.
Três dos quatros cantos
Dois corpos em um só espaço.
Conversas são apenas conversas.
Da natureza morta ao remédio.
Corta a luz e mata o tédio.
E ainda sobra tempo para o chá.
Conversas são apenas conversas.
Do amor profundo, a intuição.
Do mais egoísta, a intenção.
Do mais indeciso, a objeção.
Do mais desrespeituoso, a subversão.
Conversas são apenas conversas.
Não há criptografias sistemáticas
Não têm organização secreta
É só mais um reflexo do espelho
Mais um tempo perdido e guardado
Conversas são apenas conversas.
E só elas podem criar o que ninguém jamais conseguiu antes:
A arte de dizer o que se sente em palavras desconhecidas.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Tiro certeiro

Aquele garoto vivia na rua. Descia o morro logo cedo com uma cesta de compras, roubada do mercadinho lá do centro. Lotava de docinhos e ia de coletivo em coletivo pra ganhar seus trocados. A mãe, mulher humilde, trabalhava na casa de uma patroa cheia da grana, o pai era pedreiro de obras pesada, mexia cimento e carregava concreto feito papel. O irmãozinho ficava na creche, tomando o tempo da professora mau humorada.
De uniforme, subia pela porta traseira e recitava seu velho poema, pobre de rimas mais pobres ainda, tentando ludibriar os trabalhadores de todas as manhãs. A tarde, corria pra escola pra pegar a hora da merenda, um arroz mal cozido com batatas quase cruas e uma carne de terceira que, diga-se de passagem, ele amava. Afinal, era a única refeição decente que ele tinha durante todo o dia.
Subia as escadas para a sala de aula mal educada. Carteiras quebradas, lousas pixadas, chão destruído, janelas fechadas. Um forno assando mentes que poderiam ser brilhantes, mas não são. Entre bafafás aqui e burburinhos alí, tentava ouvir a professora que estava sentada em silêncio, lendo um livro da capa vermelha e dura. Então decidiu olhar pela janela.
Aquele garoto era um sonhador. Sonhava com a vida do garoto da novela que a mãe assistia nas noites de sábado - nos outros dias trabalhava até tarde. Queria simplesmente uma família feliz, sonhava com um emprego bom, queria ser alfabetizado e não apenas semi.
O sinal tocava e ele era o primeiro a sair com sua cesta de supermercado. Segundo turno. Corria pro ponto e dava sinal pro primeiro ônibus, queria entrar pela porta lá atrás e garantir mais alguns trocados. Repetia a dose até o último minuto.
Era uma noite de segunda-feira. O garoto desceu no ponto do morro e andou alguns metros até chegar na grande ladeira. Lá de longe, ouviu-se barulhos estranhos. Era fim de mês, dia de se pagar a fiança mensal, dia de acertar as contas e continuar o trabalho mais bem pago da favela.
O que parecia fogos de artifício foi se transformando em balas de calibre indesejável. Gritaria e muvuca, gente correndo. Policiais subindo o morro, fardados em suas armaduras celestiais, donos da verdade e razão. Logo na entrada, um rapaz com a camiseta na cara agonizava em banhos de sangue, lá atrás via-se um policial sendo ligeiramente atingido na cabeça. Pura sorte, ou azar.
Parado com seu tênis velho nos pés, o garoto ficou assistindo à cena, sem saber para onde ir ou se esconder. Lembrou dos pais e do irmão caçula, todos em casa, provavelmente abaixados contra o chão, esperando acordar do pesadelo. Decidiu subir.
Era segunda-feira, pouco mais das dez da noite, quando uma bala atingiu o peito do garoto. O oficial que atirou nem viu que o matara, sequer queria. Seu propósito era matar o cara do outro lado do muro.
E alí ficou... jogado às margens do sangue, uma metáfora pra vida.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Romancistas

Um tapa na cara. Acorde pra vida. Última chamada para os sonhadores viverem a realidade.
Está posta a mesa de jantar, dois pratos e uma vela acesa. O vaso com flores está alí ao lado, lindo. Uma música romântica, um céu estrelado, um clima perfeito. Um banho demorado.
Sua melhor roupa, seu melhor suéter, seu mais cheiroso perfume. Aquela velha mistura de felicidade e ansiedade. Olhares incansáveis para o pacote do presente, embrulhado em cima da mesa.
Os maços de cigarro ficam intactos, mesmo com a vontade absurda de acendê-los, todos de uma só vez. Vai até o fogão, dá uma olhada na comida, janta feita com carinho. Vai ser a noite perfeita. A champagne está preparada, as taças na mesa, os talheres postos de forma simétrica.
Ofegante. Respiração profunda. Coração acelerado. Fecha os olhos, se acalma.
Uma hora.
Silêncio. Falta pouco, alguns minutos. O celular em cima da mesa de canto, ao lado do abajur. Abre uma janela e outra, fecha a primeira, tentando encontrar a melhor passagem de vento, para que a comida não esfrie.
Duas horas.
Cadê? Preocupação começa a invadir. Pega o celular e disca. Aperta o verde, mas logo em seguida o vermelho. Tenha calma. O cigarro ainda nem foi aceso, não precisa botar os pés na cabeça.
Três horas.
Pega o celular e disca. Caixa postal. Silêncio novamente.
Quatro horas.
Desfaz a mesa e se dá conta. Acorda pra realidade e deixa de ser um sonhador.

É... acho que romances só existem pra se escrever...

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Evitar

O que se pode evitar? A gente subverte o pensamento e põe os pés na cabeça, o coração no cérebro e os olhos nos ouvidos. E depois, caminha cabisbaixo pela praia dos desiludidos, perguntando-se porque não evitou quando pôde. Mas são nessas caminhadas e controvérsias pensantes que talvez você encontre a beleza.
Para que evitar a pergunta, se a resposta é sempre uma porcentagem maior favorecida à positiva? Pode ser, quem sabe, que a maré suba. Pode ser também, vai saber, que os barcos afundem, que os peixes morram, que o sol apareça mais cedo. Quem sabe? Ninguém, mas não se pode evitar.
Cacos de vidro enterrados na areia fofa, escondidos entre os pisares de quem caminha na incerteza da semelhança. Evita-se olhares entre os transeuntes, contato é mero esbarrão e conversas são vazios extremos, perdidos no buraco negro do universo. Universo esse que não se pôde evitar.
O que se pode evitar? O mundo é esse "sei-lá-do-faz-de-conta" que faz você ir, andar, correr e voltar. Uma escada sem sinalização, que pela ordem pré-estabelecida, usam-na sempre do lado direito. Uma estrada de terra lisa com buracos no meio, ou até uma estrada esburacada com laterais lisa, como vou saber?
O espetáculo é seu, mas sinto muito em dizer: você não pode evitá-lo. Uma hora a cortina se abrirá e o que foi-se escondido e submerso em seus pensamentos, todos irão saber.
Esse é o caminho só, a busca pelo nada que se pode evitar. E quando alguém pergunta o que você busca evitar, você simplesmente vai responder:
"Eu sei lá..."

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Piscando os olhos....

Ontem, tive uma dúvida em como escrever certa palavra. Procurei num dicionário online, salvo em meus favoritos, e achei a forma correta, depois disso consegui terminar meu e-mail superimportante para meu cliente e cliquei em enviar. Liguei para ele para avisar que tinha acabado de lhe mandar o e-mail, para ele checar e responder assim que possível. Estava com um pouco de pressa.
No tempo vago que tive, esperando a resposta, abri um site e joguei um jogo em flash, enquanto conversava com meu colega de trabalho que senta do meu lado e confesso: dei muitas gargalhadas naquele instante.
Minutos se passaram e o e-mail não foi respondido. Aproveitei a chance para poder ir até a padaria comer um lanche e ainda tive tempo de postar no meu blog o que tinha feito no dia, contando tudo nos mínimos detalhes. Voltei ao trabalho e tinha recebido o e-mail. Continuei meu trabalho.
Hoje tive outra dúvida de como escrever certa palavra. Busquei no Google e ele me deu a resposta certa. Após tirada, desci até a lanchonete para tomar um lanche, enquanto mandava um SMS para o cliente, perguntando-lhe algo extremamente importante. Mal cheguei lá e ele já tinha me respondido.
Voltei ao trabalho e me sentei na frente do computador, abri três abas no navegador. Minha caixa de e-mails para mandar o trabalho já feito ao cliente, o Twitter para escrever o que estava fazendo e um site de jogos para baixar um jogo.
No tempo vago, conversava com meus colegas pelo MSN e jogava o novo game no meu celular.

Ah! Ontem eu estava em 2008 e hoje estou em 2009. E me dá medo só de pensar o que me espera amanhã, em 2010.

domingo, 19 de julho de 2009

A Rua

Ando por uma rua escura, numa noite calma. Sinto medo, mas não é o medo dos perigos que ela me oferece e sim o que me acompanha... Toda silenciosa e serena, hora e meia penso até que ela ficou pra trás, mas é questão de minutos para voltar a perceber sua presença.
A rua vazia me traz calma, apesar de estar com ela. Ao meu lado desde a hora que entrei na rua, não me deixou por um instante sozinho. Confesso que senti a sua falta quando estava longe, mas agora não aguento mais. O som ecoa entre as ruelas, rebatendo no chão de pedras a eferverosa voz sumindo pelo céu escuro. "Me deixe em paz!"
Não satisfeita em andar ao meu lado, chega um momento que ela segura a minha mão e caminha comigo pela rua. Eu falo, eu tento uma aproximação, mas ela gosta do vazio. Não fala nada e continua andando. Passo na frente de um bar movimentado. Garotos e garotas bebendo e conversando, rindo entre um cigarro e outro, se divertindo.
Eles me olham e pensam que estou sozinho. Ouço as vozes se dissipando no vento gelado daquela noite, baixo a cabeça e continuo o caminho. Subo o aclive da rua e sinto-a subindo em minhas costas. Ela está cansada e não quer mais andar, me dando a chance de falar pra ela ficar pra trás e descansar. Uma chance pra eu fugir.
Eu luto, eu tento esquecer, mas ela faz questão de assoprar no meu ouvido que está aqui. Enfim, chego em frente à porta e pego meu molho de chaves no bolso da calça. Encaixo a chave na fechadura e dou uma volta. Sagaz, entro rapidamente e fecho a porta com força, dando duas voltas com a chave, trancando-a pra fora. Liberdade.
Subo as escadas e deito minha cabeça no travesseiro. As luzes apagadas, a janela fechada, o frio lá fora chamando por mim. Fecho os olhos e sinto a respiração alheia.
Ah, solidão. Por que me acompanhaste tanto?

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Nostalgia

Vez ou outra me lembro do cheiro da manhã perdida. De chegar a tarde na casa da minha tia e ouvir a vinheta do desenho começar. Lembro da almofada que me sentava no chão e do banquinho de madeira que usei por muito tempo como mesa. Ouço minha vó reclamar de mim e ainda sinto o gosto de vinagre que era forçado a ingerir junto à salada.
Lembro do carro velho do vizinho gente boa, que descobri esse ano que parou de fumar por um incômodo no peito. Carro esse que nos levava até a escola, uma viagem de nem 5 minutos. Ouço a tia do cabelo cocobongo gritar, brava que só ela, e sinto suor de lembrar a corrida todas as tardes e meu joelho dói e sinto pena da minha mãe quando lembro a sujeira que ficava no joelho. Graças a Deus, ela nunca me colocou joelheiras na calça. Achava ridículo.
O sono vem quando eu lembro das tardes que chegava em casa e almoçava. Cesta era uma divindade espanhola que eu aprendi a ter como hábito. Ainda ouço minha respiração no silêncio que era aquela casa durante as tardes. Perco a respiração de lembrar o primeiro trago e meu coração acelera de lembrar da sensação de "estou contra as regras morais do meu teto".
Lembro da ligação no celular durante uma tarde na praia, me avisando que eu era o mais novo universitário da família. Reclamações de que ela seria esquecida pelas novas universitárias chegaram, talvez ela tenha tido uma premonição, até pensei. Mas agora eu entendo que não.
Suspiro de lembrar a primeira vez que a vi, e alivio o sentimento lembrando que não sinto mais nada. Sorrio quando lembro nossos momentos bons. Os ruins? Tento esquecer...
Me lembro da entrevista, do sofá preto, das paredes brancas, da sensação boa e da energia. Amei. Entrei. Vesti a camisa. Lembro das lágrimas escondidas no banheiro com as más notícias, não só lembro, como ainda sinto, toda felicidade de ter conhecido e me aproximado de alguns, só não me pergunte como nos aproximamos. Foi tudo tão natural.
O primeiro brinde, o primeiro abraço, o primeiro tudo.
Eita nostalgia boa... e tudo isso em apenas um cigarro.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Cego, Surdo e Mudo

Maçã vermelha da casca lisinha. Aroma de pomar, gosto da manhã. Presa pelo pequeno fio de cabelo ao que chamam os mortais de árvore. Fruto poderoso da semente ativa.
Rosas agrupadas em papéis apresentáveis. Cheiro de sorrisos, pétalas da vida. Unidas pelo simples fato de aproximação de dois órgãos nada atrativos visto pelo olhar humano. É aí que mora o que esses olhos chamam de perigo.
Quem vê com os olhos da cara, enxerga a vida, mas não a sente. Fúteis e banais são aqueles que fecham as pálpebras do coração para olhar somente a tão pequena camada sólida que nos envolve. Seres humanos.
Quando vão aprender? Quantos mais temos que pular? Quantos muros escalar? Seres humanos...
São tão seres que não agem conforme a nomenclatura. Ou até agem, mas o que é ser um humano? É pensar? Pois animais pensam.
Doce ilusão da racionalidade. Os mais cegos da razão por escolherem ser cegos de emoção. Surdos, incapazes de ouvir os altos berros do amor. Mudos ao tentarem expressar o que sentem, chorando todas as lágrimas que queriam ser ditas.
A camada fina que foi denominada derme se dissipa em meio tanto pedregulho, tanta crueldade. Miséria. Misericórdia. Dê o perdão e seja perdoado pelo mais cego de todos: você mesmo. Ame e seja amado pelo mais surdo de todos: você. Queira e seja desejado pelo mais mudo de todos: você.
Ai, ser humano. Até quando você vai viver nessa lenga-lenga de ir, mas não atravessar?

domingo, 12 de julho de 2009

Voltarás....

Voltei a sorrir.
Encontrei algo com que me parece ganhar tempo e não perder.
Até senti saudade do friozinho na barriga.
Até parece que é tudo novo e talvez seja.
Voltei a sentir.
Encontrei uma maneira de cada risada valher a pena.
Senti o palpitar em minhas veias.
Senti a vida novamente.
Voltei a pensar.
E essa é a parte dramática da história.
Talvez eu esteja errado e tomei atitudes incoerentes.
Mas logo me lembro que meu passado me faz ser assim.
Voltei a não dormir.
Acendo um cigarro e olho fixamente o ponteiro girar.
O apago e ainda fico a pensar. Sentado na cama.
Deito a cabeça no travesseiro e me sinto feliz.
Voltei a tentar.
Dar a cara a tapa e viver a vida.
Encontrar a felicidade em algo que há tempos existia comigo.
Mas meu cérebro não me deixa pensar mais de duas vezes.
Você pode estar errado. Você está errado.
As horas passam e o relógio continua seu tic tac rotineiro.
O céu some com as estrelas e dá espaço ao sol.
Por que estou aqui e o que é tudo isso?
Eu não sei... mas espero que eu possa a voltar a ser feliz...

sábado, 11 de julho de 2009

Tudo passa

Tudo passa, tudo fica, tudo se transforma.
A noite é uma linda criança de pijama, brincando com seu grande castelo de sonhos.
As estrelas são suas esperanças, brilhando as chances em cima de suas cabeças.
A janela é a vida lá fora. A porta é a entrada dela.

Tudo passa, o tempo fica, o dia vai.
O céu é um eterno faz de contas.
Poesias que pairam sobre o travesseiro do menino.
Versos e estrofes da rima decorada.

Tudo passa, o vento leva e a solidão congela.
A madrugada esfria o sangue, friza no tempo que ficou.
Páginas em branco, lápis e canetas sem uso.
O barulho continua. O sopro cessa.

Tudo passa, a pele sente e o coração finge.
Paixão que fez-se de mentira.
Eternas ingratidões em vão.
A parede do quarto se fechando.

Tudo passa, os dedos tremem e a pupíla dilata.
A brasa queima até o mais frígido sentimento.
Bate forte todo o anseio pelo que chamamos de amor.
Uma mente. Uma pessoa. Uma história. Conto de fadas.

Tudo passa, tudo fica e nada se transforma.
Apenas é o que sempre foi.
E só cabe a nós querer enxergar.
Ou simplesmente viver na eterna cegueira que a vida nos permite ter.