quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O Grande Baile

A vida é uma grande baile de máscaras. As pessoas dançam conforme a música e algumas até exageram nas performances, mas as máscaras continuam a tampar suas verdadeiras faces.
Algumas são bonitas e simpáticas, outras são tão bem feitas que parecem um rosto de verdade. Poucas aqui, muitas alí, tem aquelas que ninguém perde muito tempo analisando e a graça da vida, do baile de máscaras, é você perceber quem é que usa aquela máscara do lado de fora do salão de festas.
O problema maior é que os festeiros gostam do baile mais do que a própria vida e vivem se escondendo atrás das máscaras. Uns por ter medo de revelar a verdade, outros por ter vergonha de mostrar quem realmente são. As máscaras dão um poder enorme para as pessoas, e elas tendem a cair nessa tentação de usá-las sempre.
As piores pessoas são aquelas que usam a máscara até quando estão somente entre amigos. Geralmente essas são as que são bem feitas, não tem um único risco ou detalhe que prove que é de mentira. E a pergunta que mais me faço é: quem está errado nessa situação? O mascarado ou os amigos? Afinal, amigos devem conhecer uns aos outros.
Para mim, a vida é um eterno baile de máscaras. Alguns, nesse baile, deixam a máscara cair quando exageram no álcool. Tem ainda aqueles que se fantasiam dos pés a cabeça, mas ao se olharem no espelho não saem de casa.
Conheço alguns mascarados que choram também, e são lágrimas que vem do olho debaixo da máscara. Esses são os que, depois de muito tempo, percebem que estão presos ao vício de usar uma. Mas também conheço alguns que tem olhos cegos e não se permitem saber que usam a tal face ocultante. Um dia já souberam, mas esqueceram...
E há ainda aqueles que sentem um enorme prazer em não mostrar quem realmente são. Percebem, depois de algum tempo, que a máscara pode trazer benefícios que antes não eram tão fáceis de chegar, que os mascarados que eles amam acabam correspondendo o sentimento, não por eles, mas pelas máscaras. Triste ilusão.
O medíocre usa a máscara para seu próprio bem. É, sem dúvida, um dos mais espertos do baile de máscara, pois sabe muito bem que tem uma máscara ocultando seu rosto e ele não deixa se levar pelo tentar que os benefícios te trazem.
Esses são medíocres pelo simples fato de usarem a máscara para a maldade e para o bem próprio, mas também sabem a hora de tirar a máscara para conviver entre alguns. Mal sabem eles que, uma hora ou outra, o rosto se funde com a máscara e nem ele mesmo saberá qual é a face verdadeira.
Por fim, há aquele que usa a máscara simplesmente para entrar no baile. É preciso ter para viver e ele mais usufre a dele para observar os outros integrantes da festa do que para o seu bem próprio.
É.... a vida é um eterno baile de máscaras. E podem ir avisando o DJ que ela não tem dia pra acabar.

sábado, 19 de setembro de 2009

Procura-se

Procura-se uma pessoa que perdi não sei aonde. Eu só sei que sem ela eu não consigo mais raciocinar e parece que tudo em que eu penso é uma parede branca, um fundo vazio, a mais pura cegueira.
Procuro essa pessoa, pois ela é meus olhos. Só com ela eu consigo enxergar além da vida, além da imagem. Só com ela eu me supero e sobressaio. Uma vez, com ela, consegui enxergar o amor em duas caixas de papel. Mas hoje eu não estou com ela e parece que meus dedos digitam esse texto sozinhos. Sem ela eu perco a cabeça, eu sou um ninguém sem sentido na vida.
Perdi uma pessoa que era meus ouvidos. Escutava tudo e todos, era mais centrado e divertido. Conseguia até fazer piadas, aproveitando a brecha dos meus amigos, sentado na mesa de um bar ou até mesmo em frente ao computador, no trabalho.
Eu oferço a quantia que for necessária, o mais valioso valor simbólico, mas eu só quero que tragam-na de volta para mim. Estou sofrendo, estou me sentindo um lixo, estou incapaz. Ando nervoso pra caramba, fumando um cigarro atrás do outro. Cheguei até abrir dois livros e olhar embaixo da minha cama, para ver se conseguia encontrá-la por lá.
Essa pessoa era o meu olfato. Com ela, as coisas ficavam mais cheirosas. Conseguia fazer do lixão, uma floreira gigante. E desculpe-me as próximas palavras, mas até o meu cocô cheirava bem. As rosas, então, perfumavam a minha vida por completo, e eu era bem mais feliz assim.
Mas hoje estou só, estou para baixo. Nem concentração eu consigo ter, muito menos um pensamento bom. Sem ela, eu perco a cabeça, não tenho sentidos.
Procuro o meu paladar, que também era essa dita cuja. Eu tinha gosto por tudo, até mesmo pela vida. Vida essa que agora não tem mais gosto de nada, nem doce e nem amargo. Estou desgostoso, desamparado.
O meu tato se foi junto com a pessoa. Eu não sinto nada. Quando estava com ela, eu sentia cada coisa que eu tocava com a maior sensibilidade que você possa imaginar. Mas ela se foi e me deixou aqui, incapaz de encontrar uma simples palavra no escuro.
Procura-se uma pessoa que me faça voltar a pensar e a ser alguém. Pago mundos e fundos pra ter ela de volta, pra ter a minha vida de volta e para voltar a ter idéias mais felizes.
Procura-se uma pessoa atendida pelo nome de inspiração.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

O meu poço não é meu

O poeta uma vez disse que mentiras sinceras lhe interessavam. Eu fui na onda dele e até cheguei a pensar que eu vivia uma mentira sincera dentro de mim, expondo o mais mentiroso sentimento do século. Talvez até agora possa ser uma mentira sincera.
Esse mesmo poeta disse, certa vez, que as vezes ele odiava certo alguém por quase um segundo, mas depois amava mais. Me sinto preso, como ele, ao seu rosto, seu gosto, tudo isso que vem de você e não me deixa em paz.
Queria saber quais são as coisas pra te prender e te ligar a noite pra te contar um sonho ruim, depois de acordar chorando. E assim como o poeta, eu vivo inventando o nosso amor, pra me distrair, esquecer a triste realidade: isso tudo faz parte do meu show. Ai, amor, meu amor... eu só quero paixão, fogo e segredo.
Ele, o poeta, se diz ser um exagerado. Eu também sou, por mais que ainda não consiga te provar, mas pode ter certeza que eu estou jogado aos seus pés. Mas vai saber se eu te nego, bem no último instante. No fundo, eu nem ligo. Ou não.
Falaram que ele estava louco, o poeta. Eu também estou, por te querer assim, por pedir apenas um sorriso, um abraço, um carinho... e me dar por feliz com isso. Mas a frase mais coerente com que sinto tamanha aproximação comigo é que quem ama nessa vida, às vezes ama sem querer, e que a dor esconde uma pontinha de prazer. Sofro pra te amar, mas sinto um prazer em sentir isso, minha flor, meu bebê.
Mas o tempo não para e a vida continua. Tenho que parar de me privar das coisas pelo simples fato de você existir.


O poeta disse: "Hoje eu vi alguém bebendo a água do poço que tanto quero. E só então notei que morrerei de sede se não olhar para o outro lado do rio". Mas esse poeta ninguém conhece, pois mesmo a vida dele sendo um livro aberto, o seu sentimento marjoritário continua fechado a sete chaves em seu diário secreto.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Fechado para Mudança

Fechei a porta pra mudança e abri a janela pra bater o sol.

"Vamos, de preferência ande rápido e tira todas as teias de aranha, eu não quero mais ver toda essa sujeira por aqui. To olhando a sala inteira e ainda vejo um restinho de poeira juntado no canto da parede, alí pertinho do sofá.
Arraste os móveis, tire-os da minha frente e limpe bem onde eles estavam em cima. E se a gente mudasse um pouco da disposição deles? Mudança nunca é demais, mas.... será que só mudar de lugar e não os elementos, vai mudar alguma coisa? Hum.... não sei, não to muito afim de pensar, mas vai limpando também alí debaixo do sofá.
Abre bem essa janela que o cheiro de poeira irrita o meu nariz. Essa alergia é meio foda, você sabe como eu sou com minhas "ites" da vida. Não é fácil, mas eu pensei no que tinha dito. Se mudarmos só de lugar, sentiremos a diferença e ficaremos felizes, mas estaremos acostumados com os móveis aqui ou alí, são os mesmos, já estão meio antigos, né? E se a gente mudasse eles, sei lá. Vamos vender, jogar fora, dar pra alguém que esteja procurando. Todo móvel tem a sua casa, né? É a velha história de que toda laranja tem a sua metade... só que com móveis.
Tava reparando aqui também em outra coisa, enquanto você tava tirando tudo daí... essa parede tá tão crua, né? Acho que tá faltando uma corzinha aí... que tal um vermelho? Não, bem clarinho, óbvio. Não to afim de uma coisa muito forte por enquanto... pra mudar, tem que ser bem devagarzinho e um vermelho muito forte pode chocar tanto eu quanto você, ou até nós dois... imagina? Que horror... não ia dar certo.
E essa janela podia ser maior né, gostaria de ver mais as coisas, e gostaria que as pessoas olhassem pra ela também. Vai saber se alguém não se interessa, o que você acha? Minha mãe disse uma vez, se não me engano, que as janelas são os objetos que mais se identificam com o morador. Tipo, se você olhar pra janela de tal casa, você vai saber como é quem mora dentro dela. Genial, acho que poderíamos aumentar essas janelas, ou deixá-las mais bonitas, mais vivas e atraentes.
Ei, você tá me ouvindo? Eu sei que falo e penso muito e as vezes você não me acompanha, mas eu não queria que você ficasse aí quieto o tempo inteiro, né? Fala comigo, dê a sua opinião, eu não quero mais que você fique aí achando que só eu sou o dono da verdade e tudo que eu quero e penso tem que ser como vai ser feito. Colabora, Cérebro, o que você acha?"

Mas o sol está escondido sob o céu nublado.

"Eu não acho nada, Coração..."

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Flashback

É estranha aquela sensação de que você está ficando mais velho. Na verdade, você não está mais velho a partir do dia em que você completa x anos de vida. Nós só envelhecemos se permitirmos isso. E o que são vinte anos? Nada mais do que um ano após seus dezenove.
São só duas décadas, iniciadas na queda do Muro de Berlim e terminadas na época da Gripe Suína. Em vinte anos, eu vi muita coisa, mas não vi metade do que as de quarenta viram. Não vi metade também do que algumas de dez andam vendo por aí.
Eu já fui bem mais de curtir e celebrar essa data que dizem ser comemorativa, mas hoje não mais. O que vier é lucro, sabe? Talvez completar vinte anos seja algo como uma época meio que deprê, não sei... talvez alguém que já tenha feito vinte anos possa me explicar.
Só sei que foram belos vinte anos.
Eu pude conhecer e ser bem apegado à minha família. Pude escolher estudar no período da tarde e conhecer pessoas maravilhosas, que me fizeram sofrer quando eu completei os meus, já não sei, onze anos? Talvez menos...
Pude fazer um amigo mineiro que voltou para Minas, pude ter minha febre Harry Potter que me fez conhecer um lugar mágico que hoje eu chamo de grandes amigos, mas já foi conhecido por mim e por muitos como acampamento. Pude chorar verdadeiramente, e desesperadamente, diga-se de passagem, quando os deixei naquela tarde de janeiro, em frente ao posto da polícia militar, pertinho alí do Parque do Ibirapuera. Me lembro como se fosse ontem, mas já fazem oito anos...
Não tive a liberdade de escolher o período da manhã e isso me entristeceu, mas hoje eu agradeço e dou risada de lembrar de muitos momentos que passei com aquelas pessoas. Pessoas essas que talvez não tenham sido verdadeiras amigas - afinal, não tenho contato direto com nenhuma - mas fizeram do meu ensino médio, o colegial, uma coisa inesquecível.
Sem contar que foi graças ao período matutino que eu conheci o primeiro amor verdadeiro. A primeira namorada a gente não esquece, jamais. Foi bom e foi ruim, foi desesperador terminar e bateu alguns momentos de remorso quando voltamos, mas o um ano e sete meses (e dois dias) que ficamos juntos valeu muito a pena.
Eu também entrei na faculdade, conheci pessoas novas, entrei no mundo das drogas e tive medo de ficar preso à ele, mas não fiquei - e hoje eu sei que posso viver sem a sua fumaça. Me diverti do jeito que julgava certo, eu ri das coisas mais bobas, nunca chorei na frente de ninguém. Fui atrás do meu emprego dos sonhos.
E não faz nem um ano que eu encontrei um que, querendo ou não, mudou bastante a minha vida, me fazendo ser o que sou hoje. Uma agência aí que nunca ouvi falar antes, mas que me tornou e está me tornando num ótimo profissional. Foi graças à ela que conheci muita gente que são meus amigos.
E aqui eu quero abrir um parênteses: eu sempre fui muito amigo e querido por todos, mas nunca semeei muito essas amizades. Se durasse alguns meses, seria ótimo. Se durassem semanas, era o suficiente.
E desss amigos que conheci, pude fortalecer fortes laços até na faculdade. Me tornei responsável, me tornei referência. Pude trocar palavras com aquela que eu achei que poderia ser o amor da minha vida. E quer saber? Até hoje eu não sei se ela é ou não... mas eu não quero saber, na verdade eu tenho receio de descobrir.
Pois é, vinte anos... e tem gente por aí que diz que somos jovens. Mas somos jovens que vivem como adultos, ou somos adultos que ainda querem ser jovens? Somos pensadores, somos o hoje que pode mudar o amanhã.
Não sei se são todos, mas eu sei que sou alguém que pensa demais. E de tanto pensar na pergunta acima, pude notar que tenho uma lista de respostas para aquela pergunta alí em cima. Mas a mais coerente é transcrita em uma única palavra: vinte.
E isso é só a ponta do cataclisma...