quarta-feira, 29 de abril de 2009

Voltando de viagem...

Sentado num trem, ele olha pela janela a paisagem. A neve cobria grande parte do topo das montanhas lá acima. Montanhas tão altas que as nuvens no céu as cobriam, causando a impressão de névoa intensa lá em cima. As árvores próximas ao trilho eram altas e finas, formando cones verdes gigantes, mal podendo-se ver sua ponta de dentro do trem e, por mais rápido que ele corria, elas pareciam imagens estáticas, de tão sequencias na orla da floresta.
Ele estava voltando para casa, após um ano. Exatos quinhentos e vinte cinco mil e seissentos minutos de privilégios e catástrofes.
Com uma mochila nas costas e um gorro de lã acinzentado na cabeça, encostava na janela de vidro fria e relembrava de fatos importantes de sua viagem. Quantas risadas foram? Quantas ligações, quantos sentimentos de saudades ouvira.
Mas agora ele estava de volta. Trazia histórias para contar, momentos para compartilhas e presentes para distribuir. Além disso, trazia consigo o que já havia levado. Seus sorrisos, seus beijos e abraços. Ele estava de volta para a terra que nunca deixou. Deixou para trás a vida que nunca levara.
Desceu do trem e encontrou o que não queria.
Bem vindo de-volta, disse o amor.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Num piscar de olhos

Vivo numa bolha. Uma espécie de "canto só meu", quentinho e silêncioso. De olhos fechados, sinto uma confortável onda de calor que me faz sentir uma paz. Eis que me tiram desse mundo faz de contas, e uma luz muito forte me cega. Choro muito e mal posso abrir os olhos, ouço vozes de todos os lados, um apito irritante me ensurdece e sinto um desconfortável e gélido toque em meus pés.
Abro os olhos e me encontro no chão, agachado em busca de objetos que me fascinam. Pego um deles delicadamente com as duas mãos e o chacoalho, soltando uma prazerosa gargalhada, fazendo com que ela me segure no colo e me beije o rosto. Durmo.
Abro os olhos e me vejo no banco do carro, com a mochila no colo. Minhas mãos suam e minha boca fica seca, transmitindo à minha volta todo meu nervosismo. Saio e me encontro com alguns semelhantes, todos meio nervosos e ansiosos pelo que nos espera. Pisco.
Abro os olhos e me vejo sentado em uma sala com muitas pessoas. Todas estão fazendo algum tipo de teste, algumas mordem o lápis, outras olham desesperadas para o relógio e correm os olhos por todas as folhas, na esperança de encontrar alguma sabedoria que lhes falta. Leio minha prova e fecho os olhos para pensar.
Abro os olhos e me vejo careca, na rua. Abordo os carros a cada semáforo fechado e em uma dessas eu encontro você. Toda linda, porém pintada e mesmo assim eu encontrei a beleza aonde ninguém mais talvez tenha encontrado. Pisco duas vezes, para ver se não era apenas um sonho.
Abro os olhos e me vejo com um diploma na mão. Ela vem e me abraça, chora no meu ombro e se diz muito orgulhosa. Você os abraça da mesma maneira e depois nos beijamos apaixonadamente, envolvendo nossos braços em nossos corpos. Você fala algumas palavras do meu ouvido e eu fecho os olhos para sorrir.
Abro os olhos e me vejo em cima de um altar. Você, lá na porta, vem toda de branco acompanhada dele, com um buquê de flores na mão. Posso ouvir entre os murmúrios o quão linda você está. Ela está alí, sentada, com os olhos cheios de orgulho. Uma lágrima de felicidade escorre rosto abaixo.
Abro os olhos e me vejo criança, duas para ser mais exato. Um menino e uma menina, brincando em um parque. Você está do meu lado, sentados na grama, sobre uma toalha. Rimos e sorrimos. Deito no seu colo e ouço você dizer o quanto me ama. Fecho os olhos.
Abro os olhos e me vejo deitado no chão. O céu está escuro e as ruas estão iluminadas. Chove em meu rosto e eu ouço gritos. Você está do meu lado, mas não consigo lhe falar. Ouço sirenes e vozes dizendo que talvez eu não sobreviva.
Será que eu disse para ela o quanto eu a amava? Alguma vez agradeci pela vida que me deu? E quanto a você... Você vai ficar bem? Cuidará deles direitinho? Eles mal tinham idade para entenderem o que era amar, por isso nunca os disse o quanto os amei.
Deveria ter dito mais vezes bom dia e obrigado, assim como te dizer todos os dias antes de dormir e assim que acordasse o quanto eu te amo e te amaria até o fim da minha vida. E cá está ele, o fim. E não pude dizer nada disso.
Sinto muito.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Rotina?

Minha silhueta disforme acena no pôr-do-sol daquela tarde vazia. O barco se foi, está indo. Vai, vá desbravar por novos oceanos e vê se encontra os outros dois dos quais já me despedi. As terras que aqui deixaste andam sombrias e desertas, sem carinhos, só rancor.
Barco de um único marinheiro, ele partiu, deixando para trás toda a angústia e descontentamento. Acena com calma e tranquilidade, enquanto desata o nó da corda que o prende no cais, nó este que vinha se afrouxando com o tempo. Nó este que era firme como nenhum outro.
Descubra novos horizontes, mas não deixe de mandar a carta na garrafa, me contando como estão as coisas do outro lado do oceano. Mande uma carta em conjunto, encontre aquele marinheiro que se foi faz tão pouco tempo. Ajude-o, se ele estiver naufragado. Acompanhe-o, se ele estiver seguindo viagem. Oriente-o, se ele estiver perdido.
Use a bússola que eu te dei para nunca deixar de seguir o caminho certo. Erga a bandeira branca quando encontrar a paz e jogue a âncora quando firmar-se em um lugar que você realmente queira estar e ate um nó mais forte no próximo cais. Fique e conheça novos habitantes, faça amigos ou apenas fique sozinho.
Você, marinheiro, é uma pessoa de boa índole. Te idolatro e te invejo. De alma boa e sentimentos bons, sempre de cabeça erguida. Mas, de fato, é complicado quando o mar "não se está para peixe", como já dizia a minha gloriosa avó. Mas vá, eu não vou te segurar, mesmo querendo, ora sim e ora não. Reme para o destino, seja ele aonde for. Se estiver partindo em uma viagem de aventuras, boa sorte. Se estiver seguindo ao destino já traçado, boa sorte também.
Hoje o barco não é um, são dois. Um deles eu meço a força, como num cabo de guerra, para não partir. O outro eu apenas deixo a marola distanciá-lo.
Enquanto eles não partem por completo, eu vou acenando. Aceno durante o pôr-do-sol e deixo minha silhueta esconder a dor e a lágrima que escorre pelo meu rosto.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Parado de frente pro mar, sinto minhas canelas atoladas com areia. Pensamentos distintos vão e voltam como uma gangorra, um barco viking com velocidade brutal. O que me faz ser mais alguém do que outrem?
Ditar poemas de Maya Angelou e passagens de Sontag é conhecer mais da vida do que alguém que sabe trechos de músicas de Stephen Sondheim ou o quão bizarra foi a vida, e como ele transcreveu-a, de Irwin Ginsberg?
Contar piadas a la Lenny Bruce em cima de um palco, dar a cara a tapa como anônimo perante uma platéia sedenta pelo humor, morrer de descontentamento como Neruda, ter um jeito único e genial de escrever como a Miss Stein, a visão cineasta de Antonioni ou Bertolucci, saber o que se está escrito em um Carmina Burana, ter visto um filme de Havel, enfim.
Muita gente busca na história e seus nomes mais alternativos, e de pouca ciência entre a massa, uma saída para o mundo experimental. Conhecer mais e os mais desconhecidos, não o transforma no mais sábio, mas é claro que te dá bagagem cultural, basta saber como absorver tal conhecimento.
Agora chega, vou-me deitar. Apenas precisava de um pretexto para a minha "penseira" para poder dormir de cabeça vazia. Boa noite.




NOTA: todos os nomes acima citados são mencionados na música La Vie Boheme, do musical Rent.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Pois é...

Num súbito momento de reflexão, acendo um cigarro e ponho-me a escrever. Talvez sobre o tempo, talvez sobre o nada, talvez fale tudo sem sequer dizer coisa alguma. Fecho os olhos por alguns instantes e me lembro de coisas alegres, solto um sorriso besta enquanto repouso meu cigarro no cinzeiro e observo-o queimar, lentamente, e sua fumaça sobe, dissipando-se no ar, se fazendo vento como o lá de fora.
Vejo a gente na pizzaria, como eu era tolo e infantil, mas mesmo assim te conquistei. Abro os olhos e retomo ao meu vício, vício maldito que me fez te perder, junto à tantos outros vícios que me deixei apegar. Talvez no começo eu tenha ficado muito chateado, o mundo estava desabando, mas eu dei a volta por cima, superei e hoje vivo. E sou feliz.
Dou um sorriso tão besta em frente à tela que mal me reconheço. Bobagens e mentiras! Fecho os olhos novamente e me dou conta de como estou contente pelas pessoas que conheço, pela vida que levo, por toda essa significância que carrego comigo. Amigos.
A cada trago, fecho os olhos e memórias são retomadas. Cantar o hino às nove horas da manhã me trazia alegria e lágrimas no último dia. Assopro a fumaça conforme a cena muda e me vejo hoje. Repito: sou muito feliz, e vou além. Sou grato.
Por mais que ainda tenho dúvidas de quais e quem são, eu sei que posso contar com poucos e bons. Boa gente que sempre parece ter um ombro a te dar, um abraço pra consolar e um sorriso pra animar. Gente boa que sempre está de bem com a vida.
Apago meu cigarro, mas com ele não foram as lembranças. Ainda estão vivas dentro de mim e me faz pensar que nem tudo que se faz imaginar vira realidade. Estou numa nova estrada e não caminho só. Deixei para trás alguns poucos e bons, mas levo comigo um pedaço de cada.
Ao meu lado, hoje, vejo um companheiro. De violão nas costas e allstar no pé, parece estar sempre sorrindo com seu cigarro "reserva" na orelha, carta marcada. Encontrei por aí, nas típicas histórias que ninguém acredita, e eu decidi levá-lo comigo nessa jornada.
Na minha frente, caminha meu irmão, ou quase isso. Um mineirinho que comer, come, mas não é nada quieto. Um cofre onde deposito toda minha confiança e deixo nas mãos dele praticamente todo o caminho a ser trilhado.
Acendo outro cigarro e continuo a andar.
Atrás de mim vão duas garotas e um garoto. Uma delas eu tenho como uma grande amiga que mal conheço. Uma poeta que me deixa criar versos e rimas para cada momento de sua vida. A outra é ainda um enigma muito grande, talvez o maior sentimento de angústia que tenho carregado nessa nova estrada, mas eu a quero, pois me simpatizo muito.
O garoto é uma criança que tem um grande potencial, mas não enxerga. Dei-lhe o espelho, mas não quer usar, tem medo do próprio reflexo. O que lhe falta é auto-afirmação.
Do meu outro lado é alguém que eu dei a mão e acorrentei a alma. Não quero soltar, não quero deixar ir. No seu abraço eu encontro a paz, eu encontro a felicidade. Sua companhia me faz crescer. Me faz ser e é tudo que eu quero. Eu quero ser!
E com eles, eu estou sendo.

Obrigado!

sábado, 18 de abril de 2009

De Três ou Mais

De quatro a cinco, eu vi o sol, deixando a lua para trás. Passado.
De um a sete, eu os encontrei tão solenes e desfiéis. Incrédulos.
De três ou mais, eu vos criei. Vos conheci.
De cinco ou seis, dei-me conta, porém, que nada mais era em vão. Destino.
De um a oito, nos completamos. União.
De dois e só, sonho em ter-te aqui. A sós.
De três ou mais, sonhando eu vou. Só.
De dez a um, contei e regredi. Cresci.
De sete a nove, eu vi o mar, senti o vento. Sinais.
A vida segue e sempre é
De três ou mais.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Hermanitar não é fácil.

O vento anuncia a primavera, essa qual passo sem ter você. Quem sabe um dia a gente não possa se encontrar e ser um par, não é mesmo? Te olho aqui do primeiro andar, na esperança de ser o vencedor de todo esse romance. Tá bom, eu sei que vai ser muito difícil, mas veja bem, meu bem: esperança é algo muito mais sentimental do que se parece. Eu sou assim mesmo, um cara estranho, mas não nego que uma música para mim não é apenas mais uma canção. Cada letra, cada melodia, é como se você estivesse aqui comigo, mas eu me sinto tão sozinho.
Conheci tantas meninas, Aline, Barbára, Anna Julia, mas nenhuma me mostrou o amor além do que se vê, como você fez. Você não é qualquer uma, nem a outra. Você é a escolhida. Tenha dó, isso é patético! Eu quero parar de sentir isso, vai embora! Chega dessas lágrimas sofridas que nunca sequer escorreram.
Mas eu entendo, já era. Sei que todo carnaval tem seu fim e que o nosso mal começou, mas acabou. Se é isso que você quer, assim será. Eu ainda te amo e o pouco que sobrou desse amor é o suficiente pra dizer: você foi, e sempre será, meu último romance.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Perguntas Frequentes...

O mais estranho de tudo é você ficar horas em frente a uma tela branca, sem idéias para pintar. Quais tintas devo usar? O que devo retratar? Contarei uma história real ou simplesmente deixarei minha imaginação guiar minhas pinceladas?
Pego uma caneta e olho para o papel intacto. Folha lisinha, sem sequer uma orelha nas pontas. Sobre o que devo escrever? Devo lhe contar através de uma carta ou transcrevo sobre poesias?
Conto a história de grandes heróis que salvam princesas ou de centenas de crianças que morrem por dia de fome em todo o mundo? Faço da vida a matéria, ou entrevisto o amor?
Abro o livro de anotações e procuro uma folha em branco. Qual receita eu passo a diante, a da felicidade ou a do sucesso? Por que não as duas juntas?
Encontro a velha câmera do meu avô, mas que cena eu filmarei? Focalizo a lua e deixo que sua luz brilhe sob a lente suja, ou simplesmente levo a vida e faço dela um novo filme? Subo no palco e me faço ator, mostrando quem eu sou, ou simplesmente espero as cortinas vermelhas se fecharem?
Faço de tudo para ter ou apenas vivo na esperança de sonhar?

São essas as perguntas frequentes da minha vida.

domingo, 12 de abril de 2009

2012

Parado sobre uma ponte de pedras, ornada em ouros reluzentes, estou debruçado, observando o rio que por debaixo passa. A lua nova reflete um branco brilhante no rio, sendo deformada pelos movimentos na água escura, causados pelo vento fraco que nela batia.
Apesar do pouco vento, o frio é intenso, daqueles que fazem sair um "vapor" a cada sopro que se dá, tornando a noite agradável. Nas minhas costas vejo passar rapidamente vários feixes de luz branca vindas dos faróis dos carros que pela ponte passam, sem som algum de buzinas, apenas os das rodas tocando o asfalto liso.
Uma pequena chuva começa quando o relógio marca o ínicio do dia seguinte, pouco comum no outono. Alguns guarda-chuvas aparecem rapidamente e eu sigo para o café alí próximo. Sento na calçada, debaixo do grande toldo azul-marinho e observo os pedregulhos que dão caminho, sendo molhados lentamente pela garoa.
Peço um expresso grande e volto minha atenção para a cidade totalmente iluminada. Acendo um cigarro e abro o menu, procurando alguma opção de jantar. Fecho-o e olho para o relógio.
Je suis en attente de mon amour.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Não vou me adaptar...

A ficha caiu... e caiu com tudo.


Nunca foi tão difícil dar tchau....

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Ouça

Água por todo lado. Ilhado. É assim que eu estou, num pequeno espaço onde não tenho pra onde correr. Estou preso em uma armadilha, em uma ilha na qual ninguém enxerga, só eu, mas eu enxergo os outros e a vida contínua que eles levam.
Você está alí, nem dois metros de distância, separados por um mar de incertezas e sentimentos escondidos. A ponte poderia ser erguida, mas eu não quis, eu ainda não quero. Por enquanto.
Grito ora e meia para você se virar e ver que cá estou, só te esperando. Quero te trazer para minha ilha chamada coração. Amor e romance. Carinho e, acima de tudo, respeito. Grito com uma voz inaudível, mas você não me ouve. Uma voz que só sai por dentro, que não chega aos lábios e sequer emite som.
Olha para cá, olha? Ouça meus olhos profundamente embalados nesses seus. Encontre-me neles e deixe-me te tirar pra dançar, se envolva no ritmo lento e dançante que tento transmitir. Deixe eu te levar para um outro lugar, uma outra vida.
Ouça as entrelinhas da última carta que enviei na garrafa. Eu vi que foi você quem pegou. Columbina é você, só não quis deixar tão visível assim, logo de primeira. Não quero te assustar com minhas frases, muito menos com meus gritos, mas eu quero que você me ouça. Ouça o que te tenho guardado aqui dentro, ó.
Sento na areia e continuo a te olhar, alí tão distante e tão próxima. Talvez o meu grito não seja a melhor maneira de te fazer me notar.

domingo, 5 de abril de 2009

É...

Uma vista. Uma ampla janela que vai de uma ponta à outra da parede, toda aberta. Posso sentir o vento entrar e refrescar o ambiente. Acendo um cigarro e falo, falo pouco, mas falo e me sinto bem por isso.
As vozes alheias me invadem. Fecho os olhos e dou a volta ao mund. Passo por Hiroshima, passo por Holanda, França, Inglaterra, Alemanha e Portugal. Sinto os ares europeus que me enxem de vontade, uma sede incontrolável.
Abro os olhos e me vejo novamente na sala, com uma luz baixa iluminando. Estou sentado num sofá muito confortável, com o notebook apoiado nele, ouvindo as vozes contando histórias. Duas horas da manhã e solto um sorriso besta enquanto ouço tudo aquilo.
Olho para eles com um olhar terno, sinto que encontrei pessoas especiais, pessoas com quem posso passar mais noites como essas. Paro de pensar e me levanto.
Vou continuar viver a minha vida.