quarta-feira, 29 de julho de 2009

Conversas são apenas conversas

Conversas são apenas conversas.
Arte comunicativa, exata e subjetiva.
Três dos quatros cantos
Dois corpos em um só espaço.
Conversas são apenas conversas.
Da natureza morta ao remédio.
Corta a luz e mata o tédio.
E ainda sobra tempo para o chá.
Conversas são apenas conversas.
Do amor profundo, a intuição.
Do mais egoísta, a intenção.
Do mais indeciso, a objeção.
Do mais desrespeituoso, a subversão.
Conversas são apenas conversas.
Não há criptografias sistemáticas
Não têm organização secreta
É só mais um reflexo do espelho
Mais um tempo perdido e guardado
Conversas são apenas conversas.
E só elas podem criar o que ninguém jamais conseguiu antes:
A arte de dizer o que se sente em palavras desconhecidas.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Tiro certeiro

Aquele garoto vivia na rua. Descia o morro logo cedo com uma cesta de compras, roubada do mercadinho lá do centro. Lotava de docinhos e ia de coletivo em coletivo pra ganhar seus trocados. A mãe, mulher humilde, trabalhava na casa de uma patroa cheia da grana, o pai era pedreiro de obras pesada, mexia cimento e carregava concreto feito papel. O irmãozinho ficava na creche, tomando o tempo da professora mau humorada.
De uniforme, subia pela porta traseira e recitava seu velho poema, pobre de rimas mais pobres ainda, tentando ludibriar os trabalhadores de todas as manhãs. A tarde, corria pra escola pra pegar a hora da merenda, um arroz mal cozido com batatas quase cruas e uma carne de terceira que, diga-se de passagem, ele amava. Afinal, era a única refeição decente que ele tinha durante todo o dia.
Subia as escadas para a sala de aula mal educada. Carteiras quebradas, lousas pixadas, chão destruído, janelas fechadas. Um forno assando mentes que poderiam ser brilhantes, mas não são. Entre bafafás aqui e burburinhos alí, tentava ouvir a professora que estava sentada em silêncio, lendo um livro da capa vermelha e dura. Então decidiu olhar pela janela.
Aquele garoto era um sonhador. Sonhava com a vida do garoto da novela que a mãe assistia nas noites de sábado - nos outros dias trabalhava até tarde. Queria simplesmente uma família feliz, sonhava com um emprego bom, queria ser alfabetizado e não apenas semi.
O sinal tocava e ele era o primeiro a sair com sua cesta de supermercado. Segundo turno. Corria pro ponto e dava sinal pro primeiro ônibus, queria entrar pela porta lá atrás e garantir mais alguns trocados. Repetia a dose até o último minuto.
Era uma noite de segunda-feira. O garoto desceu no ponto do morro e andou alguns metros até chegar na grande ladeira. Lá de longe, ouviu-se barulhos estranhos. Era fim de mês, dia de se pagar a fiança mensal, dia de acertar as contas e continuar o trabalho mais bem pago da favela.
O que parecia fogos de artifício foi se transformando em balas de calibre indesejável. Gritaria e muvuca, gente correndo. Policiais subindo o morro, fardados em suas armaduras celestiais, donos da verdade e razão. Logo na entrada, um rapaz com a camiseta na cara agonizava em banhos de sangue, lá atrás via-se um policial sendo ligeiramente atingido na cabeça. Pura sorte, ou azar.
Parado com seu tênis velho nos pés, o garoto ficou assistindo à cena, sem saber para onde ir ou se esconder. Lembrou dos pais e do irmão caçula, todos em casa, provavelmente abaixados contra o chão, esperando acordar do pesadelo. Decidiu subir.
Era segunda-feira, pouco mais das dez da noite, quando uma bala atingiu o peito do garoto. O oficial que atirou nem viu que o matara, sequer queria. Seu propósito era matar o cara do outro lado do muro.
E alí ficou... jogado às margens do sangue, uma metáfora pra vida.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Romancistas

Um tapa na cara. Acorde pra vida. Última chamada para os sonhadores viverem a realidade.
Está posta a mesa de jantar, dois pratos e uma vela acesa. O vaso com flores está alí ao lado, lindo. Uma música romântica, um céu estrelado, um clima perfeito. Um banho demorado.
Sua melhor roupa, seu melhor suéter, seu mais cheiroso perfume. Aquela velha mistura de felicidade e ansiedade. Olhares incansáveis para o pacote do presente, embrulhado em cima da mesa.
Os maços de cigarro ficam intactos, mesmo com a vontade absurda de acendê-los, todos de uma só vez. Vai até o fogão, dá uma olhada na comida, janta feita com carinho. Vai ser a noite perfeita. A champagne está preparada, as taças na mesa, os talheres postos de forma simétrica.
Ofegante. Respiração profunda. Coração acelerado. Fecha os olhos, se acalma.
Uma hora.
Silêncio. Falta pouco, alguns minutos. O celular em cima da mesa de canto, ao lado do abajur. Abre uma janela e outra, fecha a primeira, tentando encontrar a melhor passagem de vento, para que a comida não esfrie.
Duas horas.
Cadê? Preocupação começa a invadir. Pega o celular e disca. Aperta o verde, mas logo em seguida o vermelho. Tenha calma. O cigarro ainda nem foi aceso, não precisa botar os pés na cabeça.
Três horas.
Pega o celular e disca. Caixa postal. Silêncio novamente.
Quatro horas.
Desfaz a mesa e se dá conta. Acorda pra realidade e deixa de ser um sonhador.

É... acho que romances só existem pra se escrever...

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Evitar

O que se pode evitar? A gente subverte o pensamento e põe os pés na cabeça, o coração no cérebro e os olhos nos ouvidos. E depois, caminha cabisbaixo pela praia dos desiludidos, perguntando-se porque não evitou quando pôde. Mas são nessas caminhadas e controvérsias pensantes que talvez você encontre a beleza.
Para que evitar a pergunta, se a resposta é sempre uma porcentagem maior favorecida à positiva? Pode ser, quem sabe, que a maré suba. Pode ser também, vai saber, que os barcos afundem, que os peixes morram, que o sol apareça mais cedo. Quem sabe? Ninguém, mas não se pode evitar.
Cacos de vidro enterrados na areia fofa, escondidos entre os pisares de quem caminha na incerteza da semelhança. Evita-se olhares entre os transeuntes, contato é mero esbarrão e conversas são vazios extremos, perdidos no buraco negro do universo. Universo esse que não se pôde evitar.
O que se pode evitar? O mundo é esse "sei-lá-do-faz-de-conta" que faz você ir, andar, correr e voltar. Uma escada sem sinalização, que pela ordem pré-estabelecida, usam-na sempre do lado direito. Uma estrada de terra lisa com buracos no meio, ou até uma estrada esburacada com laterais lisa, como vou saber?
O espetáculo é seu, mas sinto muito em dizer: você não pode evitá-lo. Uma hora a cortina se abrirá e o que foi-se escondido e submerso em seus pensamentos, todos irão saber.
Esse é o caminho só, a busca pelo nada que se pode evitar. E quando alguém pergunta o que você busca evitar, você simplesmente vai responder:
"Eu sei lá..."

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Piscando os olhos....

Ontem, tive uma dúvida em como escrever certa palavra. Procurei num dicionário online, salvo em meus favoritos, e achei a forma correta, depois disso consegui terminar meu e-mail superimportante para meu cliente e cliquei em enviar. Liguei para ele para avisar que tinha acabado de lhe mandar o e-mail, para ele checar e responder assim que possível. Estava com um pouco de pressa.
No tempo vago que tive, esperando a resposta, abri um site e joguei um jogo em flash, enquanto conversava com meu colega de trabalho que senta do meu lado e confesso: dei muitas gargalhadas naquele instante.
Minutos se passaram e o e-mail não foi respondido. Aproveitei a chance para poder ir até a padaria comer um lanche e ainda tive tempo de postar no meu blog o que tinha feito no dia, contando tudo nos mínimos detalhes. Voltei ao trabalho e tinha recebido o e-mail. Continuei meu trabalho.
Hoje tive outra dúvida de como escrever certa palavra. Busquei no Google e ele me deu a resposta certa. Após tirada, desci até a lanchonete para tomar um lanche, enquanto mandava um SMS para o cliente, perguntando-lhe algo extremamente importante. Mal cheguei lá e ele já tinha me respondido.
Voltei ao trabalho e me sentei na frente do computador, abri três abas no navegador. Minha caixa de e-mails para mandar o trabalho já feito ao cliente, o Twitter para escrever o que estava fazendo e um site de jogos para baixar um jogo.
No tempo vago, conversava com meus colegas pelo MSN e jogava o novo game no meu celular.

Ah! Ontem eu estava em 2008 e hoje estou em 2009. E me dá medo só de pensar o que me espera amanhã, em 2010.

domingo, 19 de julho de 2009

A Rua

Ando por uma rua escura, numa noite calma. Sinto medo, mas não é o medo dos perigos que ela me oferece e sim o que me acompanha... Toda silenciosa e serena, hora e meia penso até que ela ficou pra trás, mas é questão de minutos para voltar a perceber sua presença.
A rua vazia me traz calma, apesar de estar com ela. Ao meu lado desde a hora que entrei na rua, não me deixou por um instante sozinho. Confesso que senti a sua falta quando estava longe, mas agora não aguento mais. O som ecoa entre as ruelas, rebatendo no chão de pedras a eferverosa voz sumindo pelo céu escuro. "Me deixe em paz!"
Não satisfeita em andar ao meu lado, chega um momento que ela segura a minha mão e caminha comigo pela rua. Eu falo, eu tento uma aproximação, mas ela gosta do vazio. Não fala nada e continua andando. Passo na frente de um bar movimentado. Garotos e garotas bebendo e conversando, rindo entre um cigarro e outro, se divertindo.
Eles me olham e pensam que estou sozinho. Ouço as vozes se dissipando no vento gelado daquela noite, baixo a cabeça e continuo o caminho. Subo o aclive da rua e sinto-a subindo em minhas costas. Ela está cansada e não quer mais andar, me dando a chance de falar pra ela ficar pra trás e descansar. Uma chance pra eu fugir.
Eu luto, eu tento esquecer, mas ela faz questão de assoprar no meu ouvido que está aqui. Enfim, chego em frente à porta e pego meu molho de chaves no bolso da calça. Encaixo a chave na fechadura e dou uma volta. Sagaz, entro rapidamente e fecho a porta com força, dando duas voltas com a chave, trancando-a pra fora. Liberdade.
Subo as escadas e deito minha cabeça no travesseiro. As luzes apagadas, a janela fechada, o frio lá fora chamando por mim. Fecho os olhos e sinto a respiração alheia.
Ah, solidão. Por que me acompanhaste tanto?

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Nostalgia

Vez ou outra me lembro do cheiro da manhã perdida. De chegar a tarde na casa da minha tia e ouvir a vinheta do desenho começar. Lembro da almofada que me sentava no chão e do banquinho de madeira que usei por muito tempo como mesa. Ouço minha vó reclamar de mim e ainda sinto o gosto de vinagre que era forçado a ingerir junto à salada.
Lembro do carro velho do vizinho gente boa, que descobri esse ano que parou de fumar por um incômodo no peito. Carro esse que nos levava até a escola, uma viagem de nem 5 minutos. Ouço a tia do cabelo cocobongo gritar, brava que só ela, e sinto suor de lembrar a corrida todas as tardes e meu joelho dói e sinto pena da minha mãe quando lembro a sujeira que ficava no joelho. Graças a Deus, ela nunca me colocou joelheiras na calça. Achava ridículo.
O sono vem quando eu lembro das tardes que chegava em casa e almoçava. Cesta era uma divindade espanhola que eu aprendi a ter como hábito. Ainda ouço minha respiração no silêncio que era aquela casa durante as tardes. Perco a respiração de lembrar o primeiro trago e meu coração acelera de lembrar da sensação de "estou contra as regras morais do meu teto".
Lembro da ligação no celular durante uma tarde na praia, me avisando que eu era o mais novo universitário da família. Reclamações de que ela seria esquecida pelas novas universitárias chegaram, talvez ela tenha tido uma premonição, até pensei. Mas agora eu entendo que não.
Suspiro de lembrar a primeira vez que a vi, e alivio o sentimento lembrando que não sinto mais nada. Sorrio quando lembro nossos momentos bons. Os ruins? Tento esquecer...
Me lembro da entrevista, do sofá preto, das paredes brancas, da sensação boa e da energia. Amei. Entrei. Vesti a camisa. Lembro das lágrimas escondidas no banheiro com as más notícias, não só lembro, como ainda sinto, toda felicidade de ter conhecido e me aproximado de alguns, só não me pergunte como nos aproximamos. Foi tudo tão natural.
O primeiro brinde, o primeiro abraço, o primeiro tudo.
Eita nostalgia boa... e tudo isso em apenas um cigarro.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Cego, Surdo e Mudo

Maçã vermelha da casca lisinha. Aroma de pomar, gosto da manhã. Presa pelo pequeno fio de cabelo ao que chamam os mortais de árvore. Fruto poderoso da semente ativa.
Rosas agrupadas em papéis apresentáveis. Cheiro de sorrisos, pétalas da vida. Unidas pelo simples fato de aproximação de dois órgãos nada atrativos visto pelo olhar humano. É aí que mora o que esses olhos chamam de perigo.
Quem vê com os olhos da cara, enxerga a vida, mas não a sente. Fúteis e banais são aqueles que fecham as pálpebras do coração para olhar somente a tão pequena camada sólida que nos envolve. Seres humanos.
Quando vão aprender? Quantos mais temos que pular? Quantos muros escalar? Seres humanos...
São tão seres que não agem conforme a nomenclatura. Ou até agem, mas o que é ser um humano? É pensar? Pois animais pensam.
Doce ilusão da racionalidade. Os mais cegos da razão por escolherem ser cegos de emoção. Surdos, incapazes de ouvir os altos berros do amor. Mudos ao tentarem expressar o que sentem, chorando todas as lágrimas que queriam ser ditas.
A camada fina que foi denominada derme se dissipa em meio tanto pedregulho, tanta crueldade. Miséria. Misericórdia. Dê o perdão e seja perdoado pelo mais cego de todos: você mesmo. Ame e seja amado pelo mais surdo de todos: você. Queira e seja desejado pelo mais mudo de todos: você.
Ai, ser humano. Até quando você vai viver nessa lenga-lenga de ir, mas não atravessar?

domingo, 12 de julho de 2009

Voltarás....

Voltei a sorrir.
Encontrei algo com que me parece ganhar tempo e não perder.
Até senti saudade do friozinho na barriga.
Até parece que é tudo novo e talvez seja.
Voltei a sentir.
Encontrei uma maneira de cada risada valher a pena.
Senti o palpitar em minhas veias.
Senti a vida novamente.
Voltei a pensar.
E essa é a parte dramática da história.
Talvez eu esteja errado e tomei atitudes incoerentes.
Mas logo me lembro que meu passado me faz ser assim.
Voltei a não dormir.
Acendo um cigarro e olho fixamente o ponteiro girar.
O apago e ainda fico a pensar. Sentado na cama.
Deito a cabeça no travesseiro e me sinto feliz.
Voltei a tentar.
Dar a cara a tapa e viver a vida.
Encontrar a felicidade em algo que há tempos existia comigo.
Mas meu cérebro não me deixa pensar mais de duas vezes.
Você pode estar errado. Você está errado.
As horas passam e o relógio continua seu tic tac rotineiro.
O céu some com as estrelas e dá espaço ao sol.
Por que estou aqui e o que é tudo isso?
Eu não sei... mas espero que eu possa a voltar a ser feliz...

sábado, 11 de julho de 2009

Tudo passa

Tudo passa, tudo fica, tudo se transforma.
A noite é uma linda criança de pijama, brincando com seu grande castelo de sonhos.
As estrelas são suas esperanças, brilhando as chances em cima de suas cabeças.
A janela é a vida lá fora. A porta é a entrada dela.

Tudo passa, o tempo fica, o dia vai.
O céu é um eterno faz de contas.
Poesias que pairam sobre o travesseiro do menino.
Versos e estrofes da rima decorada.

Tudo passa, o vento leva e a solidão congela.
A madrugada esfria o sangue, friza no tempo que ficou.
Páginas em branco, lápis e canetas sem uso.
O barulho continua. O sopro cessa.

Tudo passa, a pele sente e o coração finge.
Paixão que fez-se de mentira.
Eternas ingratidões em vão.
A parede do quarto se fechando.

Tudo passa, os dedos tremem e a pupíla dilata.
A brasa queima até o mais frígido sentimento.
Bate forte todo o anseio pelo que chamamos de amor.
Uma mente. Uma pessoa. Uma história. Conto de fadas.

Tudo passa, tudo fica e nada se transforma.
Apenas é o que sempre foi.
E só cabe a nós querer enxergar.
Ou simplesmente viver na eterna cegueira que a vida nos permite ter.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

O Passeio

É engraçado o barulho que as ondas fazem quando quebram. Andando na orla da praia, vou observando todas as pegadas que deixei na areia fofa, enquanto sinto meu estômago revirar. Ansiedade. Fazia um tempo que não sentia aquilo, parece até a receita antiga da minha grande avó.
Misture-a com a timidez e jogue uma pitada de superficialidades. Está pronto.
Eu vou em frente, caminhando só. Pego meu celular e converso com uma ou duas pessoas, passo no quiosque e compro uma garrafa. De que? Alívio. Bebo em enormes goles e vou à espera do meu sim, mas a caminhada talvez seja longa.
Hoje eu sei que vou andar e pararei no amanhã, ou talvez depois.
Futilidades e mentiras. Puro escárnio de um amor que talvez nem tenha começado, ou vivenciado. Gotas de chuva caem naquela noite de verão a fim de purificar a alma dos desesperados que vagam pela noite em busca de um sonho. Qual é o meu? E o dele? E aquela criança sozinha e descalça, pedinte noturna. Ela tem sonhos? Ou são meros sonhos o de pensar nela fora dessa vida?
Desisto de chegar ao meu sim ao ver aquela cena. Gostaria de chegar naquela garotinha e acariciar seus cabelos sujos e mal penteados, pedindo desculpas e suplicando um perdão por ela estar em uma vida que talvez nem tenha sido minha culpa por completo, mas sou parcela, ou herdeiro dela.
Sem a coragem de um glorioso homem que vai à conquista do seu sim, paro e deixo a menina de lado. Sento no escadão e acendo um cigarro. Covarde, trago uma e duas vezes e volto meus olhos para o mar e meu pensamento para a lua. Meu sonho é fútil, é mera conseqüência da causa. Que causa? A causa de viver. Qual sonho? O sonho de viver...
O vento fica incansável e a menina se cansa do trabalho involuntário. Atravessa para a outra calçada e descansa. Eu me levanto consciente de que sou um ser pensante demais e sigo em frente. Essa é minha jornada e esses são meus sonhos. Não posso desistir pelo simples fato deles serem apenas uma folha em branco para alguns.
Meus pés sentem a areia gelada novamente e eu sigo em frente. Eu vou atrás de todos os meus sonhos e vou atrás do meu sim. E ele está logo alí... ou não.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Cade?

Com meus óculos escuros, assisto a arte com um par de olhos cansados e uma mente ressecada, sem idéias. Tento encontrá-las através da música; tento encontrá-las no silêncio absoluto. Nada encontro.
Me falta algo que vai além da inspiração, além de uma viagem pelos sete mares. Fecho meus olhos e me dou conta de que estou cego. Cheguei na linha final, meu limite.
Estou perdido e cercado por mares que tanto naveguei. Preso numa ilha deserta sem árvores. É tudo vazio. É tudo nulo.
Fim.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Estoque

Lápis de cor com a dor de um amor
Guardado de estoque pra dar um retoque
Na folha branca que branda a dama.
Lápis singelo do fundo amarelo
Desenha o ouro, o maior tesouro
Daquele que em três, desejou mais de uma vez.
Lápis com sede, de grafite verde
Respira o ar de quem só sabe esperar
Pelo sim que nunca chega no fim.
Lápis de espelho, de sangue vermelho,
Da flor mais sem vida, da morte morrida,
Do acorde sem tom, da voz sem um som.
Sâo todos estoque pra dar um retoque
Na esperança de quem espera por alguém
Que nunca na vida fez do amor uma ferida.