sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Pensamentos que flutuam por aí

"Família é bom e estar em família é ótimo. Mas vários dias seguidos enchem o meu saco. Eu gosto de tempo, das minhas coisas, cuidar de mim e estar sozinho."

"Eu nunca fui muito de ligar para o que os outros pensam de mim. Na maioria das vezes, eu não meço as próximas palavras por causa de alguém. Eu falo e deixo que meu caráter, posteriormente, mostre que talvez eu não seja tão insolente quanto pensam."

"A elite critica o Lula. O pobre, idolatra. A classe média se divide: os humildes até falam bem, os aspirantes à classe alta gostam mesmo é de meter o pau. No final, eu não entendo nada e voto nulo."

"Não adianta dizer que não sou preconceituoso. Eu não tenho raiva de pobre, não tenho medo de negro, não tenho nojo de gays. Mas, ainda assim, eu não encontro a paz de viver em sociedade."

"Fazer filosofia não significa estar quatro anos dentro de uma sala de aula. Conversar com objetivos e chegar em algum lugar com ela é encontrar as razões ocultas por trás das emoções. Conversar sobre nada, idem."

"Me perguntam o que eu faço no trabalho. Eu respondo: escrever. As pessoas acham isso tão estranho, enquanto eu acho tão empolgante."

"Você pode até falar mal do seu pai e da sua mãe. Pode ter intrigas e até mesmo pensar que os odeiam. Mas no fundo, todo mundo sabe que eles são a maior fonte de amor que um ser humano pode herdar."

"Eu não sei ao certo o que acreditar sobre Deus. Acredito muito mais numa força noética, no pensamento positivo e no poder do ser humano, do que em uma força divina. Mas mesmo assim eu não deixo de rezar algumas noites, antes de dormir."

"Já tive vários amigos na minha vida. Muitos vieram e se foram, bem poucos ficaram. Eu não ligo de ser assim, reciclável. Para mim, a amizade pode ser verdadeira por segundos e o sinônimo de grandes amigos não pode ser atribuído ao tempo de amizade, mas sim à intensidade e respeito entre os indivíduos."

"Eu sou assim. Eu penso demais e não tomo muitas atitudes. Eu levo a vida como um jogo de xadrez: raciocino muito antes da próxima jogada. Só que as vezes, como um péssimo jogador, me stresso rapidamente e faço movimentos errados."

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Um resumo de 2009

É bem clichê dizer que o ano de 2009 passou rápido, voando, mas é uma realidade. Uma realidade bem clichê, porém continua sendo uma realidade.
E pensando vagamente todos os acontecimentos do ano, resolvi fazer um post flash back, com alguns votos no final dele. É claro que se eu for detalhar tudo, teria que dividir o post em 3 ou 4 partes, por isso tentarei ser breve.
Os parágrafos abaixo são um livro aberto, se você for citado (deixando claro que não citarei todos os nomes) e não estiver feliz com isso, infelizmente eu não tenho culpa de ter você como parte importante da minha vida para ser citado.

"2009. Dois mil e nove, um ano que com certeza mudou a minha vida, um ano que me fez mudar internamente, rever alguns conceitos e preconceitos, meu jeito de agir, meu jeito de pensar e ser.
Ao começar o ano pelo meu terceiro e penúltimo (ufa) ano da faculdade. Conheci uma garota que dizia ser lésbica e, não sei bem porque, comecei a gostar dela. Pensava que estava louco, mas não bastou muito tempo para iniciarmos um romance que talvez fosse dar certo. Foi bom? Foi, mas por pouco tempo.
Após ser traído por ela com uma menina, ironia do destino, terminamos o que teria tudo para dar certo. Tudo? Hoje eu sei que não. Além de eu ter percebido que ela não era realmente tudo aquilo que pensava, ela nunca fora de confiança, nunca prestou e até ficou com o, até então, meu melhor amigo.
Melhor amigo esse que já tinha me "talaricado" outra vez no ano anterior. Pera aí, uma vez a gente até passa. Mas duas? É, meio difícil. Mas sem problemas, o motivo maior de ter parado de considerar o meu, até então, melhor amigo foi o fato de perceber que ele estava mais preocupado em sair para fumar uns baseadinhos comigo do que estar comigo para se divertir em si.
Esse tipo de coisa dói, éramos praticamente irmãos, mas graças a isso, no final de 2009 eu posso afirmar que tive a oportunidade de conhecer grandes amigos especiais. E esses eu cito o nome com o maior prazer: obrigado Tadeu, Mariane, Shuu, Kaléo, Patrick, Paula e Fagaraz.
Esse ano foi um ano de mudanças. Mudanças de sala, mudanças de amigos, mudanças no caráter e até mudanças de casa. Deixei meus pais e minha irmã para ter uma vida mais, hum.... prazerosa. Não no sentido libertino da palavra, mas sim por estar mais perto do trabalho e da faculdade. Em 2009, eu amadureci.
E também teve mudanças na vida profissional que não se limitam apenas ao final deste ano. Após uma longa batalha na área de mídia, deixei aqueles velhos guerreiros numerais para trabalhar com o que realmente tenho paixão: textos. Entrei para a área de conteúdo da F.biz, onde conheci uma tal de Eloisa Vasconcellos, uma redatora que tem um potencial enorme e é uma pessoa muito boa. E foi graças à ela que hoje estou aqui. A área sucumbiu e virou Mídias Sociais, com novo chefe, nova filosofia e novas maneiras de se trabalhar.
Completei 1 ano de agência, um ano! Se fosse em 2008, eu jamais pensaria que isso seria capaz, mas foi, estou há mais de 1 ano e em 2010 a promessa é de que eu fique focado em redação publicitária. O primeiro objetivo da minha carreira profissional está cumprido.
Finalmente, após 3 anos de faculdade, eu fiz um grupo que realmente era um grupo. Unido muito mais pela qualidade do que pela intimidade dos integrantes, reunimos as competências singulares de cada um e mostramos para todos do que somos capazes. Mas muitas brigas, muita encheção de saco e muita putaria alheia me fez querer mudar de grupo. E foi o que fiz: no fim de 2009, me despedi da Caro Watson para buscar novos horizontes na Academia.
Deixei de amar o vestido, que para os que não sabem se chama Thaisa Frutuoso. Mas, aos 30 minutos do segundo tempo, eu me apaixonei por outrem. Ela foi fofa, ela foi linda, ela foi perfeita e simpática. Estava cego e ela compromissada, depois ficamos os dois confusos. Trocamos mensagens, ligações carinhosas durante a noite, palavras de afeto. Ouvi da boca dela que ela estava apaixonadinha por mim e eu fui do chão ao céu em segundos. Acordei na manhã de um domingo com uma mensagem dela, dizendo que não queria mais chorar por se sentir culpada, que era para EU parar com as mensagens e com os afetos, para EU desistir dela.
Missão cumprida.
E outra coisa muito engraçada e que fico feliz de ter acontecido este ano, logo aos 30 minutos também, foi a volta de uma pessoa que eu não falava fazia tempo. Nossa história é complicada e resumindo bem é: nos conhecemos, confudimos os sentimentos e pensamos em ficar juntos, mas namorávamos, os dois. Deixamos isso de lado e nos esquecemos. E dois anos depois, por acaso do destino, nos lembramos e voltamos a nos falar. Isso me deixa feliz, porque além da Tamiris ser uma menina que faz parte dos 3% das mulheres, ela me entende e sabe como eu me sinto, até mesmo na relação de ser redator publicitário. Obrigado pela chance de eu tê-la de volta, Gêniozinha.
Em 2009 eu li muito, eu vi muitos filmes, passei muitas noites em claro, fumei muito, bebi muito, chorei pouco, ri muito e conversei muito.
Dois mil e nove chega ao fim com um novo Klein, uma nova maneira de pensar e ver o mundo. Eu cresci, eu acho. Mas nem cheguei aos pés do que realmente deveria ser para beirar a perfeição.
Minha luta continua para 2010, 2011, 2012 e.... bom, aí para, pois dizem os mais loucos que esse é o ano que o mundo acaba.
E para quem leu tudo ou está lendo só essa parte, ou passou por aqui sem querer, eu só tenho que desejar toda a felicidade do mundo para todos. O clichê do começo do post volta agora para o final: que o Natal seja ótimo e que o Ano Novo seja repleto de realizações.
Poderia usar e abusar do que sei fazer melhor: usar de belas palavras para desejar tudo isso para 2010. Mas eu creio que a simplicidade nos meus votos são mais receptíveis e tangíveis.
Muito obrigado, 2009. Agora vai, que de você eu já estou cheio.

Beijos,

Klein"

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Gira gira

A Terra dá a volta em torno do seu eixo em vinte e três horas, cinquenta e seis minutos e quatro segundos, enquanto leva trezentos e sessenta e cinco dias, cinco horas, quarenta e oito minutos e quarenta e seis segundos para contornar todo o Sistema Solar.
Essa quantidade de números, horas, minutos e informações me fez pensar e a única conclusão que tive é tão clichê quanto o momento que estou vivendo:

O mundo dá voltas e, uma hora ou outra, você vai voltar para o ponto em que iniciou.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Já faz tempo que eu quero, mas nunca tive chance de dizer...

Você foi sempre tão amiga, tão sincera, tão carinhosa. Me afagava em seus braços ternos e podia sentir todo o amor que enlaçava o meu pescoço em cada abraço seu. Você me deu amor, me deu tudo o que tenho e sou hoje.
Você me ensinou o que era sentir, o que era olhar e, também, o que era sofrer. E sentava na minha cama pra me ver chorar, acalmando os meus ânimos com as carícias, torcendo os meus cachos com sua mão leve e macia.
Você me mostrou o que é ser forte e me ensinou a erguer a cabeça. Te agradeço eternamente por isso, ainda mais que tenha usado muito disso contra você mesma, seja pelo episódio daquele primeiro cigarro, seja pela paciência perdida e a culpa toda colocada sobre suas costas, por mais que ela não fosse nem um pouco sua.
Já quis te bater, já quis te deixar, já quis te ignorar, mas nunca quis te ver morta. E sempre dou aquela risada gostosa ao lembrar dos passeios de carro pelas ruas tranquilas, dos problemas enfrentados com seu senso de humor e até mesmo daquela briga no quarto que se iniciou por algum motivo que não nos lembramos mais.
Seu ombro sempre esteve lá para enxugar as minhas lágrimas e encontrei a confiança até para dizer coisas que nunca disse a Deus. E nem vamos entrar nesse assunto, de Deus, pois eu sei que é seu maior fracasso perante a minha pessoa. Pois saiba agora que você está enganada.
E por fim eu te deixei, mas nunca deixei mesmo de me lembrar de ti. Te deixei e ainda ligo, ainda choro e desespero. Claro que não é sempre, mas sempre que paro, geralmente nos momentos mais tristes - o que me faz sentir egoísta - eu sinto uma saudade enorme de tudo que passamos.
Já disse milhares de coisas para você, entre elas que te odiava e que não falaria mais com você. Mas nunca disse que te amava. Então, pensando em tudo isso em uma caminhada de menos de dez minutos, eu te falo:
Mãe, eu amo você.

!

Estoura, entoa e enjoa. Magia, magina, mentira. É sabor de amor e fervor. Faz na alma, diz que fala pra calma.
É começo e tropeço. É estado fadado. É desejo sem medo. É silêncio calado.
Dores, cores e flores. Presentes, carentes, decentes. Sorriso no rosto, no beijo e no abraço. No farol vermelho, vencido pelo cansaço.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

São cores...

Não faça com que as cores da vida caiam na rotina do preto e branco.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

São dois, os três dos quintos.

Parede de vidro. Um pouco de pó.
Blindado de prata, de ouro e de bronze.
Dura feito pedra quente no calor.
É ver, é crer e ter. É tudo, menos sabor.

Escada, almofada e um rodo molhado.
Ladrilho e cimento. Um balde com água.
A chuva caindo, lavando e regando.
As flores sorrindo, molhadas, cantando.

A bola de neve, o favo de mel.
Abelha, raíz e uma folha do céu.
Da toca, raposa confude com urso.
O chão todo limpo. Um teto imundo.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

É personagem

Essa imagem no espelho não é minha. Reflexo de ilusão.
Deito o rosto na pia e dou um banho na alma, acordo os olhos solenes.
Me olho novamente. Não me reconheço novamente.
Dou uma volta pela casa, sento no sofá e faço um café.
Rolo no tapete, passo a roupa e lavo a louça.
Volto ao banheiro e ainda não me reconheço.
Tomo um banho completo, faço uns telefonemas e escrevo algumas passagens.
Fumo um cigarro, depois outro e começo a pensar o que me acarretou isso.
Dobro o colchão, desligo a tv e queimo duas páginas inteiras.
Jogo meu livro preferido janela abaixo, subo ao décimo andar na corda bamba.
Faço a barba, raspo o cabelo, passo um perfume e me olho no espelho.
Sem caráter, sem histórias, sem rumo.
É personagem e tão somente será, enquanto viver para explicar e reconhecer as metas da vida alheia.

Sobre aquela festa de ontem

Foram 1 ano e quase 1 mês de agência F.biz. Foram 10 sexta-feiras regadas a muito refri e bolinhas de queijo e outras três regadas com pizza, baguete e Campari.
Foi uma churrascada em um sítio com direito a troca de presentes no fim do ano passado e ontem foi dia de festa. Mais de 100 pessoas, umas chegando cedo, outras chegando tarde e os mais introvertidos ainda nem apareceram. Para a grande maioria, uma festa de fim de ano, mas para outros ainda era a festa de despedida ou de boas vindas. Cada qual com sua proposta.
Alguns casais marcaram presenças, outros casais tentaram ser formados, mas o mais importante foi a união. Administrativos, planejadores e criativos. Gerentes, assistentes e estagiários. A panela dissolveu e todo mundo se falou bastante.
Os mais descolados beberam caipirinha, os mais simplistas, cerveja. E teve gente até que foi de risotinho e coca cola. Ouvi rumores de quatro jovens peregrinos que andaram quilometros para se chegar a tão falada festa de fim de ano, mas é claro que repousaram de taverna em taverna, bebericando aqui e ali, para aguentar a caminhada.
Teve gente que bebeu demais, teve gente que dançou demais e teve gente que fez de tudo um pouco, inclusive uma demonstração de como não ter vergonha dos colegas de trabalho e dançar num palco improvisado.
E para quem achou que a festa acabaria 2 horas da manhã, alí na Gomes de Carvalho, perdeu (na verdade, muito provavelmente esqueceu) o pós festa. Tudo bem, eu também.
Teve muita coisa e faltou pouca. Só não teve briga, o que vai mostrando, cada dia que passa, que trabalhar aqui até que é saudável.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Anarquia geral

A sociedade ensina à você o que vestir, como andar, como se portar diante dela, o que falar, o que é certo, o que é errado e, acima de tudo, o que é viver.
A vida, por outro lado, nos ensina que tudo que a sociedade faz é mentir.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

É, não é, não sei.

É dia e noite. É calor e frio. É feio e bonito. É alto e baixo.
É assustador e inofensivo. É angustiante e calmo. É vida e morte.
É feliz e triste. É anseio e decepção. É claro e escuro. É transparente e nebuloso.
É quente e gelado. É chuva e sol. É ele e eu. É carinho e raiva.
É um e dois. É medo e calma. É nervo e calma. É brilho e opacidade.
É seco e molhado. É preto e branco. É cinza e colorido. É velho e novo.
É moderno e retrô. É novidade e rotineiro. É homem e mulher. É e não é.
É hoje e amanhã. E ontem e depois. É beleza e feiura. É perfume e fedor.
É pai e mãe. É avô e avó. É primeiro e último. É saber e desconhecer.
É água e fogo. É dor e alívio. É casamento e divórcio. É sorriso e lágrima.
É descalço e com meia. É persistência e desistência. É oi e adeus.
Pode ser o que for, mas nunca vai deixar de ser só amor.

sábado, 5 de dezembro de 2009

É isso.

Você acordou no meio daquela noite de dezembro assustada e segurou meu braço com força. Sentou na cama com uma rapidez surpreendente e chorou, me acordando num ímpeto. Lentamente, me sentei e enconstei as costas na cabeçeira da cama, te acolhendo em meus braços dormentes.
Você chorou e me explicou o pesadelo que foi o fato de estar pensando em me perder. O mundo fez-se escuro e a luz das estrelas se apagaram. Você se perdeu ao me perder, e chorou a morte do amor.
Eu disse "calma, estou aqui" e você começou a secar os olhos inchados. Beijei sua testa com carinho e, com os dedos em seu queixo, subi seu rosto à altura do meu, e sorri como nunca havia antes sorrido. E meus olhos brilharam a luz perdida em teus pesadelos ao ver você retribuindo aquele gesto.
Minutos depois, você já respirava tranquilamente e te coloquei para dormir novamente. Acariciei seus cabelos, os retirando do seu rosto para realçar ainda mais aquela beleza angelical que transparecia durante o seu sono.
Me levantei com cuidado, para não te acordar, e abri a janela do quarto, olhando o céu estrelado. Alí, acendi um cigarro e pensei. Desci as escadas e trouxe para o andar superior uma grande escada de alumínio. Peguei um papel e uma caneta e deixei do lado da sua cama.
"Meu amor, não tenha medo. Fui buscar a tua estrela."
E assim, subi as escadas.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Pensamento do dia

Relacionamento é uma coisa misteriosa. Quando é novidade, nos agrada. Quando perdemos o sono, é paixão.
O amor só chega quando aprendemos a respeitar os limites, aceitar os defeitos e, é claro, sentir lá dentro o sentimento mais nobre que existe.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Meu mundinho

Fecho os olhos, o mundo gira.
Estou em um grande relevo de grama rala e bem verde, sem nenhuma falha em seu caminho. O monte todo sobe em uma única direção que me leva para uma árvore no centro. Tronco grosso e robusto, marrom cor de terra e galhos compridos que crescem louvando os céus.
Suas folhas são verdes como a grama, só que mais escuras. As frutas, pequenas esferas vermelhas, suspendem no ar, presas por pequenos galhos da mesma cor que o tronco. Tenho a leve sensação de que suas folhas tocam as nuvens mais altas do céu, enquanto me perco na vertigem causada ao olhar para cima.
A sombra forma uma circunferência exata lá no alto, onde a brisa bate lentamente no rosto daqueles que, como eu, usam o lugar como refúgio universal. Subo até a árvore, com os pés descalços e me sento na raiz que foge do fundo da terra, usando o tronco como encosto.
Acendo um cigarro e assisto, lá embaixo, duas crianças brincando. Um menino e uma menina, rolando na grama, se abraçando e sorrindo. Livres dos moldes pré estabelecidos, com a graça de milhares de deuses, com uma fina aura brilhante envolvendo os seus corpos. A cada sorriso, uma lembrança da infância já não mais existente.
O menino, sorridente, veste uma bermuda jeans e uma camiseta branca lisa, que já está um pouco suja de tanto rolar barranco abaixo. A garotinha, dona de um semblante puro de beleza, está com um traje camponês vermelho, detalhado com flores amarelas fracas. É tão lindo e inocente, aqueles dois, que mal percebo a lágrima cair de ambos os olhos.
Meu olhar percorre do chão ao céu, onde as nuvens brancas sinalizam o dia radiante que está por vir. O sol não está forte e faz o rio que passa ao meu lado esquerdo reluzir seus raios diante dos meus olhos. Vez ou outra, penso ter visto uma carpa roxa passar de lá para cá.
O silêncio acompanha o meu olhar e mal noto a chegada de um senhor vestido de uma longa bata branca. Sorridente e com feição amigável, o ancião senta ao meu lado e me pergunta se estou feliz. Obviamente, ele sabe que não espera nenhuma resposta articulada de minhas cordas vocais. Apenas olho para ele com as pálpebras molhadas e aceno um sim com a cabeça.
Borboletas coloridas passam enquanto observo aquele senhor olhar para frente, assim como fiz minutos atrás. O silêncio volta, mesmo eu ouvindo diversos sons que me trazem paz e felcidade, e eu encosto minha cabeça no robusto tronco, procurando uma posição que me agrade. Fácil de se conseguir.
Preocupações com o trabalho, o dever de estudar, nada disso me passa pela mente. Não sinto falta de nada, nem de ninguém. Gostaria que pai estivesse alí comigo, aproveitando meu último cigarro, meus últimos suspiros.
Lembro-me da vez em que ele me socou os lábios e abriu um corte interno. Sangrou bastante, chorei demais. Eu o perdoei, pois eu o amava. Nem me lembro bem o porque aquilo me passou pela cabeça, mas também me veio os bons momentos, onde os dois, alterados pelo álcool, davam risadas sobre as situações de uma festa não muito agradável. Para eles, porque para mim e para ele foi demais.
E minha mãe também poderia estar comigo. Dona de um carinho sem igual, que ama como ninguém. Que acordava de madrugada para cuidar de mim, quando adoecia. E eu tanto reprimi esse amor, e eu tanto me corria de remorso. Mas, ainda assim, eu estava bem.
Chorei mais algumas lágrimas sem sentido, não era por ele, nem por ela. Era por nada e por tudo. O vento aumentou e as folhas balançaram, me dando a chance de provar daquele fruto que era inalcansável. O prazer não é proibido, me falou aquele velho senhor do qual tinha me esquecido a presença. Acendi um novo cigarro.
As crianças lá embaixo sumiram ao adentrarem pela orla da floresta na minha direita. Começo a pensar e refletir. Não chego a lugar nenhum. Choro mais algumas e últimas lágrimas, até que a fonte seca.
O senhor de branco vira para mim e, com uma voz tão suave, me diz "você amou e viveu como ninguém jamais conseguiu". Assisti ao pôr do sol como se aquilo fosse uma tela pintada por um renomeado artista.
E, depois disso, desejei nunca mais abrir os olhos. E que o mundo continue girando, pois eu ainda quero e espero chegar lá.

Para se pensar

Quem diria que um garoto como aquele estaria sentado no sofá com as lágrimas rolando ao chão. Tão forte, determinado, chorava como uma criança sozinha no escuro com uma carta na mão, pensando em todos os momentos da vida, bons e ruins, em que aprendera que apenas os mais fortes sobreviveriam. Era a lei.
Lembrou de todos os seus amores, mulheres, meninas, feias e bonitas, todas elas a quem ele amou durante um tempo, talvez dois, sem nenhum pudor. Enxugando o seu rosto todo molhado, pegou o telefone e tentou se lembrar, uma por uma, os telefones.
"Desculpa, eu te matei" dizia entre soluços desesperados, pois se lembrava de ter prometido a segurança de um amor maior. "Desculpa, eu me matei e te levei junto, eu não queria. Eu não queria ter te amado."
Do outro lado da cidade, uma jovem grávida esperava seu filho com a carta em mãos. As mangas longas cobriam um passado de trapaças contra a vida, de desprezos e solidão. O caminho era longo e solitário, tortuoso e em labirinto.
Não se importava com sua vida, preferia ter morrido durante as suas noites traiçoeiras e imundas. Mas agora era diferente e ela tinha uma vida nova para cuidar. Então chorou o alívio da tensão.
A carta causou nos dois jovens sensações diferentes. O garoto, que amara tanto, sentia-se deprimido. A grávida, aliviada, revitalizada. Os dois se descuidaram, se despiram frente à vida e deixaram a bala entrar.
O garoto, que amara tanto, lia soro positivo em sua carta. Enquanto a jovem, ex-viciada, teve uma nova chance ao ver o negativo na sua.
Dia primeiro de dezembro é o Dia Mundial de Prevenção contra a Aids. Um mundo novo, um mundo melhor. Uma consciência de que a vida pode ser cada vez melhor, desfrutando dos prazeres com a cabeça no lugar.
Portanto, se proteja, use camisinha e viva a vida como ela deve ser vivida.