segunda-feira, 21 de junho de 2010

Tão escuro

Por que está tão escuro?
Perguntava-se ao abrir os olhos e não enxergar nada.
Talvez você esteja dormindo, respondia-lhe a consciência. Talvez você esteja se afundando num buraco sem fim e sem volta, que você mesmo cavou para se esconder do que existia lá em cima. Você pode estar sonhando algo que não poderá se lembrar ou até mesmo a sua mente pode ter sido engolida por um buraco negro perdido na galáxia dos seus pensamentos.
A consciência foi além.
Você já parou pra pensar que você pode estar morrendo? Ou então uma nuvem finalmente desceu para atormentar os seus sentimentos. É tudo tão escuro esse vazio sem fundamentos, não?
Às vezes você pode estar com os olhos fechados, não querendo nunca mais abrí-los, temendo enxergar a verdade. E mesmo que você a ouça suplicar para que ela volte a ver seus olhos encarando-a, você não poderá ouvir, pois também escureceu-se os ouvidos.
Talvez você esteja sonhando acordado,
terminou a consciência.
Ou então está cego de amor.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Será que é você?

Será você a estrada do meu caminho? A onda perfeita da minha manhã.
Já não enxergo mais a grande pedra que estava lá na frente, me esperando há cinco anos do presente. O sol já não esquenta a minha cabeça e subitamente a minha bússola voltou a apontar para o norte.
Os cacos juntados de um batimento partido sumiram do meu bolso e voltaram intactos para o devido lugar, lá em cima, lá embaixo. Meu companheiro parece ter sido esquecido em algum lugar alí na sombra. Será que ele um dia volta?
Será você a culpa disso?
E se eu olho pra frente, eu vejo seus olhos por trás de cada nuvem. Me olham do vento, me protegem da chuva.
A intensidade de cada passo, o medo de cada caminhar, tudo por conta de uma estrada que não quero chegar ao fim.
Será você a galáxia perdida encontrada?
Eu olho pro céu e me desvio pra terra. É aqui. Olha você alí, acenando e sorrindo para os meus sonhos. Só é uma pena acordar assim que alcanço os seus braços...
Mas o pior é eu me ouvir de dentro e saber que estou exagerando, pintando na água e secando a neve que cai sem pausa nos meus ombros. É o peso gélido de cada manhã, a cruz carregada escada acima.
E quando me sento, eu abro um livro que eu me entenda, mas as páginas insistem em continuar em branco.
Será que é você quem vai me explicar o que é tudo isso?
Seria você, mas você talvez não será.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Conceitual

E parece que a cada segundo, minuto ou semana, a tela fica branca e a referência se perde.
Simplesmente não consigo... me faltam palavras pra descrever.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Não é planta

É engraçado só reparar nas falhas da parede quando você a olha pela fotografia na mesa. E você repara também na flor tão bem cuidada que estava na mesa de canto, ao lado do sofá. "Eu nunca cuidei dessa planta. Nunca ao menos sabia que ela estava lá.", você pensa enquanto ouve alguém suspirar no seu coração não é planta, é uma flor...
E na gaveta aberta você encontra a planta de uma cidade pequena, uma vila. "Eu não me lembro dessa cidade.", você pensa enquanto sente seus braços sendo apertados pela voz não é planta, é um mapa...
E você se lembra e então se esconde. Enxerga o tempo vagando pelo apartamento sem neurose de estar passando. Você se lembra, e então se esconde. No dicionário da estante você não encontra a palavra certa. Você se lembra, mas a definição se esconde.
No espelho você finalmente enxerga o reflexo certo, movimentando calmamente os lábios. Amor não se planta, ódio sim.

domingo, 6 de junho de 2010

Ao te ver.

O sorriso de criança quando acabou de ganhar um doce.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Alice

Nem o sol, nem as flores. Ela vinha caminhando pela estrada de terra, com o amor nos olhos e a saudade nos braços. De vestido até os joelhos e chocolate na mão, procurou nos seus segredos a resposta. Ela era a única semente enterrada naquela terra.
E de lá brochou-se a flor. Era de dar água na boca o perfume de frutas que ela assoprava em nossa pele logo pela manhã. E dos cabelos se faziam as cócegas, como se meus dedos do pé dançassem frenéticamente. Era um alívio a pausa para o eterno primeiro beijo.
E quem se fez verdade, não é de fácil momento esquecer-se. Ela se tornou a fotografia plena em cada olhar trêmulo e mãos assediantes. E a cena vira obra prima quando ela se levanta da cama e vai olhar a chuva cair pela janela. Eu sou seu artista.
Som suave, folhas caindo. Ah, Alice...