quinta-feira, 15 de abril de 2010

Crescer

Ah, que saudade!
De quando eu ainda era uma criança sem princípios morais e éticos para seguir. Que vestia o uniforme amarelo do colégio e rasgava os joelhos da calça, obrigando minha mãe a colocar joelheiras e vermelhos na minha pele. De pegar a perua escolar, de ouvir Jovem Pan FM logo cedo, quando o sol nem aparecia pra dar a dica de como seria o clima do dia. Era sempre tão frio.
Das festas e comemorações regadas a bolo, brigadeiros e refrigerantes. Dos amigos em casa e eu na casa dos amigos, dos jogos de futebol, das guerras de água no verão, das noites jogando video game. De não ter banda larga e conversar escondido com as primeiras paixões no ICQ.
Viver sem repressões, responsabilidades, era bom.
Mas a gente cresce e vai aprendendo que cada palavra, cada gesto, cada olhar tem sua consequência, querendo ou não ser interpretada à sua maneira. Que estar com raiva é saber raciocinar e medir palavras e atitudes e que foi-se o tempo de ser criança e poder dizer o que pensa. As desculpas não são mais aceitas com facilidade. Um erro pode ser fatal, uma estrada com fim e sem chances de a marcha ré funcionar. Um beco sem saída.
E a gente cresce e conhece a tal responsabilidade. Dos atos, do trabalho, das contas pra pagar. E onde é que está sua mãe para te limpar quando você grita do banheiro "terminei"? Ela está na casa dela, dormindo e pensando em como será que você está se virando sozinho. Eu estou bem.
E agente cresce e conhece todo o tipo de pessoa. Não é mais aquela sua tia que te paparica, o seu pai que é durão com o coração enorme ou o primo que é mais seu irmão do que sua irmã mais velha. É um chefe que pode virar seu pai, ou seu inimigo. É seu amigo que pode virar seu irmão, ou sua maior decepção. É sua paixão que não vai te dar bola no MSN após aquela briga feia onde as desculpas não foram aceitas. São suas palavras contra a dos outros.
E você não vai ser mais bem visto por todos do seu ciclo social, por mais que você tente. A lição que fica hoje é a de anos atrás: não se pode agradar gregos e troianos. Mas agrade pelo menos um lado. Ficar em cima do muro as vezes calha a funcionar, mas as vezes não é sempre e pode ser nunca.
E crescer vai se tornando aquele quebra cabeça de 1.000 peças que quando se era criança parecia impossível de montar, mas ainda assim você sentia uma pontinha, mesmo que mínima, de capacidade dentro de você. Você tinha vontade e se sentia orgulhoso se conseguia, nem que demorasse três ou quatro horas.
Crescer é bom. E errar engrandece o homem. Olha mãe, eu cresci, já sou gente grande. Mas eu quero mais. Mas o que eu quero ser quando crescer? O que vou ser quando crescer? Eu já não cresci? Crescer é como um rio que não tem fim e deságua na imensidão do oceano. Não perca o fluxo, ou você se perde no mundo.
E você cresce e vai percebendo que o seu umbigo é só uma cicatriz de nascimento, que sua arrogância te levará a lugar algum e que saber demais não é saber de tudo. Não é à toa que os livros de contos ilustram os sábios como anciões de pequenas vilas.
E a gente cresce. E vai percebendo que ainda somos tão crianças perto de todas as lições que a vida um dia vão nos ensinar.

2 comentários:

Unknown disse...

Sabias palavras Klein!
Beijos, Nicole (a irmã do Patrick!)

Unknown disse...

Amei.
E é tudo tão verdade que chega a assustar.
Você é foda.