terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Inexistente

E quem é você que do nada aparece com um envolope na mão?
Atravessa a avenida fora da faixa, correndo com sua saia comprida.
Toda menina, toda mulher. Sorriso discreto e olhos contornados.
Direcionou suas órbitas a mim e caminhou em minha direção.
Rasteirinha no pé, vem pela calçada com os cabelos bagunçados pelo vento.
Até atiro o meu cigarro pela metade, intimidado pela natureza saudável da moça.
Ela chega, ela para, o sorriso não desaparece.
Sua mão, até então inativa e livre, segura meu braço calmamente.
A pele é macia e suave. Sinto os pêlos se arrepiando e, então, respiro fundo.
Ela entrega o envolepe e beija minha bochecha.
Ela some no vento, na brisa fresca da tarde paulistana.
Um grão de areia na imensa praia paradisíaca.
Abro o envelope: "prazer, eu sou a mentira."

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

As mais diversas formas do mundo

Estou sentado na frente da folha branca.
A folha vazia, procurando a ideia.
Anseio e devaneios. Loucura.
Esperando, sedenta, o refrescante gole da inspiração.
Uma foto na escrivaninha, um cinzero vazio.
As cortinas fechadas escondem o sol lá fora.
Brilhante, refletindo a felicidade nos sorrisos mais sinceros dos que pelo parque passavam.
Era uma tarde de verão.
A luz da lamparina à óleo é a única fonte de energia que tenho.
E eu só olho através da fresta.
Pelo vão da cortina.
E lá eu enxergo as mais diversas formas do mundo.

Sobre mim.

Eu sou uma icógnita.
Eu não presto o cigarro que fumo.
Eu valho minas de ouro.
Eu sou uma icógnita.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O perfume é a lembrança.
A memória, o desejo, a mentira.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Sobre algo sem sentido que faz sentido para dois grandes amigos

Podemos e devemos sentir o gosto do amargo.
Porque de doce, já basta a vida...

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A Ponte

Eu sou como uma ponte bamba no alto de uma grande montanha.
Ou você me atravessa de uma vez ou você dá as costas e vai embora.
O que não pode é ficar na dúvida e ir e voltar quantas vezes achar necessário.
A ponte cessa, ela quebra e se desfaz.
E todos aqueles que por ela estavam passando, acabam esquecidos.
Engolidos pela escuridão da fenda.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Sobre as palavras

As palavras sempre se perdem.
E assim eu me encontro.

Sobre aquele filme que eu não me canso de rever...

Eu não sei bem o porque, mas tem fases da minha vida que eu vivo apertando o review do controle remoto.
Eu insisto e repito. Assisto à cena e revivo.
Tudo passa em câmera lenta.
E eu simplesmente não me canso de rever...

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Pensar é.

Pensar demais é o meu pior defeito...











E minha melhor virtude.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Sobre o espelho

O espelho, quando quebra, leva para sempre a última imagem do reflexo...

Pro dia nascer feliz

São tantas coisas acontecendo nesse todo tudo agora que já nem se sabe o começo e o final dessa trilha de pólvora.
É gente que odeia, gente que ama. Gente que some e volta três anos depois. Gente que some e não aparece, gente que imita a vida dos outros.
Momentos que ficam guardados. Na memória, no para sempre ou nas cicatrizes da perda. Momentos que são jogados fora, da janela do prédio, nas ruas imundas e no buraco negro do cérebro. Esquecimentos escuros.
Tristezas...
Mas há também aqueles gloriosos segundos que ressurgem nos dias. Das cinzas reprisam os momentos, sentidos na pele pelo passar dos dias. A gente dorme, tudo passa. Acordamos e o pesadelo chega. É hora errada, mas a gente conserta.
É... estamos por um triz do dia nascer feliz.

Ou não.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Apresentação dos Fatos Humanos - parte III

Meus ouvidos estavam tampados, o ar se perdia no último pedaço de folêgo que estava em cima da mesa, meus olhos confundiam o que era luz e escuridão, numa visão nada em foco da vida.
Podia ouvir, bem ao fundo, o barulho daqueles seres passando por minha volta. Estavam eles preocupados com a minha aparência ou apenas achando que eu era apenas mais um pedaço da natureza? Tanto faz, pois eles ainda assim não puderam me ajudar.
Quantos dias será que passaram? Ou será que foram anos? É estranha a sensação do ir de encontro com a morte, em cima de um barco individual no Rio da Desvida. E olha que nessa situação a correnteza vinha de encontro com meu caminho, tentando ao máximo me levar de voltar. O barco era minha coragem, a correnteza o meu consciente lutador.
Não sei quantos dias, meses ou anos. Para mim foi ontem, mês ou ano passado; para mim foi agora.
Se fecho os olhos, quando posso, ainda vejo a luz que iluminava o "lá fora" que não vejo mais. Sinto meu corpo indo embora, perdendo o peso, o compasso... a vida. É como se você fosse deitado em uma grande nuvem que te leva pelo mundo, flutuando pelo céu, sobre os mares, a natureza, as pessoas.... os pensamentos.
É então que, quando depois de muito tempo os sentidos amorteceram, sinto meus pés coçarem. Sinto meu corpo tomado por uma força que me ergue. Estou subindo, estou flutuando, estou no ápice e a luz do sol já começa a cegar meus olhos virgens.
Ouço o barulho cortar fortemente o vento lá fora, vejo e sinto o calor do sol e da vida do outro lado, vejo gaivotas passando.... a luz, o calor.... o ar!
Respiro fundo, tomo folêgo que já nem conhecia mais. O ar invade meus pulmões, olho para baixo e vejo um grande e negro globo afundar aos meus pés. A âncora se foi e agora eu já posso voltar à superfície.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O Desafio

Sentado na minha cadeira de balanço, do lado de fora da minha humilde casa de campo, vou preenchendo meu cachimbo com tabaco, enquanto fumo um cigarro de palha. Tusso sem parar, quase perco o folêgo - as consequências de viver na cidade grande.
Não que eu seja uma pessoa que se irrita facilmente, mas existem coisas que me tiram do sério. A vizinha e seu cachorro são dois exemplos vivos, que muito bem poderiam estar mortos.
A vizinha, uma senhora um tanto quanto velha que costumam chamar - por educação ou caridade - de jovem senhora, acorda todos os dias cedo e liga seu rádio nas estações AM.
Veja bem, uma velha que talvez já tenha idade com três unidades, óbviamente ela é surda. Consequentemente seu rádio acorda toda a vizinhança.
O cachorro, que tem um nome que eu me recuso ao menos saber qual é, anda, fala e dirige um carro todo barulhento. Ah, ele também é conhecido como "o filho de 28 anos da vizinha".
Acendendo meu cachimbo e dando umas tragadas, vou olhando por trás da cerca, voltando ao passado pífio que vivi.
Meu sonho era ter uma fortuna nada mensurável. Ser um magnata que poderia escolher o que quisesse ter dentro de casa, inclusive a mulher de cada dia. Uma pra segunda, outra para terça, e assim por diante. Era jovem, era ganancioso, queria crescer na vida, queria estudar, me formar, abrir minha empresa com meus grandes amigos inteligentes da faculdade e me tornar o novo membro da família Votorantim.
Em suma, eu era mais um babaca brasileiro.
Perdi finais de semana em um escritório buscando a idéia perfeita, o elemento que faltava para o meu futuro enriquecedor.
Meus amigos? Bom, eles fizeram tudo que podiam na época. Beberam, no total, mais de 13.568 litros de chopp, fumaram mais de 1.108 quilos de maconha, sem contar as diversas persiguidas cheirosinhas - ou não - que comeram durante toda a faculdade, e depois.
Resultado: nunca vi a cor do dinheiro que sonhei, perdi 4 anos de faculdade em uma sala pequena, miserável e cheirando a mofo, além de ter me casado cedo com uma mulher que eu tenho vergonha de chamar de mãe dos meus filhos.
Ele se foi faz alguns anos. Na verdade, faz 3 anos, 8 meses, 16 dias e algumas horinhas. Ainda me lembro do churrasco que fiz para mim, em comemoração.
E agora eu estou aqui, sozinho, na casa de campo fumando meu cachimbo. Agradecendo pela vida medíocre que tive.
Obrigado Deus, se é que você existe.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Apresentação dos Fatos Humanos - parte II

Eu não sou nada que preste.
Eu sou a fome, a mentira, a falsidade.
Sou quem veste o preto pra ser fúnebre,
Quem mata a sangue frio pelo prazer.
Não sou sinônimo pra beleza
Muito menos antônimo para a ira.
Sou a chuva que mata, o vento que destrói.
Sou a morte e a destruição.
Quem me vê esconde o medo,
Olham pra baixo, escapam do eixo.
Dão as costas e falam baixo
E fecham os punhos, cerrando os dentes.
Sou o sangue escorrendo pelo pulso
Sou a grande ferida dos olhos.
Eu saio gritando de um buraco fundo.
Prazer, eu sou o ódio.

Apresentação dos Fatos Humanos - parte I

Dou-lhe a rasteira enquanto você pula a corda.
Falo que te amo olhando nos teus olhos, mas te odeio na pele.
Aponto o dedo pra você falando mal de outrem
E ainda peço um abraço pra apunhalar tuas costas.
Aponto a arma quando você vira,
Mas faço questão de lhe chamar quando atirar.
Não meço palavras, escondo elogios.
Eu gosto mesmo é de causar polêmica.
Eu sou o caos, a confusão,
Sou também um covarde.
Que não dá a cara pra bater,
Que só sabe falar ao telefone.
Sou o espelho que não dá bom dia de manhã.
Sou o reflexo que te mede da cabeça aos pés.
Sou a noção do perigo humano.
Sou crueldade.
Carrego a ira da mentira, nos meus olhos só há ódio.
Escrevo nas entrelinhas o que falo
E assisto à desordem na minha poltrona confortável.
Sinto prazer em criar o que não existe,
De moer o café e marcar uma crise.
Eu entro na vida dos outros com um único objetivo:
Causar tristeza e rancor.
Eu não conto os segundos do tombo.
Eu não ando em linha reta.
Durmo de dia e perturbo seu sono.
Um prazer. Me chame de indireta.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Algo que passou e esqueci de marcar

Uma vez me contaram uma história sobre sonhos.
Quem é você e o que você quer fazer da sua vida.
Me contaram que queriam ter várias vidas, como os gatos.
Não precisaria nem ter as sete, como os felinos.
Ela queria três vidas.
Na primeira, ela queria ser artista.
Fazer do mundo sua tela, das ruas o seu palco,
Das conversas a sua música.
Na segunda, ela queria ser médica.
Salvar vidas pelo prazer.
O esporte de se doar voluntariamente.
Na terceira, ela queria ser o que já era.
Alguém que achava que tinha muito com o que se preocupar.
Certa vez me perguntaram quantas vidas eu queria ter
Para poder fazer tudo que quero.
Eu respondi com toda certeza
Que da vida eu só quero ter uma
E dela eu só quero levar a felicidade.

Uma pergunta.

O que é mais tolo?
Assistir tudo em cima do palco ou virar as costas para o espetáculo?

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Sobre as perguntas em frente ao espelho

Não sou digno de respostas às perguntas que faço ao me olhar no espelho...

O Jogo do Amor

Há situações na vida como essa, que nem sempre eu consigo manter a calma e jogar o jogo. E é preciso ter paciência e não deixar tudo ir por água abaixo.
Eu espero as cartas certas, mas parece que elas nunca chegam. O crupier continua com seu gesto singelo de dar as cartas para cada jogador, brincando de ser Deus, de criador e criaturas, indefesas e impacientes, esperando o flop divino.
E eu estou aqui, cansado de esperar, cansado de fugir, de não dar a cara a tapa. Já vivenciei momentos de glória e desespero, mas está na hora de entrar no jogo.
Que venha o flop, o turn ou o river.

Eu só quero mesmo o meu Ás de Copas.