quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Nem sempre tem que ser

Uma pintura.
Um pincel molhado toca a tela seca e desliza a tinta branco abaixo. Nessa pincelada única, e nas demais, o artista quis passar uma mensagem óbvia, porém complexa. Todos que passaram pela sua galeria naquela tarde, depois do quadro pronto, entendiam o que viam e o que Pierre, o artista, queria falar com ela.
Um outro instrumento de semelhança, em um movimento sagaz, desenhava a última abstração que lhe ocorria em mente, a imagem do que não lhe era verdade para os olhos, mas sim para o coração. Naquela tarde, muitos pararam para admirar o quadro de Marli, exposto num evento. Algumas pessoas não entendiam nada, mas sabia que ela queria passar alguma mensagem.
Do terceiro, mais alto e denegrado. Pôs-se a luz da primaveira e da arte fez-se a matéria da sua paixão. Misturou em tons pastéis o que lhe aguçava o paladar traiçoeiro e então colocou-se a pintar. O quadro na parede do quarto de Dênis não tinha nenhum significado e todo mundo o sabia. Mas ainda assim era uma obra-prima.
Nem tudo escrito e feito nessa vida tem que ter um significado para todos.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

27/10/2009 - 02:31

Acabo de ver um filme que talvez tenha sido a obra que chegou mais próximo de entender o que é o amor. É engraçado e chega a parecer surreal como nos privamos da eterna felicidade, de encontrarmo-nos com o amor próprio - o caminho para uma vida perfeita - simplesmente para seguir moldes pré-estabelecidos em uma sociedade.
O meu propósito aqui não é, jamais, criar um discurso moralista e que chega a ser um clichê chato do jovem contra a sociedade. A única coisa que gostaria de dizer é que, talvez, em uma sociedade mais liberal, o homem poderia encontrar o verdadeiro amor.
Veja bem. Existem dois tipos de casais muito destintos. Ambos se amam de paixão, porém só o primeiro consegue manter por dois anos e mais em um sentimento de paixão extrema e diária. O segundo, entretanto, está tão apaixonado quanto o primeiro, mas não é tão tardia a morte dessa paixão que faz do amor algo tão vivo.
No filme, um trecho me chamou muito a atenção: "É engraçado... nós fomos e não fomos feitos um para o outro. É uma contradição. Para entender, é preciso um poeta [...] Porque eu não entendo." Essa frase me despertou tão profundos pensamentos...
Não sei se todos pensam como eu (óbvio que não), mas Almas Gêmeas não estão predestinadas a se casar. Para mim, são pessoas - do mesmo sexo ou não - que combinam muito, mesmo não tendo nada em comum. Elas se completam de alguma forma, como a harmonia perfeita de uma música, o sentimento transcrito com sinceridade na poesia ou até mesmo a velha história da cara metade. Se essas pessoas tiverem a chance de se encontrar, se amarão para sempre e terão uma ligação que viverá além das capacidades humanas.
E não acho mesmo que todo mundo tem o privilégio de encontrar sua alma gêmea. A grande parte dos casais apaixonados e sorridentes que encontramos mundo afora é simplesmente o resultado da busca pela resposta para o amor que o homem começou faz muito tempo atrás: a ilusão.
Nós, ao longo do tempo, cansamos de entender esse sentimento tão benéfico e estridente e aderimos à técnica ilusória de criar e acreditar. Felizmente, ou não, somos capazes de criar o amor. Mas garanto que a cada dez casais - apaixonados ou não - apenas um realmente se ama. Ou não.
Cada um vê e entende o amor à sua maneira e talvez seja essa quase singularidade que nos faz tão únicos e destintos na hora de amar. Acabo de ver um filme e escrever. Agora me dei conta: ninguém, nunca, jamais irá compreender esse derradeiro e maravilhoso sentimento.

Com amor,
Thiago Klein

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Coisas que quero...

Quero férias de verdade, quero tempo. Quero ouvir o galo cantar, quero assistir ao sol nascer, quero ver o céu clarear em tons alaranjados, fazendo do azul uma simples tela de pintar.
Quero poder falar sem pensar, rir sem ter medo de ser julgado e conversar durante horas a fio, sem ser interrompido. Quero poder comer tudo o que está na mesa, beber da cerveja mais gelada e brindar com os amigos a existência da vida. Quero poder acordar bem cedinho pra por os pés na areia e ouvir um bom dia cheio de ressaca da noite anterior e ainda tomar um café da manhã, olhando o mar em silêncio.
Quero poder fazer barulho a hora que for, e falar a hora que me desejar. Quero aprender a engolir sapos sem me machucar e também quero aprender a deixar a raiva passar mais depressa.
Quero sentir o vento na cara, ao abrir a porta da varanda. E poder olhar a rua lá embaixo enquanto acendo um cigarro, ouvindo a melodia do violão que o rapaz se pôs a tocar logo depois que subiram o casal e o dono da casa.
Preciso ver o mar.
Quero rir a toa, quero viajar e ainda ter de voltar para o trabalho na semana seguinte. Quero viver bem, quero ter saúde e não sentir mais dor. Quero ter dinheiro e felicidade. Quero ter momentos. Quero carinho, quero beijos e abraços. Quero ouvir um eu te amo só de quem eu realmente espero e quero sentir arrepios com seus dedos em meus cabelos.
São coisas que quero, são coisas que tenho. Mas eu quero sempre mais.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Sim

A resposta é sim, sempre foi e sempre vai ser.
Eu me perco em labirintos experimentais que crio durante sonhos e entre realidades e fantasias vivenciadas dentro ou fora do meu livro de cabeceira. Eu viajo do ponto extremo do céu ao centro da Terra sem perder a órbita, sem sentir-me enjoado, permanecendo como sempre com os pés no chão.
As vezes bato asas e as vezes me descubro em posição fetal, mas dá pra entender que a resposta é sim quando se para três ou quatro vezes durante a viagem, simplesmente para olhar a parede azul, acender um cigarro e tentar imaginar qual é o próximo capítulo.
E qual é o próximo? Um minuto, meu cigarro talvez possa responder.
Pego o cigarro furtado e cinzeiro antigo, acendo e puxo um longo trago. Seguro, segurança, segredo. Solto a fumaça e olho o pôster na parede com os dizeres "Ska is madness", o sim das iniciais.
Você ama? Sim. Você odeia? Sim.
E a pausa é longa, o caminho é curto e o tempo é passageiro.
Você está nervoso? Sim. Você está calmo? Sim.
O coração acelera, a pulsação diminui e os olhos se fecham.
Você está feliz? Sim. Você está triste? Sim.
E os sonhos começam, as dúvidas permanecem e certas pessoas ficam.
Você aproveita a sua vida?
Obviamente que sim...

domingo, 18 de outubro de 2009

Dezoito

Eram dezoito das vinte e quatro horas que choveram. Uma chuva rala, uma garoa tímida, um gotejar pesado e um rio de lágrimas angelicais, caindo como cachoeira de cada nuvem. E assim, dezoito horas choveu sem parar.
O sol, cansado e meio descontraído, apareceu algumas vezes para lembrar a chuva da sua existência, mas foi se cansando meio cedo, e nem eram seis horas da tarde e ele já tinha ido pra cama. E assim perdurou o restante das dezoito horas de chuva.
Os mais sortudos acendem um cigarro e assistem a tempestade através das telas envidraçadas da janela. Aqueles que não tem lá muita sorte sentem na pele todo aquele espetáculo. Alguns morrem de medo de que acabe a luz na hora da novela, enquanto outros rezam para que o riacho perto da sua casa não encha e eles percam tudo. Medo e apreensão durante dezoito horas.
E a chuva passou e o sol não acordou. Ficou por trás da lua que brilhou por entre as nuvens cinzentas. E como um unicórnio, iluminou a cidade de prata. E depois de dezoito horas, ela parou.
E o rapaz presenciou tudo da primeira fila. E ao acabar, levantou sem aplaudir. Assim que o sol se levantou e acordou o mundo, no rosto do garoto esboçava um singelo sorriso. Da janela do seu quarto ele via uma flor no jardim, e ele pensou estar dormindo quando ela se virou e sorriu.
E assim, passaram-se vinte e quatro horas, das quais dezoito foram debaixo d'água.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Decisões

Decidido, Juan sentou.
Olhou para os transeuntes, respirou fundo e um medo lhe tomou o corpo. Por que sentia aquilo, onde estava toda a coragem que lhe invadira cada centímetro cúbico do seu corpo quando passou pela sua cabeça que ele iria conseguir? Ele não soube.
Pouco a pouco, o local estava enchendo, muita gente andava de um lado para o outro, conversando alto, conversando baixo. Alguns até cochichavam e outros observam Juan em silêncio. O rapaz, incrédulo, só percebia olhares de desaprovação e preconceito. Seria a sua barba mal feita ou seu cabelo bagunçado?
Decidido, Juan se levantou.
Andara três ou quatro passos e uma luz o cegou os olhos, não enxergava mais nada, nem ninguém. "Finalmente, estou cego. Não precisarei mais ver os olhares desinteressados", pensou ele. Um psiu, psiu foi ouvido ao seu lado e ele notou que o contra regra estava indicando um microfone. Trêmulo, Juan pegou o microfone e o tirou do pedestal.
Decidido, Juan falou.
Desejou boa noite aos convidados e o silêncio prevaleceu. Pensou ele, como poderiam todos aqueles engravatados e pomposas ficarem em total silêncio com um rapaz de barba e cabelos mal feitos, mal vestido e fedendo a cigarro com um simples e singelo boa noite. Em voz baixa, enfraquecida pelo pavor, Juan continuou a sua prosa.
Após se apresentar, dizendo seu nome e desejando as boas vindas, voltou para perto do banco. E decidido, ele se sentou novamente.
Mesmo com breu absoluto na platéia, Juan ficou apreensivo. Era nítido, por mais oculta que estava pelo escuro, o branco dos olhos daqueles que desaprovam e retardam a geniosidade humana.
Decidido, Juan suou e tremeu.
O nervosismo invadiu sua mente pelos olhos. Alguns, mais apressados, começaram a chiar e vaiar. Outros, mais discretos, negavam e reprovavam aquela situação com a cabeça. Mas, ainda existia alguns que simplesmente entendiam e esperavam.
Pensou se era o mais certo, desistir depois de ter chegado até alí. De subir aquelas escadas de madeira, de olhar como era a visão dali de cima, visão essa que queria ter tido desde criança, quando assistia os seus ídolos interpretando poesias e destilando arte através dos seus instrumentos e vozes.
Pensou se era aquela a sua única chance, o seu único tiro que teria que acertar o alvo. Era. Era realmente a sua chance, a sua escolha, sua paixão.
Decidido, Juan tocou.
E ninguém, nunca mais, chegou a duvidar de sua capacidade.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Uma mensagem de alguém que acordou bem.

Mais um dia para se descobrir a vida.
Não sei o porque, mas hoje eu acordei com vontade de sorrir.
Desejei bom dia ao motorista, ao cobrador e ao porteiro do prédio comercial.
Até sorri e cumprimentei aqueles que não ia muito com a cara.
Resultado: agrados e satisfações de todos os lados.
É mais um dia para você descobrir a vida.
Ela é assim mesmo, todo dia é uma oportunidade, uma chance para desvendar, mas pode ter certeza que você morrerá sem descobrir tudo sobre a vida.
Ela é assim mesmo, misteriosa.
Mas não desista, continue vivendo e acordando todo dia com o objetivo de descobrir cada segundo que você vive nela.

Bom dia para todos!

sábado, 3 de outubro de 2009

Aprendizados

Após anos sem voltar, ele aparece sem aviso prévio batendo na porta da frente.

Deitado em sua cama, ainda acordado, aquele jovem garoto sonhava com o mundo. Cigarro após cigarro, ia preenchendo seu criado mudo com garrafas de cerveja e sua cabeça com idéias e questionamentos. Eu não pertenço àqui, dizia ele para si mesmo.
Decidido, levantou-se e colocou uma roupa de sair. Arrumou uma pequena mochila e, sem deixar nenhum aviso, ele partiu. Sua respiração ofegante podia ser ouvida através da parede do vizinho e enquanto o elevador não chegasse o garoto não ia se sentir tão a vontade.
Era noite e ele se desbravou ao mundo, enfrentando de frente o medo e o perigo, rezando para o seu Deus que nada lhe acontecesse. Pegou o primeiro ônibus e, sem rumo, ele se foi.
Em seu caminho ele encontrou a felicidade. Momentos de pura alegria que até lhe fez sentir peso na consciência de ter esquecido a máquina fotográfica para registrar aqueles momentos, mas depois de um longo tempo ele percebeu que a melhor fotografia que ele poderia ter batido era aquele sentimento de puro êxtase que sentia toda vez que se lembrava. Quem não tem memória, tira fotos, pensava ele.
Mas também encontrou muitas barreiras em sua aventura. Sustos e frio, fome e medo, receio e vontade de voltar para a casa, desistir daquela bobagem toda. Queria voltar para o calor daquilo que ele só foi se tocar que tinha quando sentiu o frio dos maiores perigos de sua vida. Os fracos fogem e desistem, os honrados lutam e ultrapassam os muros que a vida coloca na sua frente, pensava ele.
Se instalou numa pequena cidade do interior e lá encontrou o amor. Achava que tinha comprado o pacote completo, pois com o amor veio o carinho, a recíproca, os olhos ternos e os cafunés noturnos, quando deitados na rede para olhar e contar as estrelas. Não quero mais nada, eu tenho tudo aqui. Tenho a vida e a vida me tem, pensava ele.
Passaram-se anos, ele arranjou um emprego e marcaram o casório. Er a tudo tão lindo, um verdadeiro conto de fadas na sua realidade próxima, mas não teve um final lá bem feliz. Voltando um dia mais cedo do seu casório, ele a viu com outro. Ódio e rancor. Raiva e vontades do impossível para ele: queria matar. Se revoltou e quebrou vidros, pisou nos cacos e gritou sua dor aos lados inteiros do vento. Subiu na mais alta montanha da cidade e lá fumou seu cigarro. O ódio não é um sentimento, é uma maldição. Eu não quero isso para mim, pensava ele.

E após anos sem dar notícias, ele voltou. E assim como foi embora, não deixou aviso prévio. Só que dessa vez ele trazia consigo o amor pela sua vida e lembranças no coração.