domingo, 18 de outubro de 2009

Dezoito

Eram dezoito das vinte e quatro horas que choveram. Uma chuva rala, uma garoa tímida, um gotejar pesado e um rio de lágrimas angelicais, caindo como cachoeira de cada nuvem. E assim, dezoito horas choveu sem parar.
O sol, cansado e meio descontraído, apareceu algumas vezes para lembrar a chuva da sua existência, mas foi se cansando meio cedo, e nem eram seis horas da tarde e ele já tinha ido pra cama. E assim perdurou o restante das dezoito horas de chuva.
Os mais sortudos acendem um cigarro e assistem a tempestade através das telas envidraçadas da janela. Aqueles que não tem lá muita sorte sentem na pele todo aquele espetáculo. Alguns morrem de medo de que acabe a luz na hora da novela, enquanto outros rezam para que o riacho perto da sua casa não encha e eles percam tudo. Medo e apreensão durante dezoito horas.
E a chuva passou e o sol não acordou. Ficou por trás da lua que brilhou por entre as nuvens cinzentas. E como um unicórnio, iluminou a cidade de prata. E depois de dezoito horas, ela parou.
E o rapaz presenciou tudo da primeira fila. E ao acabar, levantou sem aplaudir. Assim que o sol se levantou e acordou o mundo, no rosto do garoto esboçava um singelo sorriso. Da janela do seu quarto ele via uma flor no jardim, e ele pensou estar dormindo quando ela se virou e sorriu.
E assim, passaram-se vinte e quatro horas, das quais dezoito foram debaixo d'água.

Nenhum comentário: