sábado, 3 de outubro de 2009

Aprendizados

Após anos sem voltar, ele aparece sem aviso prévio batendo na porta da frente.

Deitado em sua cama, ainda acordado, aquele jovem garoto sonhava com o mundo. Cigarro após cigarro, ia preenchendo seu criado mudo com garrafas de cerveja e sua cabeça com idéias e questionamentos. Eu não pertenço àqui, dizia ele para si mesmo.
Decidido, levantou-se e colocou uma roupa de sair. Arrumou uma pequena mochila e, sem deixar nenhum aviso, ele partiu. Sua respiração ofegante podia ser ouvida através da parede do vizinho e enquanto o elevador não chegasse o garoto não ia se sentir tão a vontade.
Era noite e ele se desbravou ao mundo, enfrentando de frente o medo e o perigo, rezando para o seu Deus que nada lhe acontecesse. Pegou o primeiro ônibus e, sem rumo, ele se foi.
Em seu caminho ele encontrou a felicidade. Momentos de pura alegria que até lhe fez sentir peso na consciência de ter esquecido a máquina fotográfica para registrar aqueles momentos, mas depois de um longo tempo ele percebeu que a melhor fotografia que ele poderia ter batido era aquele sentimento de puro êxtase que sentia toda vez que se lembrava. Quem não tem memória, tira fotos, pensava ele.
Mas também encontrou muitas barreiras em sua aventura. Sustos e frio, fome e medo, receio e vontade de voltar para a casa, desistir daquela bobagem toda. Queria voltar para o calor daquilo que ele só foi se tocar que tinha quando sentiu o frio dos maiores perigos de sua vida. Os fracos fogem e desistem, os honrados lutam e ultrapassam os muros que a vida coloca na sua frente, pensava ele.
Se instalou numa pequena cidade do interior e lá encontrou o amor. Achava que tinha comprado o pacote completo, pois com o amor veio o carinho, a recíproca, os olhos ternos e os cafunés noturnos, quando deitados na rede para olhar e contar as estrelas. Não quero mais nada, eu tenho tudo aqui. Tenho a vida e a vida me tem, pensava ele.
Passaram-se anos, ele arranjou um emprego e marcaram o casório. Er a tudo tão lindo, um verdadeiro conto de fadas na sua realidade próxima, mas não teve um final lá bem feliz. Voltando um dia mais cedo do seu casório, ele a viu com outro. Ódio e rancor. Raiva e vontades do impossível para ele: queria matar. Se revoltou e quebrou vidros, pisou nos cacos e gritou sua dor aos lados inteiros do vento. Subiu na mais alta montanha da cidade e lá fumou seu cigarro. O ódio não é um sentimento, é uma maldição. Eu não quero isso para mim, pensava ele.

E após anos sem dar notícias, ele voltou. E assim como foi embora, não deixou aviso prévio. Só que dessa vez ele trazia consigo o amor pela sua vida e lembranças no coração.

Nenhum comentário: