quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O Mar

Olhando adiante, nada vejo além do céu azul
Sabendo mesmo assim que alí existe vida
Separados pelo horizonte cru
Procurando a tese que justifica
O mar e sua mágica de cartas
Seu truque mais sutíl
Que afunda junto às magoas
Até o homem mais viril
É um erro insultar aquele
Que todo dia é tão sereno
Fez-se o ódio e pranto
Transformando aquele sereno
Mar e sua mágica de cartas
Seu truque mais sutíl
Que afunda junto às magoas
Até o homem mais viril.

Thiago Klein
25/02/2009

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Respostas

Sentado numa poltrona suja e corroída, espero. A sala iluminada está vazia, porém cheia de lixo e papéis no chão. Outro sofá está ao lado, sem assento e sujo com pegadas de sapato e tênis. Olho para ele com mais desprezo do que olhei para o qual estou sentado. Espero.
A parede da frente é pintada com apenas uma mão de tinta branca, ainda enxergo o que há por trás dela. Frases, figuras e demsenhos, meras imagens. No canto extremo à porta lilás está um banco, um puff branco rabiscado com canetas e uma poltrona sem o braço esquerdo. Sentado, eu espero.
A parede perpendicular a minha frente é cor de gelo, com uma sigla grafitada em preto, branco e lilás, cores que, creio eu, sejam as escolhidas para esta sala. Abaixo da sigla vejo um quadro de um ser folclórico. Uma cadeira de escritório preta está na frente dela, me fazendo pensar o porque de eu não estar ali sentado, esperando.
Atrás de mim, apenas uma parece escondida por trás dos recortes de revistas. Algumas pornôs, outras cômicas, mas a grande maioria mostra grandes nomes da música, cinema, literatura, pinturas e artes em gerais.
Oito lâmpadas esquentam o ambiente já quente. O ventilador não funciona e o suor começa a me incomodar. O sinal é dado e eu ainda espero.
Espero uma resposta.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Rodrigo e Samanta

A agência de publicidade, onde Samanta trabalhava, ficava na rua Tutóia, no Paraíso. Um prédio de cinco andares, mais de trezentos funcionários, entre eles a garota e Rodrigo.
No último andar havia um espaço que chamavam de playground. Mesas para almoçar, microondas, geladeiras, video-games, mesas de ping-pong, quadros, uma televisão e uma mesa de sinuca. Todas as manhãs a agência dava à equipe um belo café da manhã, com sucos naturais, pães, frios, bolinhos e outras guloseimas.
Samanta desceu do ônibus com os fones de ouvido já guardados, voltou a colocar seus óculos e seguiu para a agência. Rodrigo vinha logo atrás e a chamou:
- Sammy!
A garota olhou para trás e deu um sorriso ao ver o menino.
- Oi Rô!- parou para cumprimentá-lo com um beijo no rosto. - Ficaram muito tempo lá ontem?
Os dois tinham se encontrado no dia anterior no bar, no qual ficaram por horas bebendo e conversando com os amigos.
- Não. Fui embora assim que você foi, o Marcelo tava morto já. Ficou dormindo lá em casa, enquanto alguém trabalha pra sustentar a casa. - riu.
Os dois continuaram conversando até chegar na agência e subiram ao quinto andar para tomar um café.
O clima da agência era familiar. As pessoas eram comunicativas, conversavam e brincavam bastante, principalmente a equipe de criação, mais descontraída. Gritavam e faziam piadas o tempo inteiro, tendo o andar deles conhecido como "A Zona". Rodrigo era o mais quieto e pensativo de todos, mas era um dos profissionais mais bem vistos na agência.
Um assistente de arte, assim como Rodrigo, era conhecido como Bill. Seu nome, no entanto, era Bruno e vivia dando em cima de Sammy, fazendo dela uma Deusa dentro da agência.
- Bom dia, minha querida. - chegou ele para Samanta, com um copo a mais de suco a entregando. Sammy apenas sorriu, como quem queria dizer obrigada. - Vamos almoçar juntos hoje? Pensei em comermos no restaurante aqui do lado, sabe?
Rodrigo, que estava perto, apenas riu baixo. Sammy, por sua vez, deu um gole do suco e disse, com as buchechas vermelhas:
- Não vai dar, Bill. Já marquei um almoço com o irmão do Rô e uma amiga. Vamos conversar sobre assuntos pessoais, fca pra próxima.
Sem esperar a contra-resposta de Bill, Samanta saiu de perto e foi para uma mesa onde estavam algumas meninas e ficou por lá conversando. Bill olhou para Rodrigo com um ar de desprezo.
Rodrigo enviou uma mensagem para Marcelo dizendo a hora e o local do almoço. Já tinha acabado seu café e se despediu de todos, com cautela e foi até Samanta dar um beijo e desejar "um bom trabalho". Ao sair, notou que as meninas cochichavam sobre ele. Não ligou.
Entrou no elevador e desceu para o segundo andar.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Marcelo e Carol

O som era bem calmo na manhã de uma Fnac extremamente vazia. Os carpetes pretos da loja na Avenida Paulista estavam novos, como se fossem limpos a cada vez que alguém pisasse neles. A sessão de eletrônicos só encontrava-se os atendentes, de branco, alguns de preto, arrumados naquelas camisas pólos.
Na sessão de livros, no segundo andar, podia-se ver algumas pessoas adeptas à era Hype. Vestidos floridos e óculos escuros eram o que mais se viam naquela nova onda cult que movimentava a cidade, o estado e o país, algo como uma nova "Nova Era" ou uma onda Hippie Alternativo.
Toda aquela encenação deixava Carol um pouco enjoada, porém hipnotizada pelas novas tribos que estavam sendo formadas ou reformadas. Passou rapidamente pela sessão de livros e se dirigiu para o café, que estava com um movimento relativamente parcial para o horário.
Com uma blusinha branca de alças com bolinhas pretas, com as costas abertas, fechada como um espartilho. Uma saia que caía até um pouco depois dos joelhos, num xadrez mais largo do que o costume, fechada por botões do começo ao fim. Nos pés, uma rasteirinha e na cabeça os óculos escuros.
Parou por um instante na porta e achou o Marcelo sentado na bancada. Se aproximou e os dois se cumprimentaram e se sentaram em uma mesa, pediram um café da manhã. Marcelo pediu um café longo, sem açúcar, e 6 mini pães de queijo. Carol pediu um suco de laranja e um tostex.
- Como que tá a facul? - perguntou o Marcelo após engolir o terceiro pão de queijo numa só mordida.
Carol fazia faculdade de moda na Anhembi Morumbi. Suas roupas eram desenhadas por ela mesmo e sua avó costurava para ela.
- Está tudo indo. Nasci para isso, você sabe né Tché?
Os dois eram amigos fazia pouco tempo, mas a amizade aconteceu de uma maneira tão intensa que nenhum dos dois se lembra como se conheceram e nem quanto tempo fazia. Eles diziam que eram conhecidos desde criança e combinaram juntos para um não desmentir o outro.
Conversaram por alguns minutos e depois foram para a Paulista, para Marcelo fumar e eles andarem por lá.
- Você sabe o que é radical livre e qual a sua "importância" para você ter câncer? - perguntou a menina pela enésima vez para Marcelo, que, por sua vez, apenas tragou e olhou adiante.
Carol era uma das poucas do grupo que fazia parte da "geração saúde". Não bebia, não fumava e abominava drogas, mas não tinha preconceito para com quem usasse, até mesmo porque o seu acompanhante era um usuário não-compulsivo.
- Onde vamos almoçar com os dois? - perguntou Marcelo após alguns minutos de caminhada.
- Ela ainda não me ligou. - respondeu a menina olhando para ele através dos óculos.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Carol

Ao som da nona sinfonia de Beethoven, próximo ao quarto movimento, o despertador da Betty Boop começou a tocar, assim que o ponteiro dos segundos passou pelo 12 e as horas marcavam exatamento 7:00.
Como se fosse uma performace ensaiada todos os dias, a menina se sentou na cama e esticou os braços para cima, encostando palma com palma da mão e desceu lentamente, batendo a mão na Betty, fazendo o barulho parar. Olhou para os lados, para alongar o pescoço e então se levantou, calmamente.
Carolina, "ou Carol para todos" como dizia ela, era uma garota simples que gostava muito de cuidar do corpo e da aparência. Aos 19 anos tinha um corpo muito invejado por todas. Era magra, porém não era fina. Tinha força e um corpo bem moldado, fazia dança desde pequena, gostava de nadar e ainda descolava um tempo entre um esporte e outro para desenhar vestidos e roupas que ela mesma costurava.
Seus cabelos, caídos até o ombro, eram extremamente pretos, assim como os olhos. Dona de um nariz fino, um pouco arrebitado e uma boca fina, dos lábios bem rosados, parecendo uma princesa de um Conto de Fadas urbanizado.
Arrastou um colchão de ginástica debaixo da cama, ligou o computador, se conectou ao messenger, colocou uma música calma e começou a se alongar, processo que durou quarenta e cinco minutos. Após toda a ginástica, voltou o colchão para debaixo da cama, pegou uma toalha nova na gaveta e foi ao banheiro.
Filha de pais médicos, Carol vivia em uma mordomia invejada por muitos. Seu banheiro era branco-luz, com uma pia de mármore adornada com alguma de suas jóias e uma banheira grande, com espaço para duas pessoas tomarem banho juntas. Mas nunca fora usada por duas pessoas ao mesmo tempo.
Morava em uma cobertura da Alameda Campinas, com os pais e a irmã mais nova, Clarice, com a qual tinha uma paixão enorme e a tratava mais como filha, já que os pais eram ausentes demais para poder tomar conta dela, assim como não cuidaram direito de Carol, o que fez a menina crescer com um caráter mais maduro do que o esperado para uma menina de sua idade.
Voltou para o quarto após um banho quente, já vestida para sair, como se fosse esperado algum convite para algum lugar. Sentou-se na frente do computador e viu a mensagem de Marcelo:
- Onde vamos tomar o café hoje?
- Fran's Café. Fnac. Te encontro em 5 minutos, ok? - ela se levantou e foi para a sala, avisar à empregada que estava de saída.
Voltou para o quarto e viu que Marcelo tinha concordado. Pegou a chave de casa e foi embora.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Marcelo

A porta da sala bateu com força o que causou um susto frenético no garoto de cabelos cacheados e curtos na cama do apartamento na Brigadeiro. Soltou um muxoxo semelhante à um xingamento e então pegou seus óculos na escrivaninha e seguiu para a cozinha, apenas de samba canção.
Abriu a geladeira na esperança de encontrar algo novo. Só alguns alfaces antigos, um pote com arroz e outro com feijão e muita cerveja. Fechou a geladeira com sentimento de culpa e enxeu um copo com água, voltando para o quarto, onde ligou seu computador para colocar alguma música.
O último a sair era Rodrigo, seu irmão. Logo, a casa estava vazia, como todas as manhãs. Colocou Pink Floyd para tocar e foi até o banheiro, assobiando tranquilamente a música que tocava no computador. Lavou o rosto e colocou suas lentes de contato, nos olhos também verdes, só que mais claros que do irmão.
Marcelo era o irmão mais novo de Rodrigo. Com 19 anos, veio para São Paulo estudar também a publicidade, como o irmão, mas ele era mais estratégico do que criativo e ainda não trabalhava na área. Tocava bateria na banda deles e não tinha tanta criatividade quanto o letrista Rodrigo.
Acendeu um cigarro e sentou na frente do computador, onde abriu seu messenger e mandou uma mensagem para a recém-acordada Carol, uma grande amiga:
- Onde vamos tomar o café hoje? - perguntou ele pelo programa.
Se levantou e vestiu uma camiseta polo vermelha, colocou seu jeans e um puma no pé. Então voltou para o computador:
- Fran's Café. Fnac. Te encontro em 5 minutos, ok? - respondeu a amiga.
- Ok.
Marcelo se levantou, colocou Ausente no status de seu messenger, pegou seus óculos escuros - sem grau - e as chaves do apartamento. Ao sair trancou a porta e desceu pelas escadas, calmamente.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Rodrigo

O sol ainda se escondia atrás de uma lua que já não era mais visível no céu. Com o horário de verão, o sol só dava as caras lá pelas seis e meia, e como ainda faltava cinqüenta minutos, o céu estava escuro como uma bela noite de primavera.
O menino já estava de pé, com uma toalha presa na cintura e os cabelos pingando, qualquer um que visse saberia que tinha acabado de sair do banho. Estava parado em frente ao espelho, alinhando sua barba, olhando, com seus olhos "verdes-bem-escuros", fixamente para ela, como um artista plástico analisando sua obra prima. Após alguns minutos para não cortar quase nada, o rapaz deu meia volta e seguiu para seu quarto, onde também dormia o seu irmão, numa cama posta ao lado oposto da sua.
Sentou-se na frente do seu computador, ainda nú apenas com a toalha e abriu em seu photoshop um arquivo "bic_revista1pag" e começou a trabalhar o brilho e o contraste da imagem, mostrando que não era apenas com sua barba que gostava de fazer um trabalho perfeccionista.
Rodrigo era ainda um menino. Tinha 21 anos, bem vividos aos olhos dele. Estava no seu segundo ano da faculdade de publicidade e já era assistente de arte de uma grande agência. Sua ida para esta foi graças ao olhar crítico e, muitas vezes, fora da margem, que o fazia ter um senso de beleza e estética fora do padrão.
Após terminar o trabalho, salvou-o em seu pen drive e seguiu para o armário, onde pegou uma camisa xadrez que era curto até para um menino de 16 anos, vestiu-a por cima de uma camiseta branca e colocou suas calças jeans. No pé um allstar preto, limpo.
Morava em um apartamento, na Brigadeiro Luiz Antônio, de dois quartos, grande, com o irmão Marcelo e mais um amigo. Juntos, mais um menino da sala de Rodrigo, formavam uma banda que tocava um rock mais bem elaborado.
Rodrigo era um cara, como diziam os amigos, "boa pinta". Seus cabelos eram bem pretos e bagunçados, notando que se ele deixasse crescer mais um pouco, eles se cachevam nas pontas. Sua barba era bem cuidada e não deixava seu rosto de forma suja.
Saiu de sua casa e seguiu para a Paulista. Eram oito e meia e estava indo trabalhar.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Samanta

O quarto está escuro. A única luz vem do celular tremendo. Seis horas, o despertador toca e a menina, ainda muito sonolenta, abre e fecha o flip do celular para o barulho cessar. Se levanta calmamente e liga seu rádio e coloca um cd gravado da Janis Joplin para tocar.
A menina abre a janela do quarto deixando a luz do sol nascente entrar e começa a recolher a roupa jogada no chão, pega o cinzeiro que está no canto do quarto e o coloca na escrivaninha. Acende um cigarro e abre seu armário, onde fica horas escolhendo a roupa que vai usar.
Sua franja, para o lado, estava toda bagunçada. Os cabelos longos e negros caíam até a cintura, causando um contraste com sua pele branca. Por fim, escolheu a roupa e tomou um bom banho, ainda ao som de Janis no rádio.
Allstar branco no pé, uma calça jeans grudada nas canelas e uma blusinha preta com um decote sútil. O cabelo estava arrumado e a sua franja estava jogada para o lado, presa com a ajuda de uma faixa. Nas orelhas um par de brincos prateados em grandes argolas.
Samanta tinha apenas 19 anos e fazia faculdade de jornalismo numa faculdade de renome em São Paulo. Morava próximo à Avenida Paulista e trabalhava na assessoria de imprensa de uma grande agência de publicidade, seu destino naquela manhã.
Ao sair do seu prédio, colocou seus óculos escuros, pois o sol a incomodava muito, ainda mais nas circunstâncias em que ela acordou. No dia anterior, quarta, tinha saído com alguns amigos da faculdade e do trabalho, foram para um bar e por lá ficaram quase a noite toda. Só voltou para casa quando se deu conta, após muita bebedeira, que trabalharia no dia seguinte. Sorte a dela que seus pais moravam no interior e dividia o apartamento com uma outra amiga que também estava no bar.
Sammy, como era chamada pelos amigos, era solteira e vivia bem do jeito que estava. Escondia muito, através de seus belos olhos azuis, seu lado romântico e sensível. Todos à achavam forte o suficiente para aguentar qualquer empecilho, mas apenas ela sabia que não era bem assim que a vida funcionava.
Entrou no ônibus e colocou seu fone de ouvido e começou a escutar The Strokes. Fechou os olhos e adormeceu.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Traduzindo...

O dia amanhece cinza e você não sabe o que você tem, nem o que os outros tem. Você deixa tudo como está e não se importa como as coisas estão.
Você anda pela rua desligado, só ouve o que quer das pessoas. Não quer voltar atrás, mas também não quer dar um passo à frente.
Para você tanto faz. Não quer voltar, não quer ficar, não quer seguir. Você não vê vaidade no espelho e parece gostar do estrago que fez à você mesmo.
O tempo não parece ter passado, mas ao mesmo tempo parece ter vivido por anos e você aceita a condição em que está vivendo.
Você está velho, no corpo jovem. Você está jovem, no corpo velho.