quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Decisões

Decidido, Juan sentou.
Olhou para os transeuntes, respirou fundo e um medo lhe tomou o corpo. Por que sentia aquilo, onde estava toda a coragem que lhe invadira cada centímetro cúbico do seu corpo quando passou pela sua cabeça que ele iria conseguir? Ele não soube.
Pouco a pouco, o local estava enchendo, muita gente andava de um lado para o outro, conversando alto, conversando baixo. Alguns até cochichavam e outros observam Juan em silêncio. O rapaz, incrédulo, só percebia olhares de desaprovação e preconceito. Seria a sua barba mal feita ou seu cabelo bagunçado?
Decidido, Juan se levantou.
Andara três ou quatro passos e uma luz o cegou os olhos, não enxergava mais nada, nem ninguém. "Finalmente, estou cego. Não precisarei mais ver os olhares desinteressados", pensou ele. Um psiu, psiu foi ouvido ao seu lado e ele notou que o contra regra estava indicando um microfone. Trêmulo, Juan pegou o microfone e o tirou do pedestal.
Decidido, Juan falou.
Desejou boa noite aos convidados e o silêncio prevaleceu. Pensou ele, como poderiam todos aqueles engravatados e pomposas ficarem em total silêncio com um rapaz de barba e cabelos mal feitos, mal vestido e fedendo a cigarro com um simples e singelo boa noite. Em voz baixa, enfraquecida pelo pavor, Juan continuou a sua prosa.
Após se apresentar, dizendo seu nome e desejando as boas vindas, voltou para perto do banco. E decidido, ele se sentou novamente.
Mesmo com breu absoluto na platéia, Juan ficou apreensivo. Era nítido, por mais oculta que estava pelo escuro, o branco dos olhos daqueles que desaprovam e retardam a geniosidade humana.
Decidido, Juan suou e tremeu.
O nervosismo invadiu sua mente pelos olhos. Alguns, mais apressados, começaram a chiar e vaiar. Outros, mais discretos, negavam e reprovavam aquela situação com a cabeça. Mas, ainda existia alguns que simplesmente entendiam e esperavam.
Pensou se era o mais certo, desistir depois de ter chegado até alí. De subir aquelas escadas de madeira, de olhar como era a visão dali de cima, visão essa que queria ter tido desde criança, quando assistia os seus ídolos interpretando poesias e destilando arte através dos seus instrumentos e vozes.
Pensou se era aquela a sua única chance, o seu único tiro que teria que acertar o alvo. Era. Era realmente a sua chance, a sua escolha, sua paixão.
Decidido, Juan tocou.
E ninguém, nunca mais, chegou a duvidar de sua capacidade.

Um comentário:

Anônimo disse...

por que decidir nunca é tão simples? por que sempre na hora que precisamos falta a coragem? mas de repente ela volta e nos faz fazer coisas que depois nós mesmos duvidariamos. por que tem que ser assim? quem me dera ter coragem de mostrar pra todo mundo a minha capacidade. quem sabe um dia eu tomo coragem!
ual, que comentario enorme, rs desculpa.
e adorei o texto !