quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O Desafio

Sentado na minha cadeira de balanço, do lado de fora da minha humilde casa de campo, vou preenchendo meu cachimbo com tabaco, enquanto fumo um cigarro de palha. Tusso sem parar, quase perco o folêgo - as consequências de viver na cidade grande.
Não que eu seja uma pessoa que se irrita facilmente, mas existem coisas que me tiram do sério. A vizinha e seu cachorro são dois exemplos vivos, que muito bem poderiam estar mortos.
A vizinha, uma senhora um tanto quanto velha que costumam chamar - por educação ou caridade - de jovem senhora, acorda todos os dias cedo e liga seu rádio nas estações AM.
Veja bem, uma velha que talvez já tenha idade com três unidades, óbviamente ela é surda. Consequentemente seu rádio acorda toda a vizinhança.
O cachorro, que tem um nome que eu me recuso ao menos saber qual é, anda, fala e dirige um carro todo barulhento. Ah, ele também é conhecido como "o filho de 28 anos da vizinha".
Acendendo meu cachimbo e dando umas tragadas, vou olhando por trás da cerca, voltando ao passado pífio que vivi.
Meu sonho era ter uma fortuna nada mensurável. Ser um magnata que poderia escolher o que quisesse ter dentro de casa, inclusive a mulher de cada dia. Uma pra segunda, outra para terça, e assim por diante. Era jovem, era ganancioso, queria crescer na vida, queria estudar, me formar, abrir minha empresa com meus grandes amigos inteligentes da faculdade e me tornar o novo membro da família Votorantim.
Em suma, eu era mais um babaca brasileiro.
Perdi finais de semana em um escritório buscando a idéia perfeita, o elemento que faltava para o meu futuro enriquecedor.
Meus amigos? Bom, eles fizeram tudo que podiam na época. Beberam, no total, mais de 13.568 litros de chopp, fumaram mais de 1.108 quilos de maconha, sem contar as diversas persiguidas cheirosinhas - ou não - que comeram durante toda a faculdade, e depois.
Resultado: nunca vi a cor do dinheiro que sonhei, perdi 4 anos de faculdade em uma sala pequena, miserável e cheirando a mofo, além de ter me casado cedo com uma mulher que eu tenho vergonha de chamar de mãe dos meus filhos.
Ele se foi faz alguns anos. Na verdade, faz 3 anos, 8 meses, 16 dias e algumas horinhas. Ainda me lembro do churrasco que fiz para mim, em comemoração.
E agora eu estou aqui, sozinho, na casa de campo fumando meu cachimbo. Agradecendo pela vida medíocre que tive.
Obrigado Deus, se é que você existe.

Um comentário:

Paula disse...

Ta fumando crack?

Amoa palavra "pifio", ta no top 3 melhores palavras.

bjbj