sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Apresentação dos Fatos Humanos - parte III

Meus ouvidos estavam tampados, o ar se perdia no último pedaço de folêgo que estava em cima da mesa, meus olhos confundiam o que era luz e escuridão, numa visão nada em foco da vida.
Podia ouvir, bem ao fundo, o barulho daqueles seres passando por minha volta. Estavam eles preocupados com a minha aparência ou apenas achando que eu era apenas mais um pedaço da natureza? Tanto faz, pois eles ainda assim não puderam me ajudar.
Quantos dias será que passaram? Ou será que foram anos? É estranha a sensação do ir de encontro com a morte, em cima de um barco individual no Rio da Desvida. E olha que nessa situação a correnteza vinha de encontro com meu caminho, tentando ao máximo me levar de voltar. O barco era minha coragem, a correnteza o meu consciente lutador.
Não sei quantos dias, meses ou anos. Para mim foi ontem, mês ou ano passado; para mim foi agora.
Se fecho os olhos, quando posso, ainda vejo a luz que iluminava o "lá fora" que não vejo mais. Sinto meu corpo indo embora, perdendo o peso, o compasso... a vida. É como se você fosse deitado em uma grande nuvem que te leva pelo mundo, flutuando pelo céu, sobre os mares, a natureza, as pessoas.... os pensamentos.
É então que, quando depois de muito tempo os sentidos amorteceram, sinto meus pés coçarem. Sinto meu corpo tomado por uma força que me ergue. Estou subindo, estou flutuando, estou no ápice e a luz do sol já começa a cegar meus olhos virgens.
Ouço o barulho cortar fortemente o vento lá fora, vejo e sinto o calor do sol e da vida do outro lado, vejo gaivotas passando.... a luz, o calor.... o ar!
Respiro fundo, tomo folêgo que já nem conhecia mais. O ar invade meus pulmões, olho para baixo e vejo um grande e negro globo afundar aos meus pés. A âncora se foi e agora eu já posso voltar à superfície.

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