Não há muito que escrevi uma carta para você. Se me lembro bem, faz uns cinco meses, mas não lembro bem o motivo de não a ter colocado no correio. Talvez fosse o medo, talvez fosse a preguiça, não sei. Eu não me lembro.
Mas naquela noite em que rabisquei as folhas brancas, tinha acabado de ler um livro, de fazer um telefonema não atendido e me lembrei de velhos amigos. A saudade apertou, mas nem mesmo você derramou uma lágrima dos meus olhos.
Me recordo de ter reclamado da vida, de ter indagado Deus e ter feito brincadeirinhas com as minhas dúvidas e fé. Fiz perguntas das quais você jamais conseguiria responder, e outras que já sabia a resposta mas esperava ouví-las com seu tom de voz.
Filosofei sobre o agora e como o ontem veio se tornar assim tão hoje. Ele era tão diferente naqueles dias... Contei meus anseios para o emprego perfeito, o medo de não ser assim tão conciso no que falo, como agora estou sendo. E nessa hora, me lembro bem de abrir o armário de copos e enchê-lo com aquela vodka terrível. Argh! O sabor amargo da insônia.
Virei a folha e continuei, é claro. Não seria, aquele dia, o menos prolixo e puxei o papo para as donzelas que não existem. Perguntei pra você se todos mereciam ser o Johnny da June ou o Lennon da Ono. Eu nunca me preocupei com isso quando você estava comigo.
Eu te amava, talvez ainda ame. Mas nunca tive a oportunidade de sentir tudo isso quando você esteve ao meu lado. E há dias, como aqueles em que dou risadas intermináveis, ou até mesmo quando bate uma saudade daquelas tardes de março, que sinto você do meu lado. E enquanto escrevo essa carta, que talvez nunca vá para o correio, me pergunto se você não está aqui comigo.
Amigos pedem para eu te esquecer, seguir em frente... viver a vida. Outros já pensam que você ainda está em mim, por mais que eu não possa vê-la ou sentí-la. Ao seu lado eu era feliz! Sempre soube, mas hoje tenho certeza.
Minha última carta era um texto de adeus.
Mas hoje sei que não quero você assim tão longe.
Volte de vez em quando, e não me mate em doses homeopáticas.
Um grande abraço, minha infância.
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