terça-feira, 10 de novembro de 2009

Pecadores

Há muito venho procurando os motivos, as causas de todas essas consequências banais. O efeito borboleta, efeito dominó, o circuito da bola de neve que rola do alto da montanha, crescendo a cada centímeto que passa, levando consigo tudo aquilo que sempre esteve preso a ela.
Eu procuro em cada canto, vasculho dentro de livros, nos e-mails antigos e até na minha mente devassada por imagens ocultas e sombrias. Mas não encontro nada! Me parece, e tudo indica, de que tudo fora varrido para debaixo do tapete, esse qual eu não possuo dentro de casa.
Já pensei em gritar, em berrar, em xingar e já os fiz de monte, mas é claro que de nada adiantou. O ser humano peca mais é na hora de resolver, ele deixa o mar puxar, ele fecha os olhos e sente o vento passar pra levar tudo embora. Mas o vento assim vai como volta, berrando, xingando e gritando.
Até que tentei me aproximar, chegar pertinho pra tentar descobrir, desamarrar o nó que fiz um tempo atrás. Mas nem me lembrava de que o nó fora bem dado e assim ficou até então. E o ser humano peca aí também, dando o nó para nunca mais esquecer, se esquecendo de que um dia terá que o fazer. O ser humano peca por ser inconsequente e falastrão. Maldito seja aquele que descobriu a fala e o ódio, a cabeça quente e o entusiasmo.
Procurei novos lugares, quis me mudar, fugir para nada longe, apenas para o outro lado do rio. Quis atravessar a ponte, pensando em talvez nem dar tchau. Arrumar as malas em um dia em que estivesse sozinho, deixar um bilhete singelo agradecendo tudo e todos, porém levando no coração a maldita vontade de que um turbilhão os atingisse na próxima primavera. O ser humano peca é na vontade de vingança, é na sede pelo rancor, na fome pelo desespero alheio e no anseio pelo egocentrismo absoluto.
Sentei na mais bela biblioteca, abri livros dos mais conceituados autores e anotei frases de impacto que poderiam me trazer respostas para as perguntas que me atordoavam. Implorei por uma resposta, clamei por uma atenção, mas o autor do livro sequer notou a presença do meu problema. O ser humano peca é na hora de ser gentil e distribuir favores.
Para ele, o favor é como moeda. Você só entrega um na troca de outro. É o puro capitalismo da banalidade. Gentilezas e bondades nunca vem de graça, pois se é medíocre demais pensar em uma bobagem como essa.
É então que eu me canso de procurar e me sento no sofá do nono andar. Acendo aquele já esperado cigarro noturno e reflito. O ser humano peca e sempre vai pecar. Mas é para isso que o próprio ser humano inventou o perdão: para que a economia de gentilezas, bondades e afetos continue girando e, assim, no final, tudo acaba em risadas na mesa de um bar, recheada de cervejas.

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