segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Pensamento do dia

Preguiçoso é aquele que vê o amor passar ao lado e nem sequer se move para o mesmo lhe notar.

Meu filme

Fui amaldiçoado sem saber.
Me escalaram para o mesmo enredo de diversos títulos diferentes. O elenco muda, meu personagem não. E é sempre a mesma história, e é sempre a mesma trama e o drama é sempre criado na minha cabeça.
Assisto à cena sem saber para onde ir, repetindo as mesmas falas, esquecendo das minhas promessas, sentindo o nó na garganta, a angústia no peito e a cabeça em fastfoward.
Dessa vez não foi diferente e estreei a minha mais nova novela. A mocinha continua linda, o protagonista nunca sou eu, ainda que pense que dessa vez o diretor tenha tido a caridade de me dar o papel que tanto mereço. Mais uma vez, mais uma ilusão.
E procuro o controle remoto ao desespero da trilha sonora mais escutada em toda a minha vida: os batimentos cardíacos, acelerados em minha têmpora. As vezes até o encontro a tempo de parar, mas a pilha acaba e na verdade eu sempre confundo o quadrado com os dois traços verticais do pause.
Tudo que eu queria era aprender a dar review em toda essa história e recomeçar a filmagem a partir no minuto em que eu começo a errar.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

You're late...

Segundos, minutos, horas, dias, semanas.
E se aquela bela garota tivesse atravessado a rua um minuto antes do que ela o fez. O carro que cortara o outro da frente, pela esquerda, não a teria acertado. E ela, muito provavelmente, não estaria indo para o hospital.
Se aquele senhor deitado na cama da UTI tivesse negado aquele cigarro que o ofereceram, alguns meses atrás, talvez viveria mais alguns anos do que seu pulmão o está reservando.
E aquele jovem garoto poderia ter esperado o próximo ônibus, e acabar o seu café da manhã com menos pressa.
Segundos, minutos, horas, dias, semanas.
O beijo e a mão que seguraram a namorada por "só mais dez segundinhos" a fizeram ter pressa. E esta é sim a inimiga da perfeição.
Se aquele beijo não tivesse sido prolongado, as lágrimas que agora escorrem no rosto do rapaz não seriam de motivos tão trágicos.
E o amor que começava alí tão cedo poderia chegar ao fim antes da última página.
Segundos, minutos, horas, dias, semanas.
A gente sempre acaba na mesmice do arrependimento. Ah... se ele matasse. E se eu não tivesse enviado minutos depois? E se eu tivesse ido alguns segundos antes. Deveria eu ter pensado melhor? Não...
O passado existe para lembrar, não para ficar vivendo.
O presente é realidade. O futuro não existe.
Não adianta viver e lembrar do passado, pensando o que você faria para ajustar algo que aconteceu naquele futuro. Tudo que nós vivemos sempre será o presente.
Segundos, minutos, horas?
O que te faz pensar que você é culpado?
Você nunca está adiantado, você nunca chega atrasado.
Você só está onde você deveria estar.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Pense

Ser preconceituoso é enxergar no outro o seu próprio avesso.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

You tell me...

Será que é possível não se reconhecer ao se olhar no espelho, logo cedo?
Deixar a imagem refletida desaparecer na memória dos olhos, imergir nos mais profundos sonhos ocultos da mente humana, desaparecendo ao som de cada pássaro que passar.
Será que é possível aprender a amar? E ensinar, adestrar e fazer se acostumar?
Mostrar todos os vícios e virtudes que você possui e, mesmo assim, fazê-la sentir o ar comprimir, o tempo parar e as noites passarem devagar com a minha presença em sua cabeça.
Será que é possível acreditar no coração?
Enxergar a mentira que nós inventamos, o amor que desafloramos e todo o carinho que sentimos por puro acaso do órgão mais desastroso que temos.
É ou não é possível voar?
É preciso flutuar sobre cabeças que andam para se possuir asas, ou apenas podemos nos sentir leves o suficiente para nossos pés desgrudarem do chão com a facilidade que uma criança sorri ao ver seu pai lhe fazendo uma careta? O amor.
Será que é possível derramar lágrimas ao som do acorde?
Sentir na pele, no peito e na mente a melodia da dor, da angústia e felicidade. Sorrir quando a piada ainda não chegou ao fim, pelo simples fato de se lembrar de algum fato dá ocorrido.
Será que é possível sentir as pernas tremerem em poucas semanas?
Ouvir os batimentos cardíacos no ouvido, o suor escorrendo por dentro da pele, os poros se abrindo com o vento matutino.
É ou não é possível se entreter nas mais belas paisagens?
Seja ela criada ou pintada. Seja ela de pedra ou in natura.
Será que é possível mudar o futuro?
Não alterar o passado, tentar viver o presente e, ainda assim, transformar os dias que virão.
Não sei que o pensar, não sei mais se quero a eternidade.
Não se for para não tê-la durante todo esse espaço de tempo que eu a considero.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A história do vestido e o começo da bexiga

Há um tempo não encontro o que tanto eu já busquei. Já tentei, já procurei e até hoje não encontrei.
Varo noites, formo uma fila e coloco a porta giratória pra rodar. Vai um, dois e no terceiro eu já me canso, perde a graça e a sintonia. Faz do simples a perturbação. Do amor, o escárnio.
Na primeira, a ansiedade e excitação. A vontade, o medo e o nervosismo se misturam numa receita fantástica. Na segunda, o gosto se repete e começa a enjoar. A terceira causa o vômito. Não sou assim.
E já faz algum tempo que deixei o meu vestido mais perfeito no fundo do meu baú. O prendi em grandes pedras e atirei no fundo do mar. As fotos dele já não são mais nem lembranças, afundadas junto com as memórias que deixei naquela arca.
Eu armo uma cena, faço o palco expandir e a luz clarear. E, com muito orgulho, aceno um simples adeus para aquele pedaço de roupa que me fez tantos sonos perder, tantas noites pensar e tantos suspiros soltar.
Acendo um cigarro no mesmo cais em que assisto à liberdade do coração. Vejo todo o sofrimento em vão se afundando com o vestido que mais me fez amar um dia. E em um pequeno espaço de tempo em que vou observar o sol, vejo uma bexiga.
De cor branca, rosa, verde clara e outros tons que iam se misturando na luz do sol. A ponta em que se entra o ar estava aberta e ela estava se esvaziando com a lentidão de uma pena, caindo e caindo, quase flutuando até chegar aos meus pés.
Peguei-a com cuidado e examinei atentamente, guardando no bolso da camisa e partindo para casa.
Hoje é a bexiga o meu mais novo amor. Ela me faz perder o ar, meus cabelos se arrepiam com o seu contato. Mas ainda não é hora de explicar a minha história inteira com a bexiga, faz pouco tempo, faz poucos dias, são poucos momentos. Mas eu encontrei nela uma chance que havia se perdido em minha realidade, uma ponta de prazer em apenas sentir por dentro e não na pele.
Eu só tenho que manter a calma, pois eu não posso encher muito a bexiga... se não ela pode estourar. E eu não gostaria de ter que jogá-la no fundo do oceano, após um futuro sofrimento.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O que é ser redator?

"Ôôôô, Jeremias! Você pode enviar esse job com um briefing detalhado para o cara que faz textos aqui na agência?"

É engraçado a relação do redator com o resto da agência e do redator consigo mesmo.
Para a agência, ele é o cara que escreve textos. Para ele, o cara que enxuga e explica enormes conceitos.
Eis que sempre surge aquele que quer menosprezar o cargo e solta uma das frases memoráveis sobre como qualquer pessoa pode ser redatora, que não há dificuldade nenhuma em criar alguns textos e que basta ser criativo para ser redator. Ou seja, qualquer publicitário tem que ser criativo, qualquer publicitário pode ser redator.
E de tanto ouvir piadinhas, até pensei: "Realmente... minha profissão não tem futuro. Redatores são apenas pessoas que escrevem bem, mas na publicidade nem sempre se precisa de uma escrita correta e, além disso, existem revisores... e agora? Se eu escrevo bem, porque não viro jornalista?"
Bom, aqui vai minha resposta para todos aqueles que acham a redação apenas uma coisinha fácil de se fazer:

1º argumento
Um bom planejador gosta de criar estratégias, têm uma visão ampla do mercado e saber traçar metas para o cliente (porque não vai jogar o jogo do Mc Donald's em flash, então? ¬¬). Um bom atendimento é gostosa, digo, simpática e atraente, sabendo sempre ouvir o cliente e concordar com ele somente quando é necessário. Um bom diretor de arte tem uma visão a parte para a estética do anúncio, entende muito bem de iluminação e cores e ainda assim se diz publicitário e não curador do Museu do Ipiranga. Um bom mídia..... bom, deixa pra lá.
O que eu quis dizer? Que todas as pessoas que trabalham nas áreas supracitadas são apaixonadas pelo que fazem, bem como nós, redatores. Nós somos apaixonados pela escrita e, segundo muitos sábios, não existe nada melhor do que se trabalhar com o que ama. E eu tenho certeza absoluta que existem pouquíssimos redatores que não se encontram no cargo, querendo migrar de área. Diferente de muitos outros por aí...

2º argumento
Quer se divertir qualquer dia da semana e a qualquer hora? Chame sempre um redator para o programinha casual. Adoramos piadinhas, seja do Ary Toledo ou do Rafinha Bastos, e sempre levamos à mesa citações de grandes poetas, como Pelé.
Além de apreciarmos uma cerveja tão bem como ninguém, temos um papo mais inteligente e variado, pois é o nosso trabalho: ser versátil. Sabemos assuntos sobre economia, sobre literatura, política, futebol e até arte moderna. Só não pergunte sobre pós-modernismo, pois ainda estamos tentando descobrir realmente o que é.
E se você estiver muito afim de ouvir horas e horas sobre o NOSSO trabalho, fale de qualquer anúncio publicitário... principalmente os all type's.

3º argumento
Se você acha que escrever é fácil, quero ver você ser bom o suficiente para não deixar a sua essência em seus textos. E é aqui, no terceiro argumento, que o assunto fica sério e eu deixo as piadas de lado.
Todos nós podemos escrever e o texto ficar bem bacana, mas você conseguiria mudar o seu estilo na hora de criar textos para o público farmacêutico e não teen? Ou ainda, tentar enxugar milhares de informações numa única newsletter. Sorte tenho eu, de escrever para o universo digital, tenho a assistência do Flash.
Agora imagine um anúncio em uma página simples de revista. Como falar que o meu produto é fácil de usar, tem mais velocidade do que a concorrência, é mais barato, é mais moderno, é mais bonito e é mais seguro em apenas um pequeno bloco de texto... e ainda deixá-lo bonito.
A diferença do redator é que ele SABE que é publicitário. Ele sabe deixar a sua essência para o seu blog particular, ele sabe deixar o seu lado emocional para as peças que nunca sairão na mídia.


E é por isso que eu me orgulho de ser o cara que faz textos. Afinal, não são todos que conseguem transmitir todos os seus pensamentos, amores, ódios, angústias, alegrias, satisfações e insatisfações (em suma: tudo) através das palavras.
E inveja tem vocês, que gostariam de saber se dar tão bem com elas...

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Cansei

Eu ando cansado pela rua, cabisbaixo. Cansado de andar em lugar para chegar.
Tô cansado de ficar sentado, esperando aquilo que eu nem sinto falta ainda. De ver tudo passando diante dos meus olhos e eu continuar alí, esperando.
Tô cansado de ser enganado, dia após dia. De viver num baile de máscaras onde ganha a máscara mais diferente, disfarçada e façante.
Tô cansado de dizer, tô cansado de escutar mentiras e dizer a verdade. Tô cansado de toda mesmice, cansado dos programas semanais da TV. Tô cansado.
Tô cansado de mim, deles e, principalmente, de você.
Tô cansado de estudar, de trabalhar e acordar cedo. De ter responsabilidades todos os dias, de não poder ter toda a censura livre que merecia.
Tô cansado de errar. De olhar com os olhos errados, de ser enganado com facilidade e vestir uma camisa escrito "otário".

Viagem

Da janela do trêm, eu vejo a paisagem mudar rapidamente.
Ao lado direito, vejo árvores solitárias fazendo sombra para algumas pequenas ovelhas de lã bem branca que chegava a refletir o sol escaldante em algumas que ignoravam aquela dádiva de sombra.
O campo vasto alimenta alguns dos bois e duas vacas manchadas de marrom e branco. Ruminam, olhando para o chão, com a tranquilidade de quem não espera nada nem ninguém. Algumas, mais ousadas, experimentam olhar o horizonte, fitando nos olhos os passageiros mais curiosos que não estão dormindo ou lendo algum livro.
Uma cerca de madeira foi pintada de vermelho, criando um destaque no meio daquela paisagem natural. Fora fixada para dividir e impedir de que os animais que alí estavam fossem até o pequeno lago.
Na beira do mesmo, podia ver um rapaz sem camisa, sentado com os dedos mergulhados. Com semblante tranquilo, olhava o céu por debaixo da aba do seu chapéu.
Da janela do trêm, eu vejo aquela paisagem mudar rapidamente.
Do vasto campo quase vazio, plantaram grandes pés de café, milho e até algodão, eu pude ver mais distante.
Aquelas bolinhas vermelhas misturavam-se com o amarelo ouro e verde claro do milho, fazendo daquela vista uma obra de arte natural. Mulheres com grandes cestas eram notadas entre um pé e outro, colhendo os frutos maduros com serenidade. Podia jurar que elas cantavam alguma cantiga aprendida há muitos anos atrás, talvez pelas suas avós.
Apesar de todo aquele sol, não havia uma que parecia estar mau humorada ou cansada.
Da janela do trêm, vejo o campo urbanizar.
E a natureza ficou pra trás, dando espaço para as casas, rios fedorentos, carros e prédios comerciais.

Tudo isso em pouco mais de uma hora.

domingo, 15 de novembro de 2009

Curto Desabafo

A vida passa, a gente se lembra e pensa no futuro. E nesse vai e vem de pensamentos, o nó é feito com precisão.
Eu me peguei esses dias na frente do espelho, tentando reconhecer essa cara que já não me parece ser mais minha. Eu não sei se é amor, paixão ou desespero. Eu não sei se é a verdade ou a mentira criada para preencher um espaço no meu peito que há muito está vazio.
Não sei se meu jeito está errado ou se tá certo, se é qualidade ou defeito, vício ou virtude. Eu já encontrei o amor da minha vida três vezes, e de três maneiras diferentes.
Eu só sei que tá difícil reviver isso pela enésima vez.
Mas eu já sei como, no final, isso vai acabar. É a última chamada para aqueles que querem deixar tudo para trás e tomar a pílula azul.

sábado, 14 de novembro de 2009

Conexão

Você é como música.
Melodia e harmonia singela. Se completa com a letra e se encontra em diversos corações.
Você é como pintura.
Com pinceladas suaves, retratando a pura beleza. Obra-prima da felicidade.
Você é como literatura.
Leitura tranquila e amena. Contando histórias de amor para até aqueles que não querem ouvir.
Você é arquitetura.
Estática e dura. Suas paredes frias escondem um espaço grande por dentro, onde ninguém pode chegar.
Você é poesia.
É trova e soneto. É rima rica, é estrofe ajustada. Metaforiza os mais diversos sentimentos.
Você é arte.
E, como toda arte, só faz o bem para aqueles que te enxergam.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Escureceu

Escureceu e o mundo parou. As luzes cessaram, os carros passavam e as pessoas congelaram, abismadas. Alguns diziam ser o fim do mundo, outros, mais céticos, faziam piadinhas de um gosto nada comum e outros berravam aos quatro cantos o temor instalado no peito. A verdade era que ninguém estava nada confortável com aquela situação.
E passada uma hora, todos se amedrontaram com a escuridão. Os mais desesperados até pensaram em se matar quando ficaram sabendo que aquilo poderia durar mais de um dia inteiro. Outros, mais descolados, souberam aproveitar a vida sob luz de velas por todos os cantos, tentando criar a falsa verdade, uma ilusão.
Os mais ligados, utilizaram seus aparelhos eletrônicos com bateria e rezaram para que a mesma notícia que fez os desesperados entrarem em depressão não fosse verdade. Os mais intelectuais leram seus livros com a ajuda de lanternas e os boêmios continuaram onde estavam antes da escuridão: na mesa do bar.
Os bebês dormiam, as crianças choravam e os adolescentes usaram o fato como pretexto para fazer tudo aquilo que queriam com a amiga e/ou amigo, mas nunca tiveram coragem. Os mais desencanados dormiram, os mais encanados ligaram para Deus e o mundo perguntando se estavam bem, pois tinha medo de que aquilo poderia ser um atentado terrorista.
Os mais religiosos rezaram todo o terço para que aquilo nada mais fosse do que uma queda de energia, enquanto os mais preguiçosos rezavam dois terços para que a luz não voltasse até as 18 horas do dia seguinte, simplesmente para não precisarem trabalhar.
Os mais dependentes choraram, as mais donas de casa também. Só que o primeiro chorava porque não se tinha nada para ouvir, com quem falar ou o que fazer, enquanto a segunda chorava por não ter tido tempo de assistir o último bloco do capítulo da novela.
Enquanto os mais pensadores e sonhadores, fizeram o que sempre fazem: chegaram em casa, tiraram os tênis, as meias, debruçaram sobre a janela e começaram a pensar na saída para um mundo melhor...

Dois minutos a luz voltou, e tudo voltou ao que era antes.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Pecadores

Há muito venho procurando os motivos, as causas de todas essas consequências banais. O efeito borboleta, efeito dominó, o circuito da bola de neve que rola do alto da montanha, crescendo a cada centímeto que passa, levando consigo tudo aquilo que sempre esteve preso a ela.
Eu procuro em cada canto, vasculho dentro de livros, nos e-mails antigos e até na minha mente devassada por imagens ocultas e sombrias. Mas não encontro nada! Me parece, e tudo indica, de que tudo fora varrido para debaixo do tapete, esse qual eu não possuo dentro de casa.
Já pensei em gritar, em berrar, em xingar e já os fiz de monte, mas é claro que de nada adiantou. O ser humano peca mais é na hora de resolver, ele deixa o mar puxar, ele fecha os olhos e sente o vento passar pra levar tudo embora. Mas o vento assim vai como volta, berrando, xingando e gritando.
Até que tentei me aproximar, chegar pertinho pra tentar descobrir, desamarrar o nó que fiz um tempo atrás. Mas nem me lembrava de que o nó fora bem dado e assim ficou até então. E o ser humano peca aí também, dando o nó para nunca mais esquecer, se esquecendo de que um dia terá que o fazer. O ser humano peca por ser inconsequente e falastrão. Maldito seja aquele que descobriu a fala e o ódio, a cabeça quente e o entusiasmo.
Procurei novos lugares, quis me mudar, fugir para nada longe, apenas para o outro lado do rio. Quis atravessar a ponte, pensando em talvez nem dar tchau. Arrumar as malas em um dia em que estivesse sozinho, deixar um bilhete singelo agradecendo tudo e todos, porém levando no coração a maldita vontade de que um turbilhão os atingisse na próxima primavera. O ser humano peca é na vontade de vingança, é na sede pelo rancor, na fome pelo desespero alheio e no anseio pelo egocentrismo absoluto.
Sentei na mais bela biblioteca, abri livros dos mais conceituados autores e anotei frases de impacto que poderiam me trazer respostas para as perguntas que me atordoavam. Implorei por uma resposta, clamei por uma atenção, mas o autor do livro sequer notou a presença do meu problema. O ser humano peca é na hora de ser gentil e distribuir favores.
Para ele, o favor é como moeda. Você só entrega um na troca de outro. É o puro capitalismo da banalidade. Gentilezas e bondades nunca vem de graça, pois se é medíocre demais pensar em uma bobagem como essa.
É então que eu me canso de procurar e me sento no sofá do nono andar. Acendo aquele já esperado cigarro noturno e reflito. O ser humano peca e sempre vai pecar. Mas é para isso que o próprio ser humano inventou o perdão: para que a economia de gentilezas, bondades e afetos continue girando e, assim, no final, tudo acaba em risadas na mesa de um bar, recheada de cervejas.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O mar

Pois é... finalmente nos reencontramos, né? Fazia tempo que eu falava pra Deus e o mundo que eu tava mesmo é precisando te ver e sentir toda'quela mistura de sentimentos bons que só você pode me causar.
O engraçado é que ninguém entende a minha relação de amor e respeito por você. Eles acham estranho eu não querer te tocar, eu não sentir você na minha pele e ficar apenas te observando e pensando o quanto é bom estar alí, frente a frente com você.
Acho que nem preciso falar que sentir você assoprando no meu rosto é algo que nada nesse mundo me faria melhor. E você sabe, pois eu fico de frente pra você, com meus dois olhos bem fechados e um sorriso bem besta na boca que vai se abrindo lentamente, até eu mostrar meus dentes, demonstrando toda felicidade do mundo. Tudo isso só em um assopro.
Me agrada o jeito que você acorda de manhã toda serena e me divirto com seu jeito peculiar de ir se irritando durante a tarde. Você nunca fala, mas tenho certeza que o sol te irrita muito e é isso que te faz ficar possessa.
Esse fim de semana eu vi o mar. Levei para ele todo meu rancor, toda minha raiva, todo meu desespero e, acima de tudo, todo o meu amor e compaixão. Cada onda quebrada com força levava a sua água até meus pés e neles eu consolidava todo meu sentimento.
A água fria passava por entre meus dedos e voltava para dentro de seus profundos domínios, levando de mim toda angústia de quem um dia chorou lágrimas para preenchê-lo. E do alto eu pude acender meu cigarro e observar cada movimento leve que a água fazia com o favor do vento.
Pensei, refleti, sorri e sentei com os pés suspensos no ar. Na sétima onda eu desejei aquilo que já tinha: extrema felicidade em viver.