quarta-feira, 31 de março de 2010

Pra fazer bonito na avenida

D'outro lado da avenida, vendo carros e baratas, debaixo do vermelho do tráfego e em cima da sujeira, ele deita.
Entre rezas de Deus e cigarros do Capeta, ele revive. Com fome, com sede e com ódio, mas também com muito amor nos olhos.
Repudia a pena, exalta a compaixão e compreende a humildade.
Atravessando a mesma avenida, fora da faixa, ela acorda. Cara inchada, remela no canto do olho e café da manhã na mesa.
Entre o banho quente e a descida de elevador, ela vive. De saia comprida, blusinha branca e cabelos presos.
Passa o perfume, já na porta de casa e solta os cabelos.
Ela dança no salão dos transeuntes e ele assiste ao espetáculo. Ela sorri só para fazer charme e ficar bonito na avenida.
E, no fim, ele aplaude.
E ela agradece.

Um comentário:

Anônimo disse...

muito bom, cara. muito bom.