domingo, 3 de maio de 2009

O Vale

Há tempos que não visitava aquele vale. Perdido no mundo, andava pelos becos escuros que a vida havia me prometido, tempos atrás. Mas agora eu tinha arranjado um tempo para mim e resolvi seguir caminho até o vale.
Na montanha mais alta daquela cordilheira, havia uma depressão que, não sei como explicar, criou-se um vale ali no meio. Entre tantos tons acizentados, lá estava um verde escuro ganhando destaque. O buraco mais profundo não fertilizou, dando espaço para um pequeno lago que alí se fez com tantas chuva. E justo hoje era dia de sol.
Ah! Meu vale, todo e tão só meu. Após subir por uma montanha íngrime e dificultosa, com grande esforço apoio minha mão na pedra e tomo impulso para subir, escalando a última parte da montanha, chegando ao topo, vendo do outro lado aquela explosão verde. Seu lago reluzia um dourado, reflexo da luz do sol que alí mirava todos os seus raios.
O sol era escaldante e eu estava alí, parado, apenas olhando o que era meu bem maior, naquele instante. Tiro minha camiseta e a coloco no ombro esquerdo. Tiro meu óculos e o deixo no chão, para melhor apreciar a vista que o vale me proporcionava. Sento na pedra quente, deixando meus pêlos da perna confortáveis com o calor obtido com o chão. Cruzo os braços em cima dos joelhos e acendo um cigarro, olhando todo o vale, solitário e apaziguador.
Penso no quanto as pessoas se sentiriam melhores se estivessem alí, no meu lugar. Quantas pessoas deixariam o ódio para trás, ao ver tal beleza que era apenas vista com meus olhos. A cada trago, uma lembrança boa me vinha à cabeça. A cada fumaça, um sorriso besta e incrédulo.
Levanto e pego uma pequena pedra. Com toda força que posso receber naquele momento, atiro a pedra em direção ao vale e apenas vejo uma pequena parte do lago formando ondas circulares. Liberdade!
O declive liso, um barranco sem rochas afiadas, dava caminho ao vale. Com o cigarro ainda na mão, corro barranco abaixo, com uma sede insaciável pela vida. Grito sem medo de ser ouvido ou reprimido e desço sentindo todo aquele vento invadindo cada célula do meu corpo, cada poro da minha pele sendo invadido.
Atravesso o matagal sem medo de ser arranhado pelos galhos mais baixos. Chego até o lago e paro. Encosto minhas duas mão no lago e mergulho-as, como um sapo indo se banhar. Com as mãos em forma de concha, deposito a água entre elas e dou um gole. Ah! A sede fora aniquilada!
Molho meu rosto, banho meus cabelos e me levanto. Dou um sorriso inigualável e tiro meus tênis e tomo distância. Pego impulso e corro, pulando estrondosamente no meio do lago. Sinto a água por todo meu corpo e ouço o barulho dos pássaros na superfície. Volto e respiro fundo.
Encontrei a paz.

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