sexta-feira, 1 de maio de 2009

A maré

Em noites de verão, via-se as águas batendo contra a parede do chamado "calçadão". Era a maré. Alta e furiosa, demonstrava todo seu rancor sugado por todos aqueles que nela encontaram os pés. Batia contra as pedras mais altas, logo alí no meio do mar. Sentia a dor de ter perdido alguém, o remorso de ter-lhes feito tanto mal. Um ódio a consumia enquanto as horas se passavam.
Em noites de verão, via-se a maré. O som gritando o nome dela se perdia em meio de tanto barulho causado. A raiva expandia-se conforme a lua chegava ao meio do céu, iluminando todo aquele sentimento deslocado que parecia arrancar-lhe o que não tinha, um coração.
A maré estufava as areias de água salgada, causando tremor em cada grão que era sufocado e não podia pedir por ajuda. A maré estava brava.
A lua ia caindo pelo horizonte, deixando o céu num tom roxo azulado. Deu espaço para o sol e a maré foi diminuindo. Pescadores já estavam com os pés nas mesmas areias assassinadas cruelmente minutos antes. Colocavam seus barcos na água e seguiam viagem pelo mar. A maré se acalmou com a luz irradiante do sol e não conseguia mais gritar.
Mais uma noite se passou e ninguém conseguiu escutá-la.

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