quinta-feira, 28 de maio de 2009

O velho moço

Sentado no banco de o que poderia ter sido algum dia uma praça, um senhor passa o dia observando. Curvado como um ancião, porém com a aparência nova, fuma um cachimbo longo e olha para o cenário deserto.
Espera por algo que talvez já lhe tenha passado a frente dos olhos por milhares de vezes. Talvez espera por algo que ainda não chegou, mas que há de chegar. Mesmo assim não importa, apenas fica sentado e esperando.
Esse senhor viu-se passar por muitos anos. Viu guerras e tratados de paz, viu os reis dando lugar para a posse de presidentes, viu o socialismo virar quase uma lenda mundial e ainda assim sua aparência não mudou.
Já deixou a barba crescer inúmeras vezes e já teve o cabelo grisalho. Já foi até careca, mas sempre lhe volta a aparência jovial. E alí sentado, vê tudo e todos passarem sem ao menos notarem sua presença.
Ele tenta chamar a atenção, acena e faz uma cena, mas são poucos os que sentam do seu lado e esperando junto ou por ele, em silêncio ou as vezes falantes. Ele pouco diz e pouco age, mas quando diz e age é com precisão. Ele é a paciência e o teste dela para os que alí passam.
Ele não é invisível, por mais que muitos ainda passem pelo deserto do que poderia ser chamado de uma praça e não o enxergam. Esses são os tolos que não querem ver que ele está logo alí, basta dar espaço e entender, e assim ele irá para o seu lado.
Ele não te convida para sentar. Simplesmente espera sua decisão de estar ao lado dele e de nada adianta perguntar, ele nunca vai responder alguma pergunta. Respostas não são ditas, são mostradas como num espetáculo.
E ele passa e continua igual. E ele passa e vai envelhecendo. Um moço velho. O velho moço.
O tempo.

2 comentários:

Anônimo disse...

que horror.

Klein disse...

que horror! =(