domingo, 19 de julho de 2009

A Rua

Ando por uma rua escura, numa noite calma. Sinto medo, mas não é o medo dos perigos que ela me oferece e sim o que me acompanha... Toda silenciosa e serena, hora e meia penso até que ela ficou pra trás, mas é questão de minutos para voltar a perceber sua presença.
A rua vazia me traz calma, apesar de estar com ela. Ao meu lado desde a hora que entrei na rua, não me deixou por um instante sozinho. Confesso que senti a sua falta quando estava longe, mas agora não aguento mais. O som ecoa entre as ruelas, rebatendo no chão de pedras a eferverosa voz sumindo pelo céu escuro. "Me deixe em paz!"
Não satisfeita em andar ao meu lado, chega um momento que ela segura a minha mão e caminha comigo pela rua. Eu falo, eu tento uma aproximação, mas ela gosta do vazio. Não fala nada e continua andando. Passo na frente de um bar movimentado. Garotos e garotas bebendo e conversando, rindo entre um cigarro e outro, se divertindo.
Eles me olham e pensam que estou sozinho. Ouço as vozes se dissipando no vento gelado daquela noite, baixo a cabeça e continuo o caminho. Subo o aclive da rua e sinto-a subindo em minhas costas. Ela está cansada e não quer mais andar, me dando a chance de falar pra ela ficar pra trás e descansar. Uma chance pra eu fugir.
Eu luto, eu tento esquecer, mas ela faz questão de assoprar no meu ouvido que está aqui. Enfim, chego em frente à porta e pego meu molho de chaves no bolso da calça. Encaixo a chave na fechadura e dou uma volta. Sagaz, entro rapidamente e fecho a porta com força, dando duas voltas com a chave, trancando-a pra fora. Liberdade.
Subo as escadas e deito minha cabeça no travesseiro. As luzes apagadas, a janela fechada, o frio lá fora chamando por mim. Fecho os olhos e sinto a respiração alheia.
Ah, solidão. Por que me acompanhaste tanto?

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