segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Mais que uma vontade...

Oito horas da manhã, o relógio apita duas vezes indicando que a hora foi trocada no viso do digital. Dou o sinal ao ônibus e entro, calmamente, ainda com sono e muita lentidão.
Alguns rostos de todo dia, alguns que talvez também sejam, mas minha memória curta não me faz lembrar todos. Um em especial eu me lembro, não pela fisionomia, nem pela beleza, nem por ser mulher, mas eu sempre acabo escolhendo alguém para analisar.
Tudo começou quando eu estava de pé, em frent a porta esperando para descer e ela estava alí, também na porta, quando um "vendedor ambulante" meio que mexeu com ela e eu achei graça. Não tinha visto nunca ela no ônibus, mas depois daquele dia eu passei a ver, sempre.
Ela nunca sorri e está sempre com uma amiga. Skinny jeans, allstar branco calçado e blusinhas justas e curtas, fazem parte de um estilo próprio criado por ela. O rosto branco e com algumas sardas dão um ar de ingênuidade que logo são inibidos pelos seus olhos, donos de um olhar forte e determinado.
Os cabelos são longos e em tom castanho escuros, com alguns feixes mais claros. Nunca os vi caído sobre os olhos, tampouco nos ombros, pois sempre estão presos à uma prisilha. Sua voz é desconhecida e por mais que ela esteja sempre a três ou quatro passos de mim, nunca a ouvi falar, pois está sempre com um fone nos ouvidos e não conversa com sua amiga, que por sinal descobri hoje que eram conhecidas por uma cena em que as duas participaram juntas.
Não sei seu nome, nem para onde ela vai, mas ela vai para algum lugar no caminho do ônibus. Ou não, as vezes ela pega outro. Não sei onde ela mora, nem qual o ponto próximo, mas não faço questão nenhuma de saber também.
Ela não namora, pelo menos não usa aliança, ou talvez não a use porque os dedos são finos demais, donos de uma fragilidade que são omitidas pela presunção de seus olhos. Ela me parece estar decidida de tudo e sempre sabe o que falar.
Cara de poucos amigos e de quem faz tudo para manter seu argumento vencendo.

Era mais que uma vontade de postar isso, era uma necessidade de falar o quanto somos tímidos e fechados no nosso mundo. Vemos as mesmas pessoas todas as manhãs, pessoas que a gente sabe que encontrará no caminho do trabalho, mas mal conhecemos e as vezes nem ouvimos sua voz ou não sabemos seu nome.
Estranho?

.... muito!

Um comentário:

Gabriela disse...

eu também penso nisso. o mundo é cheio de oportunidades, pessoas e pontos de vista diferentes. pessoas com as quais dividimos dias felizes, tristes, medos e aflições.. e que ao final de tudo; quando se pára para analisar; nem sabemos o nome.

acho bonito, acho engrandecedor.
adoro o que escreves.
beijo.