segunda-feira, 27 de abril de 2009

Num piscar de olhos

Vivo numa bolha. Uma espécie de "canto só meu", quentinho e silêncioso. De olhos fechados, sinto uma confortável onda de calor que me faz sentir uma paz. Eis que me tiram desse mundo faz de contas, e uma luz muito forte me cega. Choro muito e mal posso abrir os olhos, ouço vozes de todos os lados, um apito irritante me ensurdece e sinto um desconfortável e gélido toque em meus pés.
Abro os olhos e me encontro no chão, agachado em busca de objetos que me fascinam. Pego um deles delicadamente com as duas mãos e o chacoalho, soltando uma prazerosa gargalhada, fazendo com que ela me segure no colo e me beije o rosto. Durmo.
Abro os olhos e me vejo no banco do carro, com a mochila no colo. Minhas mãos suam e minha boca fica seca, transmitindo à minha volta todo meu nervosismo. Saio e me encontro com alguns semelhantes, todos meio nervosos e ansiosos pelo que nos espera. Pisco.
Abro os olhos e me vejo sentado em uma sala com muitas pessoas. Todas estão fazendo algum tipo de teste, algumas mordem o lápis, outras olham desesperadas para o relógio e correm os olhos por todas as folhas, na esperança de encontrar alguma sabedoria que lhes falta. Leio minha prova e fecho os olhos para pensar.
Abro os olhos e me vejo careca, na rua. Abordo os carros a cada semáforo fechado e em uma dessas eu encontro você. Toda linda, porém pintada e mesmo assim eu encontrei a beleza aonde ninguém mais talvez tenha encontrado. Pisco duas vezes, para ver se não era apenas um sonho.
Abro os olhos e me vejo com um diploma na mão. Ela vem e me abraça, chora no meu ombro e se diz muito orgulhosa. Você os abraça da mesma maneira e depois nos beijamos apaixonadamente, envolvendo nossos braços em nossos corpos. Você fala algumas palavras do meu ouvido e eu fecho os olhos para sorrir.
Abro os olhos e me vejo em cima de um altar. Você, lá na porta, vem toda de branco acompanhada dele, com um buquê de flores na mão. Posso ouvir entre os murmúrios o quão linda você está. Ela está alí, sentada, com os olhos cheios de orgulho. Uma lágrima de felicidade escorre rosto abaixo.
Abro os olhos e me vejo criança, duas para ser mais exato. Um menino e uma menina, brincando em um parque. Você está do meu lado, sentados na grama, sobre uma toalha. Rimos e sorrimos. Deito no seu colo e ouço você dizer o quanto me ama. Fecho os olhos.
Abro os olhos e me vejo deitado no chão. O céu está escuro e as ruas estão iluminadas. Chove em meu rosto e eu ouço gritos. Você está do meu lado, mas não consigo lhe falar. Ouço sirenes e vozes dizendo que talvez eu não sobreviva.
Será que eu disse para ela o quanto eu a amava? Alguma vez agradeci pela vida que me deu? E quanto a você... Você vai ficar bem? Cuidará deles direitinho? Eles mal tinham idade para entenderem o que era amar, por isso nunca os disse o quanto os amei.
Deveria ter dito mais vezes bom dia e obrigado, assim como te dizer todos os dias antes de dormir e assim que acordasse o quanto eu te amo e te amaria até o fim da minha vida. E cá está ele, o fim. E não pude dizer nada disso.
Sinto muito.

Um comentário:

Bi disse...

Farei meu comentário regado a café, mas por ora posso dizer: o melhor!